Marxistas - Textos Diversos XXVIII (Engels)
Engels - Macaco Homem:
391 - É de 1876. “Sobre o papel do trabalho na transformação do macaco em homem”. A evolução agiu muito “nas mãos”. Nenhuma mão simiesca construiu jamais um machado de pedra, por mais tosco que fosse.
392 - E depois da mão? O desenvolvimento do trabalho, ao multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais os membros da sociedade. Engels crê que isso levou ao desenvolvimento da laringe, selecionando os que se comunicavam melhor. Ou seja, a linguagem surge do trabalho, defende.
393 - Afirma que o fato de o papagaio dizer palavrões quando irritado ou pedir comida mostram que ele sabe um pouco do que fala sim. Defende que os animais certamente possuem vontade de falar.
394 - (Não sabia.) Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os órgãos dos sentidos. A vista da águia tem um alcance multo maior que a do homem, mas o olho humano percebe nas coisas muitos mais detalhes que o olho da águia. O cão tem um olfato muito mais fino que o do homem, mas não pode captar nem a centésima parte dos odores que servem ao homem como sinais para distinguir coisas diversas.
395 - Foi o “trabalho” quem separou o homem do macaco. A manada de macacos contentava-se em devorar os alimentos de uma área que as condições geográficas ou a resistência das manadas vizinhas determinavam. Transportava-se de um lugar para outro e travava lutas com outras manadas para conquistar novas zonas de alimentação; (...). Quando foram ocupadas todas as zonas capazes de proporcionar alimento, o crescimento da população simiesca tornou-se já, impossível.
396 - Os primeiros instrumentos fabricados pelo homem serviam para caça e pesca, o que mostra a presença cada vez maior de alimentação mista. (...) onde mais se manifestou a influência da dieta cárnea foi no cérebro, que recebeu assim em quantidade muito maior do que antes as substâncias necessárias à sua alimentação e desenvolvimento, com o que se foi tomando maior e mais rápido o seu aperfeiçoamento de geração em geração. Devemos reconhecer - e perdoem os senhores vegetarianos - que não foi sem ajuda da alimentação cárnea que o homem chegou a ser homem.
397 - O passo seguinte foi a domesticação de animais (reservas de carne) e o uso do fogo (facilita a digestão da carne).
398 - A capacidade do homem variar/caminhar por diversos climas também foi uma vantagem evolutiva (já que impedia superpopulação) gerada pelo trabalho. Nas zonas mais frias, aprendeu a se vestir de peles (fazer roupas) e construir abrigos (habitação).
399 - Tudo isso foi levando a uma série de desenvolvimentos, inclusive das mais diversas criações (ideações antes no cérebro). Os homens acostumaram-se a explicar seus atos pelos seus pensamentos, em lugar de procurar essa explicação em suas necessidades (refletidas, naturalmente, na cabeça do homem, que assim adquire consciência delas). Foi assim que, com o transcurso do tempo, surgiu essa concepção idealista do mundo que dominou o cérebro dos homens.
400 - A ação dos demais animais também afeta a natureza, involuntariamente porém (cita a ação predatória das cabras que acabam resultando na própria ruína destas). Quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua Influência sobre a natureza adquire um caráter de uma ação Intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Isso é trabalho.
401 - Claro que a natureza se vinga. Engels cita inúmeros exemplos de intervenção humana que tiveram consequências ruins longos anos depois e talvez tenham fugido à previsão de qualquer dos povos que continuou a utilizar território “x” de “y” maneira. Cita a atual aridez da “Mesopotâmia”, por exemplo, antes fértil.
402 - (...) Mas, se foram necessários milhares de anos para que o homem aprendesse, em certo grau, a prever as remotas conseqüências naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprender a calcular as remotas conseqüências sociais desses mesmos atos. A história seria a grande ferramenta para aprender a controlar essas consequencias.
Engels - Princípios Básicos do Comunismo:
403 - Fim de 1847. É um projecto de programa da Liga dos Comunistas, escrito por Engels em Paris por encargo do Comité Regional da Liga. Daria origem, no ano seguinte, ao “manifesto”.
404 - Atenção para a definição - O proletariado é aquela classe da sociedade que tira o seu sustento única e somente da venda do seu trabalho e não do lucro de qualquer capital. Origem? Revolução industrial (...) ocasionada pela invenção da máquina a vapor, das várias máquinas de fiar, do tear mecânico e de toda uma série de outros aparelhos mecânicos.
405 - … Essas máquinas caras “se pagavam” depois (graças ao trabalho humano), o que levava a uma concentração dos meios de produção, já que as máquinas mais baratas e ineficientes iam sucumbindo à concorrência, o que mandava mais “falidos” para o proletariado. Uma vez dado o impulso para a introdução da maquinaria e do sistema fabril, este sistema foi também muito rapidamente aplicado a todos os restantes ramos da indústria, nomeadamente, à estampagem de tecido e à impressão de livros, à olaria, à indústria metalúrgica.
406 - Não que seja melhor, mas… O escravo está fora da concorrência, o proletário está dentro dela e sente todas as suas flutuações.
407 - Operário manufatureiro é o que ainda tem alguma máquina: O operário manufactureiro vive quase sempre no campo e em relações mais ou menos patriarcais com o seu amo ou patrão; o proletário vive, na maioria dos casos, em grandes cidades e está numa pura relação de dinheiro com o seu patrão.
408 - Engels afirma que os produtos ingleses manufaturados “empurraram” o mundo: Assim, países que há milénios não faziam qualquer progresso, como por exemplo a Índia, foram revolucionados de uma ponta a outra, e a própria China caminha agora para uma revolução. Ademais, possibilitaram a tomada de poder pela burguesia.
