Marxistas - Textos Diversos XXX - A Burocracia no Movimento Operário (Ernest Mandel e Perry Anderson)
Ernest Mandel e Perry Anderson - A Burocracia no Movimento Operário:
454 - O surgimento de aparelhos e funcionários permanentes já é o início de uma burocratização. Afirma que o trabalho fatigante e esgotante não permite que o trabalhador tenha tempo para elevar seu desenvolvimento cultural e científico. (Não é a “aquisição de cultura” quem vai melhorar a bem-estar do trabalhador. Essa relação deve ser invertida. O tempo de trabalho reduzido é quem cria condições para elevamento cultural. Depois saem dizendo “o povo não tem cultura”)
455 - … Por isso, os trabalhadores dependeriam dos burocratas mesmo após uma revolução, sob pena de cair num comunismo primitivista que levaria, pouco tempo depois, a uma diferenciação social. Daí (baixo nível cultural e científico), também, a necessidade inegável de “aparelhos”, observam. Também porque sem infraestrutura não dá pra dirigir 50 mil pessoas.
456 - Acredita que o conservadorismo que toma conta da burocracia não vem sequer de um destacamento material do que recebe um burocrata em comparação com o proletário, afinal, nem sempre existe essa diferença. A postura recuada vem, na verdade, da ideia de que já se conquistou algo que não pode ser arriscado. Assim, passa-se a temer algo novo. O proletariado, agora, tem algo a perder. Chamam isso de “dialética das conquistas parciais”.
457 - Ocorre, porém, que nem todo salto à frente é uma ameaça às conquistas anteriores, como querem os reformistas e stalinistas.
458 - Toda forma, coloca que não deixava de ser um privilégio material, até por fugir das péssimas condições das fábricas. Trata do início desse processo:
459 - Os primeiros secretários das organizações operárias passavam uma boa parte da sua vida na prisão e viviam em condições materiais mais que modestas; mas eles viviam apesar de tudo muito melhor, do ponto de vista econômico e social, que o operário da época.
460 - Outra vantagem que os autores vêem é a possibilidade de se livrar dos gestos mecânicos de fábrica que só servem para enriquecer o inimigo. No sindicato, o socialista tem a sensação de que luta todo dia, a cada minuto, e, portanto, opõe-se a um revezamento ou, pior, eliminação das funções. Se virar parlamentar, trabalho mais “legal” e seguro ainda. O mesmo para “trabalhar em um jornal operário”.
461 - … Existe também aí uma verdadeira dialética, que não se reduz a uma banal contradição: na medida em que o proletariado optasse por não criar esses espaços privilegiados, os elementos mais qualificados se sentiriam permanentemente tentados pela fácil solução (de elevar permanentemente seu bem estar-social) de sair das organizações operárias para integrar espaços da pequena burguesia. (...) nos municípios administrados pelo movimento operário, coloca-se o mesmo problema para os arquitetos, para os engenheiros ou os médicos.
462 - Diz que há uma certa resistência aos privilégios antes da degeneração completa, que seria a última fase: quando a direção já não resiste a esse fenômeno e o aceita conscientemente, se integra nele, tornando-se o seu motor e procurando acumular privilégios. Cita a burocracia stalinista...
463 - … Por exemplo, "as contas fixas em banco", pelas quais um certo número de indivíduos privilegiado podia fazer todas as despesas possíveis, mantendo sempre o mesmo montante na sua conta. O único limite das despesas era a relativa penúria de mercadorias; para esses indivíduos, isso era a verdadeira realização do comunismo no seio de uma sociedade atrasada economicamente. Esse fenômeno surgiu depois na literatura pós-stalinista na União Soviética, nos jornais e nas revistas, em casos concretos de artistas e, claro, em dirigentes políticos que dispunham desse privilégio.
464 - Cita também os “armazéns especiais”, escondidos da população. Este fenômeno, nascido na época stalinista, continuou existindo na maioria dos Estados operários até 1956-57 (...) nos quais se encontravam todas as mercadorias inacessíveis nessa época ao conjunto da população e em grande parte importadas dos países imperialistas.
465 - ...Aí já não é mais tendência (meio que “natural”) potencial de começo de burocratização causada pelo crescimento do movimento operário. O que já existe aí é o desenvolvimento pleno e total das tendências burocráticas que conduzem à degeneração total.
466 - Diz que é “ultraesquerdismo” “direitista” ser contra a funcionários permanentes/revolucionários profissionais. É a única forma de avançar para além das reivindicações mais imediatas e espontâneas. Se não cria suas estruturas/aparelhos seguirá pautas da burguesia ou pequena burguesia radical. Enfim, serão alvo fácil da ideologia dominante que ocupa também seu pouco tempo livre.
467 - E a imediata equiparação salarial/material após a tomada do poder? (pauta que atribui ao “Socialismo ou Barbárie”: A partir do momento em que a qualificação cultural e profissional não provoca qualquer melhoria das condições de vida, e isso numa situação de penúria, o esforço da qualificação reduzir-se-á aos elementos mais conscientes que compreendem a necessidade objetiva da elevação do nível cultural e profissional. O desenvolvimento das forças produtivas será mais lento… Ou seja, seriam incentivos para ir permitindo uma gradual desburocratização.
468 - Enfim, defendem que não são “pela transição” porque gostam, e sim pela necessidade.
469 - Afirmam que Marx, baseado na Comuna de Paris, queria, de fato, limitar os rendimentos do “funcionário público”. Porém, seu teto era o “operário qualificado”, não qualquer operário. E sua intenção era pragmática, evitar o “carreirismo” no serviço público. Que aproveitadores fossem “por dinheiro” para lá.
470 - Defendem, por fim, o leninismo: É necessário compreender ao mesmo tempo a necessidade de certos destacamentos de vanguarda e de partidos de vanguarda, que não podem ser mais do que simples partidos largamente minoritários.
471 - Propõem, porém, a renovação entre proletários e revolucionários profissionais. Circulação. Espécie de rodízio. Desde que vá gente capaz, observam.
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