Marxistas - Textos Diversos LX - Mentiras Sobre a História da URSS (Mário Sousa)

 

Mário Sousa - Mentiras Sobre a História da URSS:

950 - Semanas após as eleições nas quais 48% votaram nos nazis: No dia 24 de Março Hitler fez passar uma lei no parlamento que lhe deu poderes totais para governar o país durante quatro anos sem necessidade de consulta parlamentar. A partir daí começaram as perseguições abertas aos judeus e os primeiros deram entrada nos campos de concentração onde já se encontravam comunistas e socialdemocratas de esquerda.

951 - Sobre a fome na Ucrânia: mera campanha nazi era de preparar a opinião pública mundial para a "libertação" da Ucrânia. As terras eram boas e serviriam para fabricar cereais através do arado alemão e mão de obra escrava de seres inferiores.

952 - Nos EUA, só teriam conseguido dar repercussão ao caso graças a William Hearst, um amigo de Hitler (e um dos homens mais ricos do mundo), que se tornou magnata e criador da imprensa sensacionalista por lá. Os jornais de Hearst vendiam 13 milhões de exemplares diários com cerca de 40 milhões de leitores! Quase um terço da população adulta dos EUA lia diariamente os jornais de Hearst!

953 - Hearst tentou também utilizar os seus jornais para fazer propaganda nazi abertamente, com uma série de artigos de Göering, a mão direita de Hitler. No entanto os protestos de muitos leitores obrigaram-no a parar a publicação e a retirar os artigos.

954 - Diz que toda instabilidade que gerou fome/fraqueza/baixa de imunidade a epidemias na Ucrânia foi devido a luta de classes entre kulaks e camponeses pobres, supostamente defensores de fazendas coletivas... E acrescenta: De 1918 a 1920 uma epidemia infecciosa conhecida como a gripe espanhola fez milhões de mortos nos EUA e na Europa (mais de 20 milhões), mas nunca ninguém acusou os governos desses países de matarem os seus cidadãos.

955 - A recorrente alegação de que os EUA abrigaram refugiados ucranianos que seriam, na verdade, colaboracionistas (com os nazis) e não lutadores por democracia.

956 - Novamente aquela acusação de que usaram fotos falsas (não que eu duvide): O jornalista canadiano Douglas Tottle demonstrou rigorosamente essa falsificação no seu livro "Fraud, Famine and Fascism, The Ukrainian Genocide Myth from Hitler to Havard" editado em Toronto em 1987.

957 - O jornalista Louis Fischer, o então correspondente de Moscovo do jornal americano “The Nation” (...) revelou também que o jornalista M. Parrott, o verdadeiro correspondente em Moscovo da imprensa de Hearst, tinha enviado a Hearst reportagens que nunca foram publicadas, sobre as ceifas com muito bons resultados em 1933 na União Soviética e sobre uma Ucrânia soviética em desenvolvimento.

958 - Cita Robert Conquest como “inflador” de seus próprios números anteriores de mortos.

959 - Sobre Solzhenitsyn, acusa: as suas simpatias nazis foram enterradas para não perturbar a guerra de propaganda contra o socialismo. Também diz que este era a favor de vinganças contra o Vietnã e de intervenção dos EUA em Portugal, durante a Rev. dos cravos.

960 - Ameaça do fim do fascismo com a morte de Franco e Solzhenitsyn: Na sua intervenção na televisão declarou que "Cento e dez milhões de russos morreram vítimas do socialismo" e comparou "a escravidão a que estavam submetidos os soviéticos à liberdade que se desfrutava em Espanha". Solzhenitsyn acusou também os "círculos progressistas" de "utópicos" por considerarem Espanha como uma ditadura. A transição, para ele, tinha que ser bem lenta e cuidadosa.

961 - Fala das contas malucas: A conclusão de Solzhenitsyn é que "110 milhões de russos morreram vítimas do socialismo".

962 - Abertura dos arquivos aconteceria em 1990, mas antes: (...) todos os especuladores de mortos e presos na União Soviética têm dito durante anos e anos que no dia em que os arquivos se abrissem os números por eles apresentados seriam confirmados! Todos os especuladores em mortos e presos afirmaram que assim seria, todos: Conquest, Solzhenitsyn, Sakharov, Medvedev e os demais.

963 - Cita os cientistas que cuidaram do relatório de investigação - de 9.000 páginas - dos arquivos. Todos burgueses, antisocialistas e por vezes até bastante reacionários.

