Marxistas - Textos Diversos XXXVII - Sobre a Crítica (Dialética) de O Capital (Benoit)
Hector Benoit - Sobre a Crítica (Dialética) de O Capital:
567 - (...) como escreveu L. Althusser, "as Ciências Humanas são, em cerca de 80%, falsas ciências, construções da ideologia burguesa..." Caso se considere como ciência - e a burguesia assim o faz - apenas conhecimentos positivos (afirmativos) sobre um determinado objeto, “O Capítal” não é uma obra científica.
568 - Para Marx, a contradição da luta de classes está no interior de cada objeto, de cada mercadoria e também no interior de cada obra teórica produzida no interior de uma sociedade de classes.
569 - O socialismo são homens livremente associados planificando a produção. Isso retira o véu que cobre a mercadoria.
570 - As categorias lógicas não funcionam independentemente da sua história. A mercadoria, o dinheiro, não são coisas naturais.
571 - Na dialética hegeliana, avançar é retroceder. Buscar o começo, a origem das coisas como fundamento. Esta concepção, na verdade, já aparece na dialética antiga, isto é, nos Diálogos de Platão: "O método dialético (dialektiké méthodos) é o único que superando (anairousa) as hipóteses se eleva até o próprio princípio (ep'auten ten archen)..."
572 - O dinheiro deixou de se tornar mero meio de troca para virar o fim último da produção. A fórmula geral do capital é D - M - D’ (mais dinheiro, graças à mais-valia)
573 - Quando surge o capital? Observa-se ainda neste primeiro parágrafo que o comércio mundial e o mercado mundial são datados de maneira precisa, começam no século XVI e com eles a história de vida do capital. (Logo, nunca entendo porque argumentam que só há “mais-valia” após a revolução industrial. O Capital surge antes?)
574 - … Ainda tratando da obra-magna de Marx, afirma: o desenvolvimento dessa análise lógica, a ampliação em espiral da análise das contradições, pouco a pouco, vai inserindo, cada vez mais, um maior número de determinações históricas, pouco a pouco, vai concretizando o abstrato e assim historicizando a lógica.
575 - Escreve Marx: "[o capital] só surge quando o possuidor dos meios de produção e subsistência encontra no mercado o trabalhador livre como vendedor da sua própria força de trabalho".
576 - Marx “observa quais as condições históricas para a existência da mercadoria, da circulação de mercadorias e do dinheiro”.
577 - Como se vê, sem fetiches hegelianos, na luta pela diminuição da jornada de trabalho, as classes aparecem enquanto postas e não como meramente pressupostas. Além disso, claramente, as classes aparecem enquanto postas em luta e não em inércia.
578 - A mais-valia sempre existiu. Qual a diferença no capitalismo? Neste, o processo de produção volta-se assim de maneira hegemônica para a produção de mais-valia.
579 - Objetivo da mais valia relativa nas palavras de Marx: "encurtar a parte da jornada de trabalho durante a qual o trabalhador tem que trabalhar para si mesmo, justamente para prolongar a outra parte da jornada de trabalho durante a qual pode trabalhar gratuitamente para o capitalista".
580 - A acumulação de capital pressupõe a mais-valia.
581 - Para surgir o capitalismo, não foi suficiente separar o produtor dos meios de produção. Leis terroristas agiram contra a liberdade. Como observa Marx, eles foram perseguidos por leis terroristas, açoitados, torturados e marcados com ferro em brasa.
582 - A expropriação dos expropriadores aparece como "a negação da negação".
583 - Sobretudo neste último caso (as experiências cooperativas), mas também na limitação da jornada de trabalho e em outras conquistas, realmente, a classe trabalhadora, em luta, realizava a crítica e a negação do modo de produção capitalista, crítica e negação do ponto de vista do futuro.
584 - As categorias da economia política burguesa (ou boa parte delas) só fazem sentido com a luta de classes amarrada. Enfim, não são naturais ou a-históricas.
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(Outro fichamento que fiz desse mesmo texto aí)
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Hector Benoit - Sobre a Crítica (Dialética) de O Capital:
511 - O primeiro de tudo é historicizar a riqueza. Essa imensa acumulação de mercadorias.
512 - No feudalismo, o servo sabia exatamente quanto do seu trabalho ia para o senhor. Não havia ocultamento.
513 - Marx, nos Grundrisse, já temia o idealismo: 'Em outro momento, antes de deixar este problema, será necessário corrigir a maneira idealista de expô-lo, que dá a impressão de tratar-se de puras definições conceituais e da dialética destes conceitos. Por conseguinte, deverá criticar-se antes de tudo a afirmação: o produto (ou atividade) torna-se mercadoria; a mercadoria, valor de troca; o valor de troca, dinheiro'. Em outras palavras: o leitor não deve chegar a conceber a idéia de que as categorias econômicas são outra coisa que representações de relações reais, e que a derivação lógica dessas categorias pode produzir-se independentemente da história. O capítulo final na verdade é o princípio. (...) Esta concepção, na verdade, já aparece na dialética antiga, isto é, nos Diálogos de Platão: "O método dialético (dialektiké méthodos) é o único que superando (anairousa) as hipóteses se eleva até o próprio princípio (ep'auten ten archen)..." (Platão, República, 533c-d)
514 - Hegel platonizou Aristóteles e muitos acharam, por isso, que a dialética de Marx poderia ser lida à luz da racionalidade não-contraditória (potência-ato-motor imóvel) de Ari. Isso é um erro segundo Benoit, só que o seu rodapé explicativo só contempla quem está por dentro da treta.
