Marxistas - Textos Diversos XLVI - Jorge Grespan - A Dialética do Avesso


Jorge Grespan - A Dialética do Avesso - Atalho:

689 - Li pelo pdf mesmo:

http://www.ifch.unicamp.br/criticamarxista/arquivos_biblioteca/artigo8426_merged.pdf

690 - Depois da morte de Marx, parece que Engels procurou em vão, entre os papéis deixados pelo amigo, o prometido texto sobre dialética que ele prometera escrever.

691 - Afirma que Marx não tem adesão absoluta ao método dialético, como querem alguns autores, apenas considerava tal método o mais adequado para analisar objetos constituídos de modo contraditório (como o capitalismo). “Não é em qualquer objeto que Marx distingue dois níveis de realidade, em que se constitui uma essência para além das formas de aparecimento.”

692 - Bonita frase de Marx do livro III: toda a ciência seria supérflua, se a forma de aparecimento e a essência das coisas coincidissem imediatamente. Ou seja, Marx não deixa de ser essencialista, para alguns.

693 - Em 1858, em carta a Engels, Marx já deixava claro que Hegel voltou a lhe ser útil.

694 - Daí perceber também a Economia Política como contraditória, que podia por isso ser alvo de uma crítica interna, isto é, aquela que aceita inicialmente os princípios e conceitos do que quer criticar e os desenvolve, para deles deduzir o seu contrário. Esta inversão é, aliás, o procedimento que define a dialética mesma desde Platão.

695 - ...Afirma que Marx, na juventude, cometia o erro de rejeitar a economia política praticamente em bloco, em nome da alienação e desumanização que ela pressupunha.

696 - Marx e sua dialética: Em sua figura racional, ela é um escândalo e um horror para a burguesia e seus porta-vozes doutrinários, porque ela inclui no entendimento positivo do existente ao mesmo tempo também o entendimento de sua negação, de seu declínio necessário, (...); ela não se deixa impressionar com nada, é crítica e revolucionária por natureza.

697 - Marx num posfácio: “Meu método dialético é fundamentalmente não só diverso do hegeliano, como seu oposto direto”. Hegel entendia que o pensamento produzia a materialidade...

698 - Dialética do avesso: ... retomando a metáfora da luva desvirada do avesso: em Hegel a diferença estaria no lado de fora e a identidade no de dentro; enquanto em Marx, ao contrário, a identidade é que aparece no lado de fora, determinada por uma diferença no lado de dentro. (Aqui é ainda a questão entre aparência e essência).

699 - Hegel queria uma essência sem conflitos. Identidade contra as divergências aparentes.

700 - Por isso que o Estado aparece como elemento universal conciliador.

701 - Em Marx, a diferença social predomina sobre a igualdade jurídica, por exemplo.

702 - Lógica de Hegel envolve o movimento de uma coisa para outra. A seguir, porém, Hegel mostra que a negação recíproca das coisas diversas, que aparece inicialmente como existindo fora das próprias coisas, na verdade faz parte constitutiva do modo com que cada uma delas se define: ela é o que é por não ser o que não é, de forma que, para se determinar, tem de se referir às outras, à alteridade, à negação. Assim é como aparece na dialética a famosa proposição espinosista de que “toda determinação é negação”. Para afirmar é preciso negar.

703 - … Assim, por consequência lógica, isso faz com que a unidade (...) não dependa de uma igualdade ou identidade absoluta de algo consigo, sendo, ao contrário, a unidade dos diferentes – a oposição. Ou seja, “unidade” é uma coisa (e a oposição não deixa de ser uma unidade: a unidade dos diferentes) e identidade é outra. Se x depende de y para se definir, temos uma unidade.

704 - Na oposição, nenhum dos diferentes é mera parte do outro. Só se definem como um todo. De acordo com Theunissen: “eles contêm um ao outro como momentos e excluem um ao outro enquanto totalidade”.

705 - … Assim, negar o outro passa a ser negar a si mesmo. (Ao que entendi, tudo isso é Hegel)

706 - Grespan afirma que o trabalho, ao contrário do capital, não pode se pôr como totalidade. Afinal, o capítal tem que excluir o trabalho enquanto totalidade, senão este passaria a dispensá-lo. (Por isso, defende que a contradição capital-trabalho não é tipicamente hegeliana). Enfim, a diferença é que o capital depende do trabalho mas o inverso é falso. É que o trabalho é a fonte efetiva do valor. (confesso que ainda estou no “e daí?” dessa parte da discussão)

707 - … O capital faz com que essa última parte pareça mentira. Como se o trabalho não pudesse existir por si próprio. O “sujeito” não é mais o trabalho. O capital é quem gera o emprego, diz a ideologia. O despojamento original - perda dos meios de produção - é quem permite a farsa. A desigualdade gerada por tal separação é que permite que apareça a igualdade jurídica.