964 - Depois de 1930 o sistema correccional soviético compreendia prisões, campos de trabalho e colónias de trabalho do Gulag, zonas especiais abertas e pagamento de multas.

965 - Pessoal do crime grave e das atividades “contrarrevolucionárias” costumavam ir para as Gulags.

966 - O número de campos de trabalho era de 53 em 1940. As colónias de trabalho do Gulag eram 425, unidades muito mais pequenas que os campos de trabalho (também do Gulag) e com um regime mais livre e com menos controlo. Para aí iam os presos com penas de prisão mais pequenas, tanto de delito comum como políticos, trabalhando em liberdade em fábricas e na agricultura que eram uma parte da economia da sociedade civíl. Na maioria dos casos o salário desses trabalhos revertia por inteiro ao condenado, em igualdade com os outros trabalhadores.

967 - Traz os números detalhados de cada ano do Gulag numa tabela da ”The American Historical Review” - respeitada e famosa revista de história dos EUA, segundo o Wikipedia - de 34 a 53. Os “contrarrevolucionários” nos campos de trabalho (não colônias) nunca passaram de 580 mil. Poucos anos foram mais que ⅓ do total de presos. A porcentagem de mortos só bateu dois dígitos (17%) em 42 e 43. O total de mortos em todo esse período deu 1 milhão e pouco. Caso se somem os presos nas “colônias” e outros tipos de prisões, o ano com mais presos em janeiro foi 1950, com 2.561.000 presos.

968 - No ano de 1939 havia em todos os campos, colónias e prisões cerca de 2 milhões de presos. Desses 454 mil eram condenados por crimes políticos e não 9 milhões como Conquest afirma. Os mortos nos campos de trabalho de 1937 a 1939 foram cerca de 160 mil e não 3 milhões como diz Conquest. No ano de 1950 havia nos campos de trabalho 578 mil presos por crimes políticos e não 12 milhões. (...) No que diz respeito aos números de Alexander Solzhenitsyn, os 60 milhões de mortos nos campos de trabalho, não há necessidade de comentários, o ridículo da afirmação é evidente

969 - A União Soviética, um país que nos anos trinta tinha cerca de 160-170 milhões de habitantes.

970 - Stálin em 31: "Estamos atrasados entre 50 a 100 anos em relação aos países avançados. Temos que percorrer esta distância em 10 anos. Ou o fazemos ou seremos arrasados". (...) A reforma de 7 horas de trabalho diário teve que ser retirada em 1937 e em 1939 quase todos os domingos eram dia de trabalho.

971 - Foram 25 milhões de vidas perdidas na guerra. Durante este tempo muito difícil na União Soviética houve como máximo 2,5 milhões de pessoas no sistema correccional, ou seja, 2,4 % da população adulta. Ora, em 1995, os EUA possuiam 2,8% da população adulta no seu sistema correcional… (Dados deles mesmos) e as prisões não são nada seguras.

972 - E as porcentagens de mortos? (Chegou a 17% nos anos de 42 e 43) Assim explica: (...) em primeiro lugar falta de medicamentos para combater epidemias. Este problema não era específico dos campos de trabalho, existindo igualmente na sociedade em geral como também na grande maioria dos países do mundo. Depois dos antibióticos terem sido descobertos e começados a ser utilizados depois da segunda guerra mundial, a situação modificou-se radicalmente. (...) Durante estes quatro anos (da guerra) morreram nos campos de trabalho mais de meio milhão de presos o que é mais de metade de todos os mortos durante 20 anos. (...) Quando as condições na União Soviética melhoraram no decénio de 1950 e com o uso de antibióticos o número de mortos entre os presos diminuiu para 0,3%.

973 - Segundo Dmitrii Volkogonov, o chefe dos anteriores arquivos soviéticos nomeado por Jeltsin, foram condenados à morte 30 514 pessoas por tribunais militares de 1 de Outubro de 1936 a 30 de Setembro de 1938. Uma outra informação que agora existe vem da KGB. Segundo uma informação à imprensa em Fevereiro de 1990 tinham 786 098 pessoas sido condenadas à morte por crimes contra a revolução durante os 23 anos de 1930 até 1953. Desses condenados tinham, segundo a KGB, 681 692 sido condenados em 1937-38. (...) Será que a actual KGB pró-capitalista nos dá uma informação correcta da KGB pró-socialista? Outro detalhe que aponta é que a KGB não diferenciou criminoso político e comum. |E nem todos os condenados eram executados.

