Ciência e Filosofia (Marcos Barbosa de Oliveira)

 

Marcos Barbosa de Oliveira - Desmercantilizar a Tecnociência:

893 - Publicado em Boaventura de Souza Santos (org.), Conhecimento prudente para uma vida decente: “Um discurso sobre as ciências” revisitado (Porto, Edições Afrontamento, 2003). Concorda com os pós-modernos no seguinte: “a ciência não detém o monopólio da racionalidade”. “a tecnociência é responsável hoje por grandes problemas que afligem a humanidade, como a degradação natural”. Boaventura propõe um correto redirecionamento para a tecnociência. Ela pode e deve ser alterada.

894 – Não concorda com o relativismo e dependência do pós-modernismo em relação a “interpretações duvidosas” da relatividade e física quântica.

895 – “(...) a ciência se caracteriza por proporcionar ao homem um conhecimento objetivo da realidade; tal conhecimento pode ser aplicado para tornar mais eficiente a produção da vida material, e tal aplicação constitui a tecnologia”.

896 – A separação não pode ser tão rígida. Ora, hoje mais que nunca, a ciência depende e se utiliza amplamente do material tecnológico (tecnologia de ponta). São medições cada vez mais precisas, dissecando a realidade. Ponto para o conceito de “tecnociência”.

897 – A ciência pura praticamente não existe mais. Apenas a aplicada. O ideário neoliberal incorporado às instâncias responsáveis pela alocação de fundos para a pesquisa traduz-se na diretriz de exigir, como justificativa para cada solicitação de apoio financeiro, indicações cada vez mais explícitas e específicas das aplicações tecnológicas visadas, promovendo a tecnologização da ciência e, no limite, o fim da ciência básica. A ciência torna-se tecnociência. E mais: Lacey, por exemplo, menciona o papel de alguns artefatos tecnológicos de fornecer modelos para a ciência, usando como ilustração o caso dos relógios mecânicos para a fase inicial da física moderna, e o computador digital para a ciência cognitiva surgida nas últimas décadas.

898 – … Essa perseguição à ciência básica pode ser contraproducente: “(...) no decorrer da história, inúmeras teorias científicas – sendo o caso mais paradigmático o da teoria eletromagnética – foram desenvolvidas por muito tempo antes que se tivesse qualquer idéia sobre as aplicações tecnológicas a que mais tarde dariam origem. Trata-se do argumento da imprevisibilidade do potencial de aplicação das teorias, na sustentação do qual é muito comum ser mencionado o dito de Faraday a respeito do uso de um bebê recém-nascido.

899 – Exceções seriam a paleontologia e cosmologia. Ainda se vê certa separação.

900 – A ciência pura seria a feita em universidades. A “tecnológica” em empresas. Ora, vê-se ainda que “a mercantilização da tecnologia apóia-se no sistema de patentes e data da época em que elas viraram mercadorias; a mercantilização da ciência está em curso no momento, fazendo parte da essência do processo de reforma neoliberal imposto à Universidade”.

901 - Polanyi: a descrição do trabalho, da terra e do crédito como mercadorias é inteiramente fictícia. Isso porque não são produzidas para a venda. Os três gêneros entretanto não esgotam a categoria das mercadorias fictícias, a qual é potencialmente infinita, dada a propensão do sistema capitalista a transformar tudo em mercadoria. De órgão humano a patente maluca.

902 – As idéias não são como um bolo. Podem ser divididas sem que “diminuam” ou a pessoa as “perca” ou “doe”. Só daí já se vê a diferença em relação a muitas “mercadorias”. Cita um trecho de Thomas Jefferson.

903 – As patentes têm se intensificado (maior regulação e controle repressivo) e se estendido (novas patentes, agora de matérias-primas, organismos etc.). (...) na fase tecnológica do capitalismo, as patentes são mercadorias completas, não mais produzidas por trabalhadores independentes, mas por assalariados.

904 – Cita a tendência de patentes de “descobertas científicas”, a exemplo de uma para “um par de números primos” surgida recentemente: “Esse processo é acompanhado de uma pressão imposta a pesquisadores da Universidade no sentido de que se esforcem para conseguir patentes, da criação de órgãos de apoio para ajudá-los nessa tarefa, etc., estando claramente associado à diretriz de tecnologização da pesquisa científica discutida na seção 2”.

905 – Teme até o patenteamento de equações famosas que ainda serão descobertas…

906 – “Se e quando tais tendências chegarem a seu limite, isto é, quando todo o conhecimento científico produzido na Universidade se tornar objeto de patentes, então estará consumada a fusão da ciência com a tecnologia, e a tese da tecnociência em sua versão forte passará a ser verdadeira.”