409 - Fala das crises de superprodução períodicas. De cinco em cinco anos ou sete em sete. O socialismo viria para botar “ordem” nessa “anarquia”…, digamos. Com a abolição da propriedade privada, a associação substituirá a concorrência.
410 - O trecho a seguir toca em boa parte de minhas dúvidas sobre o socialismo. A propriedade privada foi mesmo uma etapa necessária? As coisas (evolução da produção de excedentes) não poderiam ter se dado de forma racional e planejada pela associação? Enfim, quais os limites e inevitabilidade desse “etapismo”? “Enquanto não puder ser produzido tanto que seja não só suficiente para todos, mas que também fique um excedente de produtos para aumento do capital social e para a formação de mais forças produtivas, terá sempre de haver uma classe dominante, dispondo das forças produtivas da sociedade, e uma classe pobre e oprimida”.
411 - … (o que, por sinal, também me leva a não aceitar a inevitabilidade em curto/médio prazo da “vitória socialista”. Mas hoje é fácil dizer…)
412 - Engels chega a dizer que as revoluções são a consequência necessária de circunstâncias inteiramente independentes da vontade e da direcção deste ou daquele partido e de classes inteiras. (Bem mal explicado isso aí)
413 - A Inglaterra, por ser o país mais avançado, seria o primeiro em que a classe assumiria o poder político. Seu sistema democrático iria possibilitar que se minasse gradualmente a propriedade privada. Engels prevê: a) impostos progressivos e altas restrições ás heranças; b) expropriação gradual (indústria estatizada); c) confisco de bens dos rebeldes contra a maioria do povo; d) os fabricantes deverão pagar o mesmo salário que o Estado; e) trabalho obrigatório até ser abolida a propriedade privada; f) estatização do sistema bancário e de transportes; g) educação estatal, voltada para o trabalho; h) igualdade de direito de herança para os filhos ilegítimos e legítimos; i) destruição das habitações insalubres e aproveitamento de palácios como moradia coletiva.
414 - … Enfim, é uma gradual (nem todas as medidas se implementam de vez) concentração do capital nas mãos do Estado.
415 - … Finalmente, quando todo o capital, toda a produção e toda a troca estiverem concentrados nas mãos da nação, a propriedade privada desaparecerá por si própria, o dinheiro tornar-se-á supérfluo e a produção aumentará tanto e os homens transformar-se-ão tanto, que poderão igualmente tombar as últimas formas de intercâmbio da antiga sociedade.
416 - Afirma categoricamente a impossibilidade de revolução em um só país (Lênin diria em 1915 que a fase imperialista havia mudado isso e a revolução não mais seria simultânea). Ou é simultânea, ou não é. A grande indústria, pelo facto de ter criado o mercado mundial, levou todos os povos da terra – e, nomeadamente, os civilizados – a uma tal ligação uns com os outros que cada povo está dependente daquilo que acontece a outro. Quanto mais avançada a indústria, mais fácil e rapidamente avançará a revolução.
417 - A coletivização da agricultura e da indústria o enchiam de esperança. A grande indústria, liberta da pressão da propriedade privada, desenvolver-se-á numa tal extensão que, comparado com ela, o seu actual desenvolvimento parecerá tão pequeno como o da manufactura comparada com a grande indústria dos nossos dias.
418 - Os homens também mudarão: “A indústria explorada em comum, e em conformidade com um plano, por toda a sociedade pressupõe inteiramente homens cujas aptidões estejam integralmente desenvolvidas e que estejam em condições de abarcar todo o sistema da produção”. (...) “A educação permitirá aos jovens passar rapidamente por todo o sistema de produção; colocá-los-á em condições de passar sucessivamente de um ramo de produção para outro, conforme o proporcionem as necessidades da sociedade ou as suas próprias inclinações.”
419 - Ordem social comunista e família: Ela fará da relação de ambos os sexos uma pura relação privada, que diz respeito apenas às pessoas que nela participam e em que a sociedade não tem de imiscuir-se. Diz que o comunismo não cria e sim suprime a “comunidade das mulheres”, eis que acaba com a base da prostituição e também da dependência da mulher em relação ao homem.
420 - Denuncia o socialismo reacionário. Galera que quer o feudalismo e patriarcalismo de volta. Os “socialistas burgueses” são os reformistas.
421 - Cita os cartistas - movimento operário inglês entre 1830 e 1850 que lutava pelo sufrágio universal e outras melhorias - como extremamente próximos ao comunismo. Mais do que os pequenos-burgueses democráticos/radicais. Enfim, defende alianças com os setores realmente radicais e progressistas de cada país, que efetivamente lutam contra a burguesia.
422 - Adota a tática a cada país. Na Alemanha, finalmente, só agora está iminente a luta decisiva entre a burguesia e a monarquia absoluta. Como, porém, os comunistas não podem contar com uma luta decisiva entre eles próprios e a burguesia antes de que a burguesia domine, o interesse dos comunistas é ajudar a levar os burgueses ao poder tão depressa quanto o possível, para, por sua vez, os derrubar o mais depressa possível.
423 - … As únicas vantagens que a vitória da burguesia trará aos comunistas consistirão:
1. em diversas concessões que facilitarão aos comunistas a defesa, discussão e propagação dos seus princípios e, com isso, a união do proletariado numa classe estreitamente coesa, preparada para a luta e organizada;
2. na certeza de que, no dia em que os governos absolutos caírem, chegará a hora da luta entre os burgueses e os proletários. Desse dia em diante, a política partidária dos comunistas será a mesma que naqueles países em que agora domina já a burguesia.
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