Marxistas - Textos Diversos LII - Os Anos de Bréjnev (Martens)
Ludo Martens - Os Anos de Bréjnev:
789 - Seria necessário reler a análise elaborada, logo no final dos anos 60, pelo Partido Comunista Chinês e o Partido do Trabalho Albanês? A restauração do capitalismo na URSS teria sido consumada com o golpe de estado de Khruchov em 1956? (...) URSS poderia ser caracterizado como um capitalismo de Estado praticando uma política externa social-imperialista?
790 - Martens responsabiliza o revisionismo soviético, iniciado por Khruchov e agravado com Bréjnev, pela «despolitização» dos jovens.
791 - Hoje, em Agosto de 1990, Gorbatchov surpreende-nos novamente: pela rapidez e a energia com que restabelece o mercado livre e a propriedade privada e com a qual lança planos de privatização e de integração ao sistema capitalista mundial.
792 - Bréjnev para alguns “leninistas”: Os ataques odiosos contra Stáline e a experiência histórica dos anos 20 e 30 cessaram. Houve algum reconhecimento dos méritos de Stáline e da linha que ele representou. Outros achavam que o discurso “ortodoxo” foi mero disfarce.
793 - Forças marxistas-leninistas continuavam a sua actividade sob Bréjnev, apesar de já não determinarem as orientações do partido.
794 - Primeiro congresso da Era Bréjnev: Em todo o relatório não encontramos a mínima crítica a nenhuma das grandes ideias novas que caracterizam o revisionismo de Khruchov.
795 - Afirma que os relatórios de Bréjnev eram pura coleção de lorota, mistificação, sobre uma URSS unida e cada vez mais dominante...
796 - Alguns jovens têm uma mentalidade de parasitas, exigindo muito do Estado, mas esquecendo o seu dever para com a sociedade. Brejnev ou JFKennedy?
797 - A ideia essencial de Bréjnev é que já não existem ameaças sérias ao socialismo na URSS. Para Martens, isso é “economismo”, já que desmobiliza.
798 - PC chinês em 64 (alguns stalinistas esculhambam a China, outros não): As fábricas, que caíram nas mãos de elementos degenerados, permanecem nominalmente empresas socialistas, mas na realidade tornaram-se empresas capitalistas, instrumento da sua fortuna. As suas relações com os trabalhadores transformaram-se em relações de exploradores e explorados. Acusa grande corrupção.
799 - Os relatórios mencionavam problemas econômicos, mas não agiam para mudar: «(...) abrandamento das taxas de crescimento da produção e da produtividade do trabalho, a diminuição da eficácia na utilização dos fundos produtivos e dos investimentos» (p. 71). «A taxa de crescimento das principais produções agrícolas foi sensivelmente inferior à registada no precedente período de cinco anos» (p. 89). «Entre as imperfeições mais graves devemos mencionar a lentidão da passagem dos avanços do laboratório à produção. Os prazos de aplicação das descobertas estendem-se frequentemente por anos» (p.120). «O Partido definiu como um dos objectivos mais urgentes a melhoria substancial da qualidade da produção fornecida» (p. 83). «Nem todas as empresas que fabricam os artigos de consumo têm em conta as exigências crescentes e gostos dos consumidores. Numerosos artigos são de qualidade inferior» (p. 111).
800 - Sobre a desaceleração econômica, Martes recomenda “Roger Keeran e Thomas Kenny, no seu livro Socialismo Traído (ver entrevista em hist-socialismo.net).”. Notando que as taxas de crescimento mais rápidas foram alcançadas entre 1929 e 1953, «quando a direcção soviética defendia firmemente a planificação central e suprimiu as relações de mercado anteriormente toleradas durante a NEP de 1921-1929» (pág. 261), os dois autores constatam que a partir da época de Khruchov, o crescimento económico passou de 10 a 15 por cento ao ano para apenas cinco, quatro e três por cento.
Paralelamente, sublinham que «a actividade económica privada (…) emergiu com uma nova vitalidade no tempo de Khruchov, floresceu com Bréjnev e em muito aspectos substituiu a economia socialista primária no tempo de Gorbatchov e de Iéltsine» (pág. 71). De tal modo que, «no final da década de 70, a população urbana (que constituía 62% da população total) ganhava cerca de 30% do seu rendimento total a partir de fontes não oficiais, ou seja, da actividade privada quer legal quer ilegal».
801 - Havia disputas territoriais, de fronteira, entre China e URSS.
802 - Por que pararam de criticar Stálin? “Bréjnev retém do passado apenas os aspectos de grandeza e as vitórias que permitem reforçar um patriotismo chauvinista e conquistador”. (...) Olhando mais de perto, a sua ingerência e o seu controlo sobre os outros países, longe de reforçarem a comunidade socialista, enfraquecem as bases do socialismo nos diferentes países e fazem assentar a coesão sobre a força da União Soviética.
