Econ - Benedito Rodrigues de Moraes Neto - Século XX e a Teoria Marxista do Processo de Trabalho
Benedito Rodrigues de Moraes Neto - Século XX e a Teoria Marxista do Processo de Trabalho:
411 - A humanidade e as primeiras manufaturas. O texto diferencia “skills” de “conhecimento”. Skills são adquiridos individualmente e envolvem a combinação de aprendizagem abstrata, aptidão e experiência.
412 - Maquinaria e seu processo de transformação do homem em apêndice da máquina é saudado por Ure na época de Marx: “Regozijo-me ao ver que a ciência promete agora resgatar este ramo da indústria (indústria da lã) dos caprichos do trabalho manual e colocá-lo, como aos demais, sob o domínio do mecanismo automático.”
413 - Trata-se de colocar o processo de trabalho sob o domínio do capital.
414 - “Tudo o que Marx anuncia em relação às características especificamente capitalistas do processo de trabalho (parcelamento de tarefas, incorporação do saber técnico no maquinismo, caráter despótico da direção), o realiza Taylor, ou mais exatamente, lhe dá uma extensão que até então não havia tido.” Tudo vai além da caricatura do taylorismo como “cronômetro e aceleração”.
415 - O entendimento de que o fordismo significa um aprofundamento, uma aplicação privilegiada, do taylorismo, é também marcante em Braverman.
416 - Fordismo: “linha de montagem” e produção para consumo de massa. Ora, sobre o movimento de desqualificação do trabalho encetado pelo fordismo, o próprio Henry Ford é suficientemente claro: “Quanto ao tempo necessário para a aprendizagem técnica, a proporção é a seguinte: 43% não requerem mais que um dia; 36% requerem de um dia até oito; 6% de uma a duas semanas; 14% de um mês a uma ano; 1% de um a seis anos. Esta última categoria de trabalhadores requer grande perícia – como a fabricação de instrumentos e a calibragem.” (Talvez assim as pessoas entendam porque o capitalismo, mesmo ainda hoje em dia, não precisa de educação de ponta para todas as pessoas).
INSIGHT ALEATÓRIO: SOBRE EDUCAÇÃO, FAZER COMPARAÇÕES COM FUTEBOL. DA MESMA FORMA QUE O CAPITALISMO MAIS EFICIENTE NÃO SIGNIFICA EDUCAÇÃO DE PONTA PARA TODOS E É NECESSARIAMENTE DESIGUAL, TER O TIME QUE MAIS FAZ GOLS NÃO IMPLICA NECESSARIAMENTE TER MAIOR NÚMERO DE ATACANTES. EM TUDO HÁ PROPORÇÕES ÓTIMAS.
417 - Microeletrônica: É fato inquestionável que essa nova automação tem levado as plantas fordistas em direção à unmanned factory, ou seja, uma fábrica dotada de elevado grau de prescindibilidade do trabalho vivo imediatamente aplicado à produção. Essa revolução tecnológica “explode” o paradigma taylorista-fordista, o qual, como já vimos, ilustraria à perfeição todas as características apontadas por Marx para a natureza especificamente capitalista dos processos de trabalho.
418 - “Na opinião de Viviane Forrester, passamos a viver um tempo em que o trabalho não tem mais quase nenhum poder de pressão sobre o capital, pois este precisa cada vez menos do trabalho humano. Os trabalhadores nem mesmo encontram interessados em explorá-los, vendo então ser virada pelo avesso a teoria marxista.”
419 - Homem como apêndice quase supérfluo: A esse respeito, vale destacar uma frase muito feliz de Marx, quando afirma ser o homem “um instrumento muito imperfeito de produção quando se trata de conseguir movimentos uniformes e contínuos”.
420 - Nos Grundrisse, Marx chega a afirmar que, a partir da constituição das bases técnicas especificamente capitalistas, o processo produtivo deixaria de ser um processo de trabalho, no sentido de que o trabalho deixaria de ser a unidade dominante.
421 - “O fordismo caracteriza o que poderíamos chamar de socialização da proposta de Taylor, pois, enquanto este procurava administrar a forma de execução de cada trabalho individual, o fordismo realiza isso de forma coletiva, pela via da esteira.” Surge em janeiro de 1914.
422 - Benedito afirma que o fordismo é a manufatura levada ao limite extremo. Não tanto a maquinaria. É a máxima produtividade do trabalho parcelar (parece-me incorreto um pouco isso, pois a engenharia da produção e o toyotismo também não são apenas “maquinário novo”, há uma série de incentivos à produtividade do trabalho humano parcelar também. Parece-me que essas revoluções técnicas sempre atuam nas duas pontas - “capital” e trabalho). A colocação de milhares de trabalhadores, uns ao lado dos outros, fazendo movimentos parciais e repetitivos,administrando seus tempos e movimentos, ou seja, a utilização in extremis do ser humano como instrumento de produção, de forma alguma ajusta-se à noção marxista de produção à base de maquinaria. Ele continua: Trata-se, o taylorismo-fordismo, não de uma manifestação histórica quase perfeita da “antevisão” de Marx sobre o processo capitalista, mas sim da negação do conceito marxista de grande indústria. O caminho do taylorismo-fordismo significa na verdade um “desvio mediocrizante” do capitalismo no que se refere ao desenvolvimento. Discordo totalmente.
423 - Amplitude do fordismo é um pouco menor do que o que necessariamente se pensa: As técnicas produtivas de Ford apenas apresentam uma esmagadora vantagem de custo na produção de bens duráveis complexos, inicialmente automóveis e produtos elétricos, e posteriormente no campo dos produtos eletrônicos, os quais incluem bens de consumo e de produção. Isto forneceu à produção em massa um campo substancial de aplicação: num levantamento recente sobre a indústria manufatureira britânica, 13% das plantas da amostra produziam produtos que continham mais de 1000 componentes. Todavia, para o caso dos bens de consumo simples, como vestuário e móveis, as técnicas de produção em massa possuem uma vantagem limitada. As indústrias de processo, intensivas em capital, como siderúrgica e química, seguiram por um caminho próprio antes e depois de Ford. É portanto bastante compreensível que a maior parte das plantas nas economias avançadas não contenham linhas de montagem; o mencionado levantamento sobre a indústria manufatureira britânica mostrou que 31 % das plantas da amostra utilizam linhas de montagem, e apenas metade delas acionadas mecanicamente. As inovações de Ford foram importantes, mas elas dificilmente podem se responsabilizar por toda a trajetória de desenvolvimento das economias avançadas.
424 - O trecho acima é de um livro de Piore e Sabel de 1984.
425 - Benedito crê que o brilhantismo do capital está na automação, a “dispensa” do trabalho vivo. Caminho para o qual está voltando com a “microeletrônica”.
426 - Enfim, algumas discordâncias, mas texto interessante. Quer saudosismo quanto ao fordismo. Afinal: o taylorismo-fordismo chancela a forma social capitalista. Uma forma técnica lastreada no trabalho humano, que induz ao emprego de milhares de trabalhadores parciais/desqualificado, é perfeitamente assentada à forma social capitalista; o sonho da eternidade capitalista teria encontrado sua base técnica adequada.
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