974 - A AHR (American Historical Review) também traz os tempos de prisão da época: Os criminosos de delito comum na Federação russa em 1936 receberam as seguintes penas de prisão – até 5 anos, 82,4% – de 5 a 10 anos 17,6%. (10 anos - pena máxima de prisão até 1937). Os criminosos políticos condenados na União Soviética em tribunais civis em 1936 receberam as seguintes penas de prisão – até 5 anos, 44,2% – de 5 a 10 anos 50,7%. No que diz respeito aos condenados nos campos de trabalho Gulag, onde as penas maiores eram cumpridas, a estatística de Janeiro de 1940 é a seguinte – até 5 anos, 56,8% – de 5 a 10 anos, 42,2% – mais de 10 anos, 1,0%. Para o ano de 1939 temos estatísticas dos tribunais da União Soviética. A distribuição das penas de prisão é a seguinte – até 5 anos, 95,9% – de 5 a 10 anos. 4,0% - mais de 10 anos, 0,1%.

975 - Segundo os relatórios publicados sobre os koulaks, os camponeses ricos, foram 381 mil famílias ou seja cerca de 1,8 milhões de pessoas condenadas a exílio. Uma pequena parte dessas pessoas foi condenada a penas nos campos de trabalho ou em colónias de trabalho. Ou seja, como eram 10 milhões de kulaks (e 110 milhões de camponeses), nem todos foram perseguidos. Admite que pode tre havido injustiças, porém.

976 - Defende que os kulaks queriam continuar deixando o camponês na sua dependência. Grupos de koulaks armados atacavam os colectivos agrícolas, matavam camponeses pobres e funcionários do partido, deitavam fogo aos campos e matavam os animais de trabalho. Provocando a fome entre os camponeses pobres os koulaks tentavam garantir a continuação da pobreza e da sua posição de poder.

977 - Tenta justificar as depurações nos anos 30 pelo contexto anterior, de inflação do partido: Eram tempos muito difíceis para o jovem estado soviético e a grande falta de quadros, ou simplesmente de pessoas que soubessem ler, obrigava o partido a não fazer grandes exigências no que diz respeito à qualidade dos novos militantes e quadros.

978 - Trata a expulsão da oposição do partido como algo normal. Diz que a tese de Trotsky só teve 1% dos votos…

979 - Cita provas da conspiração pra tomar o poder: O assassínio de Kirov em Dezembro de 1934, o presidente do partido em Leninegrado e uma das pessoas mais importantes do comité central.

980 - … A organização tinha uma rede de apoios no partido, exército e aparelho estatal em todo o país, sendo as actividades mais importantes sabotagem industrial, terrorismo e corrupção. Trotski, o principal inspirador da oposição, dirigia as actividades do estrangeiro.

981 - Segundo o texto, um engenheiro americano, Littlepage, contratado e que nem queria saber de política deu o seguinte testemunho em seu livro: E estou firmemente convencido de que Stáline e os seus colaboradores levaram muito tempo até descobrir que os comunistas revolucionários descontentes eram os seus inimigos mais perigosos. Seriam sabotadores.

982 - Denuncia fraudes na importação de equipamentos e maquinários estrangeiros. Littlepage teria começado a se meter nas coisas e descobrir compras estranhas. Zinoviev, Kaménev, Piatakov, Radek, Smirnof, Tomski, Boukharine e outros tão queridos à imprensa ocidental burguesa, utilizavam-se dos postos que o povo soviético e o partido lhes tinham dado, para roubar dinheiro ao estado, para que esse dinheiro fosse utilizado pelos inimigos do socialismo no estrangeiro na sabotagem e no combate à sociedade socialista na União Soviética.

983 - Afirma que o trotskista Issak Deutsher admitiu que tramavam seriamente um golpe de Estado. Segundo a confissão de Boukharine no julgamento público em 1938, existia um acordo feito entre a oposição trotskista e a Alemanha nazi, no qual grandes regiões, entre elas a Ucrânia, seriam dadas à Alemanha nazi depois do golpe de estado contra revolucionário na União Soviética. (Tenho sérias dúvidas quanto à validade dessas “confissões”. O texto afirma que Joseph Davies, embaixador americano, e outros diplomatas teriam se convencido da conspiração ao verem os julgamentos.)

984 - Cita livro que contesta Conquest sobre o número de oficiais das forças armadas condenados nas “depurações”. Conquest queria 50%. O livro apontou 7,7%. Desses 7,7%, foi uma parte condenada como traidores, mas para a grande maioria o material histórico à disposição indica terem passado à vida civil.

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