Econ - Alguns Textos Interessantes de João Sobre a Crise e Recuperação III

 (continuação...)

302 - O plano apresentado em Setembro de 2008 pelo secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Hank Paulson, e pelo presidente da Reserva Federal, Ben Bernanke, previa originariamente o emprego de 700 milhares de milhões de dólares para socorrer o sistema financeiro do país, uma quantia que representa cerca de 6% do Produto Interno Bruto; mas é preciso recordar que, segundo um estudo realizado por dois economistas do Fundo Monetário Internacional, Luc Laeven e Fabian Valencian, as crises bancárias têm em média implicado um custo equivalente a 16% do Produto Interno Bruto. Como qualquer aluno do primeiro ano de Economia sabe que os bancos centrais foram criados precisamente para impedir os pânicos financeiros e os colapsos bancários, e também não ignora com que consequências catastróficas a Reserva Federal norte-americana deixou que falissem centenas de bancos no começo da grande depressão da década de 1930, admito que os políticos que tomaram aquela atitude, tanto os que se reclamam do marxismo como os adeptos do livre mercado, o fizessem não por incompetência mas por demagogia.

303 - O segundo texto é de 2010 e é sobre o declínio dos EUA. E, para me reportar ao plano em que a crise se desencadeou, as dívidas das firmas financeiras norte-americanas aumentaram continuamente durante as duas décadas anteriores a 2008, passando de 39% do PIB para 111%. Os acontecimentos de 2007 e 2008 vinham já a ser preparados desde há algum tempo.

304 - Em 1989, 47% dos agregados familiares de «classe média» contraíram uma hipoteca, e a percentagem passou para cerca de 60% em 2007.

305 - Verdadeiramente grave é o desemprego a longo prazo porque, além de reflectir uma crise séria na actividade produtiva e de ter efeitos especialmente negativos sobre os rendimentos familiares, leva o desempregado a esquecer gradualmente muitas das suas qualificações e impede-o de adquirir qualificações novas. (...) É preferível para o capitalismo reduzir as horas de trabalho do que reduzir os postos de trabalho.

306 - Ora, não parece que os Estados Unidos estejam aptos a conseguir um arranque da produtividade tal que absorva a enorme quantidade de desempregados. (Ocorrem que aumento do emprego pode se dar sem muita alteração na produtividade, como mostram algumas políticas econômicas populistas. Trump fez quase isso).

307 - Ele parece saber disso. As despesas de consumo e os investimentos em habitação aumentaram de 67% do PIB em 1980 para 75% em 2007 e foram responsáveis, logo antes da recessão, por mais de 70% das despesas totais, e por 77% do crescimento económico entre 2000 e 2007. (...) Ora, o salário mediano dos trabalhadores norte-americanos, avaliado em termos reais, manteve-se praticamente sem alterações desde a década de 1970, por isso o nível de consumo elevado implicou uma alta taxa de endividamento.

308 - Richard Berner, um dos directores e dos principais economistas da firma financeira Morgan Stanley, calculou que nos dez anos anteriores a 2009 a proporção dos rendimentos familiares destinada ao serviço da dívida aumentou de 12% para 14%.

309 - A dívida privada e do governo subiu e a balança de conta corrente tornou-se negativa em 6% do PIB em 2006. (...) Em vez de servir directamente para as empresas norte-americanas expandirem as suas operações, o afluxo de capitais estrangeiros serviu, em boa medida, para a população do país ampliar o seu consumo, e só por aí se activou a economia, o que indica uma estrangulação da produtividade.

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