515 - Como o dinheiro sai de simples meio de troca pra se tornar capital? Marx vai buscar isso no capítulo IV. Se a fórmula da circulação de mercadorias era M-D-M, passa-se agora a analisar a fórmula D-M-D. O dinheiro, em vez da mercadoria, passa a ser aqui a finalidade do processo.
516 - Ora, como se vê, numa racionalidade estritamente analítica, não-contraditória, não se pode nem sequer acompanhar a explicação de Marx a respeito da origem da mais-valia. Assim é que, como mostrou Marx (no item 2 do cap. IV), o pensamento burguês procurava explicar a origem da mais-valia a partir ou da circulação ou da produção. No entanto, se estas forem pensadas como "etapas" separadas não se pode compreender o aparecimento do D’. Por isso mesmo, a oposição potência/ato de Aristóteles não serve para explicar a contradição em Marx. A transição da potência para o ato em Aristóteles se dá sempre no mesmo gênero e em tempos diferentes.
517 - Para a existência das categorias econômicas da economia burguesa são necessárias certas condições históricas. A história do pressuposto histórico das categorias lógicas. Assim, não foi sempre que houve gente disposta a vender a força de trabalho por ser apenas isso que tinha. Há algo, portanto, produzido.
518 - Afirma o operário que o capitalista pretende consumir em dez anos a sua força de trabalho que, em média, sendo utilizada racionalmente, pode durar cerca de trinta anos. Com isso, diz o operário, estou sendo roubado em 2/3 de minha mercadoria, e termina exigindo que a sua força de trabalho não seja consumida em excesso.
519 - Como se vê, sem fetiches hegelianos, na luta pela diminuição da jornada de trabalho, as classes aparecem enquanto postas e não como meramente pressupostas. Além disso, claramente, as classes aparecem enquanto postas em luta e não em inércia.
520 - O capitalista tem vários motivos para querer estender a jornada de trabalho (tempo útil das máquinas, maior produção de mercadorias etc.) e o trabalhador para diminuí-la (razões óbvias e a conservação no longo prazo da saúde para o próprio trabalho).
521 - Há luta de classes na Antiguidade? De certo modo sim: … Ora, Aristóteles passa todo o segundo livro da sua Política tentando refutar aqueles teóricos comunistas que (como Faleas da Calcedônia (1266 a 37-40)) sustentavam que a causa de toda revolução (stasis) era justamente a propriedade (ousia/ktésis/ktema); evidentemente, sobretudo, a propriedade da terra e conseqüentemente dos meios de produção. Assim, apesar das diferenças históricas, Aristóteles falava do ponto de vista do kalós kagathós e H. Arendt, provavelmente, do ponto de vista do seu correspondente contemporâneo.
522 - A mina do Laurium na Ática, que foi uma das maiores minas do mundo grego, deixou de ser explorada em 103 a.c., justamente após uma revolta dos trabalhadores escravos (cf. O Davies, verbete Laurium, p. 484, in The Oxford classical dictionary, edit. por M. Cary e outros, Clarendon Press, 1953). Assim, nestes casos, onde ocorria essa superexploração, em qualquer época da história humana, os explorados souberam reconhecer-se como classe não somente em si como também para s i, mesmo que episodicamente.
523 - Ruy Fausto defende que há racionalidade do entendimento quando Marx, supostamente, coloca a luta de classes em inércia durante a maior parte do Capital para analisar a coisa. "O pensamento de Marx é ao mesmo tempo crítica do entendimento pela dialética, como crítica da dialética pelo entendimento" (op. cit.,II, p. 173).
524 - Capitalismo e acumulação primitiva: Portanto, só após esse processo de aberta violência extra-econômica e, assim, de aberta luta de classes, o modo de produção capitalista realiza o paraíso dos proprietários de mercadorias que se encontram pacificamente no mercado. (...) Se essa violência está na origem do modo de produção capitalista, ela gera todo o processo contraditório descrito e desenvolvido (lógica e historicamente) até aqui.
525 - Se essa violência está na origem do modo de produção capitalista, ela gera todo o processo contraditório descrito e desenvolvido (lógica e historicamente) até aqui.
526 - O livro “termina” com Marx prevendo (ou especulando? Eis a longa questão de debate. Os trechos parecem meio assertivos) o fim do capitalismo.
527 - No entanto, ao avançar do começo para o princípio (e isto foi sendo feito a cada desenvolvimento lógico que ganhava determinações históricas), as contradições se desenvolviam e as categorias da Economia Política burguesa e da economia burguesa eram negadas: a esfera da circulação (paraíso das ilusões) - a produção de mais-valia absoluta e relativa (manifestação da luta de classes) -, reprodução simples, acumulação de capital (transmutação das leis de propriedade e quebra definitiva da troca de equivalentes), acumulação primitiva (separação violenta dos produtores dos meios de produção, violência da luta de classes como princípio do capitalismo, violência como fim e novo princípio, negação da negação (socialismo).
528 - As vitórias com reduções de jornada eram vitórias da Economia Política do Trabalhador contra a Economia Política do Capital. Marx assim as saudava. As idiotices do Dr. Ure e Senior perdiam. Elogia também as fábricas cooperativas.
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