Marxistas - Textos Diversos XXXII - As Desventuras da Dialética da Dependência (FHC e Serra)

 (continuação...)

490 - No caso das exportações, FHC e Serra trouxeram amplos dados que mostraram o oposto (!) do que Marini pretendia provar. O saldo da balança comercial foi razoavelmente negativo no período. As exportações cresceram, porém as importações também. E mesmo que se considere apenas o crescimento das exportações, o que seria errado, explicariam apenas ⅛ do crescimento do PIB. |E a exportação de manufaturados explicariam apenas ⅓ desses ⅛. Ou seja, 1/24 avos do crescimento do PIB.

491 - Portanto, que subimperialismo é esse exatamente?

492 - Ademas, a produção industrial triplicou, mas apenas cerca de 3% disso se deveu aos produtos feitos para exportação....

493 - Em verdade, quem explicou ⅔ (Aí sim um valor relevante!) do crescimento do PIB de 65 a 75 foi o consumo privado! A elevação de renda da classe média alta e o financiamento do consumo proporcionaram isso.

494 - O emprego industrial e a produção manufatureira cresceram enormemente, também ao contrário do que Marini havia previsto.

495 - Colocam que o governo militar de fato incentivou as exportações e estas, como visto, cresceram forte, mas isso se deu justamente pela necessidade de compensar o aumento desejado das importações, endividamento e formações de reservas.

496 - Nos primeiros anos do regime, houve redução absoluta dos salários de grupos ponderáveis de trabalhadores menos qualificados. Isso mesmo com o aumento veloz da produtividade média de trabalho.

497 - Observam que algumas premissas cepalinas são corretas, mas não o uso que Marini faz delas. É o caso, por exemplo, da dinamicidade do setor de bens de consumo durável, a explicar boa parte do crescimento econômico recente. E também é verdade que a renda média do latinoamericano dificilmente permite o consumo desses produtos.

498 - Afirmam que a taxa de lucro não precisa crescer apenas devido ao aumento da mais-valia absoluta. Pode crescer também devido ao barateamento do capital constante empregado.

499 - … Ademais, ao contrário do que Marini diz, a indústria nacional tem sim motivo para continuar perseguindo o aumento de produtividade ainda que os trabalhadores nacionais estejam impossibilitados de consumir mais (salários congelados). Ou seja, aumentar a produtividade - o que nem sempre se dá pelo aumento da composição orgânica, o que reduziria a taxa de lucro - para aumentar a taxa de lucro.

500 - … Produz-se a mesma quantidade, talvez até pra vender ao mesmo preço (ou um pouco maior), mas agora de forma mais barata, o que aumenta a taxa de lucro (ainda que não aumente a taxa de mais-valia). (Atentar para o fato de que a composição orgânica do capital diminui - e não aumenta - com seu barateamento. Daí ser possível o aumento da taxa de lucro.)

501 - (Concluo, ainda, que é possível um setor ou mesmo uma economia nacional inteira crescer por barateamentos eventuais de determinados capitais constantes muito decisivos, ainda que mantenha constante sua extração de mais-valia. Depende de vários fatores conjunturais. Porém, a economia mundial não cresce devido a isso, e sim pela capacidade humana de produzir quantidade “x” desse capital em menos tempo. Devido ao barateamento advindo da produção, não de fatores de circulação, digamos, como uma maior concorrência entre produtoras do referido “produto/capital constante”, por exemplo).

502 - … Concluem que a superexploração - altas jornadas e/ou reduções de salário - não é uma consequência necessária do consumo privado nacional bloqueado/estacionado. (E o pior, para Marini, é que os dados mostram que isso - o estacionamento do consumo - sequer aconteceu. Muito pelo contrário). Pode-se continuar o desenvolvimento capitalista pelo barateamento (o que nem aumenta a produtividade, mas já serve) e/ou uso mais eficiente do capital constante (o que aumenta a produtividade). Ganhos de escala… Talvez até uma mais eficiente conservação das instalações...

503 - Dados de 59-70: a produtividade cresceu 75% e a jornada apenas 4,4%. Ou seja, não foi a mais valia absoluta quem mais explicou o crescimento. Os autores deixam claro, no fim do texto, que arrocho e repressão foram fundamentais aos planos econômicos, mas negam o catastrofismo de Marini, de que haveria uma estagnação capitalista necessária.

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