Marxistas - Textos Diversos L
Leandro Konder - A Questão da Ideologia em Gramsci:
761 - Franceses do “materialismo vulgar”: queriam decompor as ideias até chegar às sensações que, em tese, lhes serviam de origem. Enfim, havia uma concepção “fisiológica” de ideologia.
762 - Gramsci criticava o fato de Marx ter a ideologia sempre como uma estupidez (pura aparência) gerada na superestrutura: afirma-se que determinada solução política é `ideológica', isto é, insuficiente para mudar a estrutura, quando acredita que poderia mudá-la.
763 - Gramsci dizia que as ideologias desse tipo eram “arbitrárias”. Defendeu a necessidade de uma ideologia “orgânica”.
764 - Traz o seguinte raciocínio sobre a ciência e a ideologia, geralmente contrapostas na teoria marxiana (ou assim entendi, ao menos): Ela também é histórica, não pode pretender situar-se acima da história, não pode pretender escapar às marcas que o fluxo da história, a cada momento, imprime nas suas construções. Por isso, não é razoável tentar promover uma contraposição rígida entre ciência e ideologia. "Na realidade", escreveu Gramsci, "a ciência também é uma supra-estrutura, uma ideologia". (Parece-me que ele tem certa razão, mas quais mudanças, na prática, isso gera?). É o que Konder chama de “historicismo absoluto” de Gramsci. Nada escapa à história.
765 - Ideologia poderia virar ciência, para ele, quando assumisse a forma de hipótese científica verificada pelo desenvolvimento real da história. (Ou seja, toda ciência é uma ideologia, mas nem toda ideologia é uma ciência).
766 - Até a filosofia da práxis (o marxismo) estava sujeito às “vicissitudes da ideologia”. Preconceito e superstição, causados pelos critérios da massa guiada pelo senso comum, poderiam atingir o marxismo. (...) nenhuma força inovadora consegue atuar com eficácia imediata e preservar sua coesão com completa coerência. De fato, a força inovadora "é sempre racionalidade e irracionalidade, arbítrio e necessidade (...). Vai haver necessariamente “contaminação”.
767 - A ideologia vai longe em Gramsci, mas não é “toda-poderosa”. Gramsci escreveu: "Para Marx as 'ideologias' não são meras ilusões e aparências; são uma realidade objetiva e atuante. Só não são a mola da história".
768 - Konder não entra muito no assunto “intelectualidade”, mas esta parece ser importantíssima na teoria de Gramsci: Nos Cadernos do Cárcere se lê a observaçào feita a respeito da situação intelectual do "homem do povo", que não sabe contra-argumentar em face de um "adversário ideologicamente superior", não consegue sustentar e desenvolver suas próprias razões, mas nem por isso adere ao ponto de vista do outro, porque se identifica solidariamente com o grupo a que pertence e se recorda de ter ouvido alguém desse grupo formular razões convincentes que iam numa direção diferente da que está sendo seguida pelo seu contraditor. "Não recorda os argumentos, concretamente, não poderia repeti-los, mas sabe que existem, porque já lhes ouviu a convincente esposição" (GRAMSCI, 1977, p. 1391).
Lenin - Materialismo Dialetico e Anarquismo:
769 - O método dialético diz que é preciso considerar a vida como ela é na realidade. A vida encontra-se em incessante movimento, por conseguinte devemos também considerar a vida no seu movimento, na sua destruição e criação.
770 - O “real é racional” é a segunda conclusão do método dialético, segundo Lênin.
771 - Fala da polêmica entre os revolucionários russos do penúltimo decênio do século XIX. Por que proletários e não os, mais numerosos e mais pobres, camponeses? Devido ao movimento, às tendências. (...) uma vez que o proletário é a única classe que cresce e se fortalece ininterruptamente, é nosso dever colocarmo-nos a seu lado e reconhecê-lo como força principal na revolução russa. (...) os marxistas consideravam a questão de um ponto de vista dialético, ao passo que os populistas raciocinavam metafisicamente, porque consideravam os fenômenos da vida "imutáveis, cristalizados de uma vez para sempre".
772 - E o método dialético diz que o movimento tem uma forma dupla: evolução e revolução. O movimento tem a forma de evolução quando os elementos progressistas continuam espontaneamente seu trabalho cotidiano e introduzem na velha ordem pequenas modificações "quantitativas". O movimento é revolucionário quando esses mesmos elementos, dominados por uma só idéia, unem-se e lançam-se contra o campo inimigo, para destruir pela raiz a velha ordem com as suas caraterísticas "qualitativas" e instaurar uma nova ordem.
773 - Afirma que na história natural ocorre a mesma coisa e cita o “Anti-Duhring” de Engels.
774 - Critica Proudhon pela defesa deste de uma “justiça imutável”. Isso era mera fantasia metafísica no entender de Marx, segundo Lênin. Tudo muda.
775 - Dialética contra a metafísica. Para os defensores da segunda, uma coisas ou é “boa” ou é “má”. Lênin coloca que não é bem assim. Essa avaliação é condicionada pelo movimento: (...) hoje reivindicamos a república democrática; e a república democrática reforça a propriedade burguesa; pode-se dizer que a republica burguesa é boa sempre e por toda a parte? Não, não se pode. Por quê? Porque a republica democrática é boa somente "hoje", enquanto destruímos a propriedade feudal, mas "amanhã", quando iniciarmos a destruição da propriedade burguesa e a instauração da propriedade socialista, a república democrática já não será mais boa; pelo contrário, se transformará num empecilho que despedaçaremos e repeliremos. É boa? Sim e não.
776 - (...) uma vez que a vida está em movimento, todo fenômeno vital tem dois aspectos: positivo e negativo. Devemos sustentar o primeiro e rejeitar o segundo?
777 - Não entendi a crítica de Nobati, mas ri muto dessa resposta de Lênin: Uma outra coisa os senhores anarquistas não podem perdoar ao método dialético: "A dialética... não oferece a possibilidade nem de sair ou pular para fora de si, nem de saltar por cima de si mesmo" (vide Nobati, n. 8, Ch. G.). Eis que, senhores, tendes totalmente razão: o método dialético não dá essa possibilidade. Mas por que não a dá? Porque "pular para fora de si mesmo e saltar por cima de si mesmo", são ocupações próprias de cabras monteses, e o método dialético, ao invés, é feito para os homens.
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