708 - Por outro lado, a usurpação da subjetividade do trabalho constitui o fetichismo do capital: como todo formal, o trabalho morto, objetivado, adquire uma vida artificial, atividade de empregar e organizar o trabalho vivo. Ou seja, inverte-se a relação de sujeito e objeto, pois a força de trabalho é objetivada e o capital aparece como o sujeito.

709 - (Em várias partes do texto eu não entendi que diabo ele quis dizer. Pior, a conclusão é talvez a parte menos entendível. Até a metade do texto eu estava entendendo, acho. Se o problema sou eu, o texto, ou ambos, é outro mistério pra mim) 

(Lendo isso, anos depois, parece-me que tá tudo entendível sim. Ao menos nesse fichamento. No texto eu não lembro. Só relendo pra ver.)

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 (outro fichamento desse mesmo texto aí):

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Jorge Grespan - A Dialética do Avesso:

29 - Depois da morte de Marx, parece que Engels procurou em vão, entre os papéis deixados pelo amigo, o prometido texto sobre dialética que ele prometera escrever.

30 - Defende que é porque seu objeto se constitui de modo contraditório que Marx percebe ter de investigá-lo dialeticamente. Se não fosse contraditório, nem precisaria de ciência. O texto coloca que, para Marx, ciência era a dialética.

31 - Segundo Grespan, o que estaria errado em Hegel é o seguinte: Sem dúvida esta objeção alude ao caráter hiperbólico da dialética de Hegel, que vê todo o real – natureza e espírito – como contraditório, enquanto para Marx só o é certo tipo de relação social historicamente constituída, a saber, o das sociedades de classe em geral e da capitalista em particular.

32 - Marx falou expressamente em inverter a dialética de Hegel. A de Marx é oposta, ou seja, materialista. As contradições, para ele, estavam nas essências. Ou seja, retomando a metáfora da luva desvirada do avesso: em Hegel a diferença estaria no lado de fora e a identidade no de dentro; enquanto em Marx, ao contrário, a identidade é que aparece no lado de fora, determinada por uma diferença no lado de dentro. Grespan, porém, faz uma crítica a essa interpretação de Hegel: No entanto, a “unidade mediada mais profunda” hegeliana é contraditória da mesma forma que a “contradição mais essencial” de Marx

33 - Afundar-se na contradição: positivo e negativo não existem de forma independente um do outro. Nenhum deles sobrevivem isoladamente. Referem-se um ao outro.

34 - Sobre o capital: Em outras palavras, ao mesmo tempo em que tem de incluir em si a força de trabalho como seu momento variável, para se valorizar e se definir enquanto capital, ele também tem de exclui-la enquanto possível totalidade, pois se esta o fosse, deixaria de produzir para ele e, com isso, ele deixaria de ser capital.

35 - Raciocínio de Theunissen a fim de diferenciar o “afunda-se na contradição” de Hegel para a dialética de Marx no “O Capital”: Embora “substancialmente”, enquanto valor, o capital seja inteiramente constituído pelo trabalho, formalmente ele o subordina de tal modo que o define como “pobreza absoluta”, despojado da propriedade dos meios de produção e mera parte integrante de um todo maior. Formalmente o capital transcende o trabalho vivo, de modo que ao negá-lo, afirma sua outra parte, o capital constante. Embora seja contraditório que ele tenda a diminuir sua parte variável em favor da constante, com o aumento da composição orgânica, ele com isso não se elimina completamente, não se exclui totalmente de si ao excluir o outro que, formalmente, é só uma parte dele. O capital não “se afunda na contradição” inteiramente. Daí Theunissen afirmar (nota 22) que “fundamentar desta forma a contradição, é impossível para Marx”. É uma contradição subordinada, assim, não há solução idealista de harmonização.

36 - Capital e trabalho: Ambas totalidades sempre se excluem, portanto, mas jamais se incluem a ponto de configurar um mesmo todo, considerado de dois pontos de vista completamente superpostos, que é precisamente a definição acabada da contradição hegeliana.

37 - As determinações já da circulação simples não são simplesmente anuladas pelas da produção capitalista, mas também não são mantidas como se a elas não se acrescentasse algo fundamental, isto é, que lhes dá um novo fundamento. É superado justamente o conteúdo da circulação simples, o objetivo de vender para comprar valores-de-uso, produtos que satisfaçam necessidades de consumo. Mas a circulação simples existe dentro da capitalista, quando o que circula são simples mercadorias e dinheiro, e não capital-mercadoria e capital-dinheiro.

38 - Capitalistas e trabalhadores livres, na esfera de circulação, trocando suas mercadorias? Sua igualdade e desigualdade são opostas enquanto processo superficial e processo subjacente, que não se invalidam mutuamente, configurando uma dualidade que é o núcleo da apreensão da sociedade burguesa por Marx. (…) O que é ilusório é que só exista igualdade e liberdade, e não também desigualdade.

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