803 - Na embriaguez que se seguiu a vitória parlamentar da esquerda chilena, a estratégia reformista de Bréjnev parece ter passado a prova do fogo. «No Chile, a vitória da Frente de Unidade Nacional foi um acontecimento capital» (p.32).
804 - Sua visão sobre Dubcek: inicia um conjunto de reformas para a restauração do capitalismo no país, que são travadas graças à intervenção das tropas do Tratado de Varsóvia. Afirma que Brejnev aceitava o revisionismo “krucheviano” (sei lá), mas não o ultrarevisionismo.
805 - Considera uma grande mentira a suposta “luta inflexível do PCUS pela pureza da teoria marxista-leninista do partido”.
806 - Apesar das críticas de 1965 sobre o subjectivismo e o voluntarismo de Khruchov, o qual prometia ultrapassar os Estados Unidos no decurso dos anos 70 e realizar o comunismo antes de 1980, dez anos mais tarde, Bréjnev perde-se na mesma auto-satisfação beata e estúpida. (...) «No nosso país», declara Bréjnev, «está construída uma sociedade socialista desenvolvida que se transforma progressivamente em sociedade comunista.
807 - Martens: As camadas aburguesadas que dirigem os países socialistas de Leste já perderam a direcção política da maioria do povo; a influência que ainda têm provém essencialmente do enquadramento administrativo e não é conquistada numa luta de classes política. A obediência destas camadas aburguesadas – que, recusando o regresso aos métodos da mobilização política das massas, métodos qualificados de «stalinistas», não têm outras possibilidades de sobrevivência – é apresentada como uma forma superior da integração socialista.
808 - No momento do Grande Debate, o Partido Comunista Chinês denunciou a tese avançada pelos soviéticos de que «o princípio da coexistência pacífica determina agora a linha geral da política externa do PCUS e dos outros partidos marxistas-leninistas». «Quando o povo soviético gozar dos benefícios do comunismo, outras centenas de milhões de homens sobre a terra dirão: somos a favor do comunismo! E nesse momento, mesmo os capitalistas “passarão para o Partido Comunista”». Brejnev, em 76, escreveria algo quase igual sobre a “atração socialista”.
809 - Aos olhos de Bréjnev, o fundamento essencial da coexistência pacífica é a força militar soviética. «A passagem da guerra-fria ao desanuviamento está ligada, sobretudo, à alteração da correlação de forças na arena mundial» (p. 22).
810 - Desde Kruschev, ou antes, vários trechos dos relatórios criticam a persistência de “mentalidades pequeno-burguesas” entre soviéticos, inclusive nos funcionários. Moralismos surgem. Ludo Martens parece ser saudoso, também nesse sentido, da época de Stálin: Adepto de Khruchov, Jaurès Medvédiev escreve a este respeito: «Na época do Stáline, os dignitários do Partido sentiam-se ainda mais ameaçados pelos órgãos de segurança do que os simples cidadãos».
811 - Tranquilidade e estabilidade para a elite. Uma real “nomenklatura”, afirma. Consequência: a corrupção oficial não parou de se desenvolver a todos os níveis. Além do nepotismo, a distinção entre propriedade pública e propriedade privada não era respeitada. Cita casos e mais casos de enriquecimento ilícito, opulência e corrupção, envolvendo inclusive filhos de Bréjnev.
812 - Ministro amigo de Bréjnev: Entre 1970 e 1982 houve uma série de aumentos dos produtos de luxo, tais como ouro, prata, jóias, caviar e peles. Chiólokov tinha por hábito comprar grandes quantidades destes produtos antes do aumento inesperado dos seus preços.
813 - Bréjnev também aproveitou os anos 70 para se atribuir centenas de condecorações, inclusive as mais importantes. O marechal Jukóv, responsável pela defesa da URSS na II Guerra, “só” tinha 30 medalhas.
814 - Política externa de Bréjnev no 26º Congresso: … Tentou-se nestes países esmagar as revoluções populares. Somos contra a exportação da revolução, mas também não podemos aceitar a exportação da contra-revolução». (...) Bréjnev apostou tudo na paridade militar e nuclear entre a URSS e os Estados Unidos. Como o peso de tal política é insuportável para a URSS, Bréjnev deve fazer da luta contra a corrida aos armamentos «a linha geral» da sua política externa
815 - Propõe imitar as experiências mais bem sucedidas dos vizinhos: as cooperativas e empresas agrícolas na Hungria, a racionalização da produção, a economia de energia e de matérias-primas na RDA, o sistema de segurança social na Checoslováquia, a cooperação agro-industrial na Bulgária…
816 - «De ano para ano, os planos de fornecimento de numerosos artigos de consumo corrente não têm sido cumpridos, nomeadamente de tecidos, confecções, calçado de couro, móveis e televisores. Os progressos são insuficientes no que diz respeito à qualidade, ao acabamento, ao sortido» (p. 91).
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Luís Fernando Verissimo - A Truta:
817 - Achei interessante por mostrar como a “mercadoria” esconde o “como se chegou a isso”. Tem um pouco daquela história de leis e salsichas.
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