907 – “(...) será que, do ponto de vista das condições de saúde da totalidade dos seres humanos, os recursos destinados às pesquisas de alta tecnologia, que na maioria dos casos são acessíveis apenas às camadas mais ricas, não teriam um retorno muito maior se aplicados na eliminação das causas dos problemas de saúde da imensa maioria pobre da população do mundo?” (Depende. Que retorno? Financeiro? Se não, óbvio que sim. Se sim, óbvio que não.)

908 – Propõe que a humanidade inclua os riscos ambientais (e éticos) nos eternos cálculos de custo-benefício. (Por que um empresário se importaria com um “custo social” que não o afeta?)

909 – A competitividade condiciona o pensamento a cumprir metas pré-estabelecidas. “Dessa forma, é vista como dispersão a ser evitada, como perda de tempo, qualquer reflexão mais séria sobre o significado social das suas práticas, sobre a conveniência de se manter o mercado como instância reguladora do ritmo e dos rumos da pesquisa”.

910 – “(...) Um não-dependente abandona o hábito se e quando julga que os malefícios da droga superam os benefícios. O efeito perigoso da droga, responsável pela criação da dependência, é o de debilitar ou neutralizar as funções cognitivas e volitivas necessárias para que o drogado, primeiro reconheça que está se prejudicando, e segundo, que tenha a força de vontade para colocar em prática uma decisão de suspender o consumo. A mercantilização promovida pela reforma neoliberal – pelo produtivismo, o estímulo à competição, e o sistema quantitativo de avaliação a ela inerentes – tem um efeito semelhante, uma vez que sufoca a reflexão sobre suas conseqüências para a sociedade. No sistema de mercado, não há mercado para críticas ao mercado. (...) o mercado é uma droga, e a tecnociência está viciada em mercado.

911 – A saída não é “conscientização” dos cientistas, mas luta pela desmercantilização.

912 – “Há ainda outras críticas de natureza mais pragmática, mostrando que em muitos casos, em vez de estimular a pesquisa de inovações, o sistema de patentes a emperra, pelas dificuldades que cria para a atuação dos próprios pesquisadores”.

 

Marcos Barbosa de Oliveira - Sobre o Significado Político do Positivismo Lógico - Atalho:

913 - Lowy defende que o positivismo de Saint-Simon e Condorcet se tornou conservador com Durkheim e Comte.

914 - Crê ser bastante discutível se Popper é um positivista lógico.

915 - Lowy e os três axiomas do positivismo. a) a sociedade é regida por leis naturais invariáveis; b) pode, assim, ser estudada pelos mesmos métodos próprios às ciências da natureza; c) explicação causal dos fenômenos, de forma objetiva, livre e neutra.

916 - Quando na esquerda, o positivismo pretendeu, portanto, a crítica dos preconceitos tradicionalistas e conservadores na interpretação dos fatos. A direita, a exemplo de Comte, usa o mesmo terceiro axioma para atacar os “preconceitos revolucionários”. O positivismo se torna, então, a justificação científica da ordem social estabelecida.

917 - Cita Otto Neurath como grande representante do austro-marxismo (positivista lógico - década de 20).. Queriam, influenciados pelo neokantismo, transformar o marxismo numa sociologia, uma ciência social empírica. (Não detalha…)

918 - Por que os positivistas de esquerda do “Círculo de Viena” falavam tanto em criar uma “ciência unificada”?: É possível o planejamento central dada a divisão do conhecimento? Esta questão forma a base da segunda fase do debate sobre o cálculo socialista provocado por Hayek. [...] Sua argumentação é epistêmica - sustentando que a divisão social do conhecimento entre diferentes atores sociais elimina a possibilidade de planejamento racional numa economia socialista. [...] o projeto de uma ciência unificada tinha em parte o objetivo de mostrar que as divisões do conhecimento poderiam ser superadas para fins do planejamento socialista racional.

919 - A pergunta do texto é se, na atual conjuntura, o positivismo tem algo a oferecer às forças progressistas. O autor crê que não. Pelo contrário, deve ser combatido, pois é utilizado pelo inimigo. (não justifica muito sua posição)

920 - Kuhn, considerado pós-positivista por suas críticas, é filho do positivismo. Afirma que mesmo o Círculo de Vienna já fazia certas críticas.

921 - Kuhn deixa claro que suas críticas não implicam saída do campo racionalista. Se o desenvolvimento da ciência depende essencialmente de comportamentos que julgamos previamente como irracionais, então devemos concluir não que a ciência é irracional, mas que nossa noção de racionalidade precisa de ajustes aqui e ali.

922 - (O texto tem muita classificação e rotulação e pouca explicação sobre as mesmas)

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