Marxistas - Textos Diversos XXXIX - Marxismo Sem Utopia (Gorender)

 

Jacob Gorender - Marxismo Sem Utopia (Boa Resenha do Livro):

603 - Jacob Gorender - Marxismo Sem Utopia, Editora Ática, 1999, 288 p. Resenha de Armando Boito Jr. e Caio Navarro de Toledo.

604 - Considera que o operariado é “ontologicamente reformista” e atribui à “classe dos assalariados intelectuais” o papel de vanguarda na luta pelo socialismo. Sustenta que o Estado, o mercado e a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual deverão permanecer na sociedade socialista-comunista.

605 - Os resenhadores discordam. Na perspectiva materialista, uma classe social é definida tanto pela sua inserção nas relações de produção, quanto por sua constituição efetiva num coletivo que trava lutas concretas, dentro de um sistema de relações de classe e num período histórico determinado. Neste sentido, a posição reformista ou revolucionária do proletariado deve ser determinada tendo em vista a sua situação concreta numa formação social e num período histórico específicos. Acreditam que uma situação de crise revolucionária combinada à atuação de uma vanguarda revolucionária podem levar o proletariado a assumir a direção da revolução. 

606 - Nos Grundrisse, como mostrou Martin Nicolaus em seu ensaio O Marx desconhecido, Marx apresenta o crescimento das classes médias como uma tendência da estrutura de classes da sociedade capitalista. Isso pra mim é novidade.

607 - Declínio do número de operários? Ainda que exista, os autores da resenha relativizam a importância disso: O proletariado russo era uma minoria quase insignificante em 1905 e em 1917; no entanto foi a base social fundamental dos partidos socialistas e criou os conselhos operários, produzindo a situação de duplo poder.

608 - Outra polêmica de difícil investigação a meu ver: não é possível aceitar sem questionamento a tese de Claus Offe segundo a qual as classes trabalhadoras seriam mais heterogêneas hoje do que o foram em fases anteriores do capitalismo, e que essa heterogeneidade seria responsável pelo refluxo ou declínio do movimento operário. (A resenha fez uma problematização bem capenga dessa tese, a meu ver.)

609 - Não entendem - eu também não - a eleição dos “assalariados intelectuais” como novo sujeito da Revolução. A historiografia sobre a Revolução Russa e a Revolução Chinesa mostra, com riqueza de detalhes, a resistência, ora aberta, ora difusa, dos trabalhadores não-manuais às medidas que visavam reduzir ou eliminar as diferenças sociais e econômicas entre os trabalhadores manuais e os não-manuais, inclusive aquelas que visavam democratizar a gestão da produção no interior das unidades fabris. No caso da Revolução Russa, é sabido que Lenin, depois de muito refletir, posicionou-se por uma linha de concessões salariais aos antigos engenheiros, técnicos e administradores, para que eles voltassem ao trabalho - e à própria Rússia, já que muitos haviam emigrado - e o Poder Soviético pudesse, assim, retomar a produção que estava à beira do colapso.

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