Econ - Agenor Castoldi - Texto VIII (Parte 2)
(continuação...)
205 - Contas externas e anos 80: As crises externas de 1982-1983, de 1987 e de 1998-1999 foram superadas a partir de fortes desvalorizações da moeda brasileira. De outro lado, as prefixações da correção cambial de 1980, o congelamento do câmbio no Plano Cruzado e a política cambial do real mostraram que, quando a moeda local fica supervalorizada, a crise no setor externo acontece, inevitavelmente.
206 - Desvalorização está sempre associada à redução do ritmo de uma economia, eis que diminui o poder de compra de produtos importados, diminuindo a demanda agregada parcialmente, portanto. Desincentiva esse consumo por pessoas e empresas (importar máquinas etc.). É normal que venha com retração da atividade econômica, portanto.
207 - Quem precisa de moeda estrangeira e pressiona o câmbio? i. os importadores de mercadorias que necessitam de moeda estrangeira para pagamento de suas faturas; ii. os agentes que necessitam de moeda estrangeira para saldar dívidas contraídas anteriormente; iii. as empresas estrangeiras que atuam no Brasil e desejam remeter lucros para a matriz; iv. os turistas brasileiros que viajam para o Exterior, necessitam de moeda estrangeira para efetuar seus gastos. A partir destes agentes, temos a demanda brasileira por moeda estrangeira. Porém, ao mesmo tempo, estes agentes também estão oferecendo reais no mercado cambial.
208 - E quem quer “Real”? i. os exportadores brasileiros; ii. os estrangeiros que querem investir no Brasil; iii. os tomadores de empréstimos no exterior; iv. os turistas que trazem moeda estrangeira para o Brasil.
209 - Um aumento dos investimentos estrangeiros no Brasil significa um aumento na oferta de moeda estrangeira e também um aumento na demanda de reais. (Creio que as privatizações da década de 90 ajudaram a manter o real valorizado)
210 - Câmbios: livre, fixo e minibandas. Uma das características do câmbio livre é sua alta volatilidade, como ocorreu no Brasil em 1999 e em 2002. Os males são incertezas para os agentes produtivos - galera que precisa importar e etc. Essa volatilidade faz com que a maior parte dos países do mundo adotem o sistema chamado de “flutuação suja”. Nesse sistema, o câmbio flutua livremente, mas dentro de certos limites que o Banco Central não comunica ao mercado. (Creio que é como um jogo de pôquer. O mercado não pode perceber os parâmetros exatos, senão fica fácil fazer ataque especulativo).
211 - No fixo, há a âncora cambial. No Brasil, assistiu-se a vários congelamentos de taxas de câmbio, como no Plano Cruzado e Verão, mas os resultados em termos de combate a inflação, não tiveram êxito. (...) o país precisa contar com um bom nível de reservas, para que o Banco Central possa fazer frente a eventuais ataques especulativos (agentes querendo trocar moeda local por moeda estrangeira acreditando que a paridade fixa não vá se manter). Se desajustar demais as contas externas pode levar a uma moratória, como em 1987.
212 - O terceiro sistema é, na verdade, um meio termo entre os dois primeiros: é o sistema de minibandas, no qual o governo estabelece (e informa ao mercado) mini-intervalos, em que o Banco Central garante que a moeda estrangeira permanecerá. Se necessário, o Banco Central compra ou vende divisas para manter sua cotação dentro da minibandas. O Brasil meio que usou de 1995 a 99.
213 - O conflito entre manter as contas externas equilibradas e combater a inflação tem levado a uma grande discussão sobre qual a taxa de câmbio “adequada” para um país.
214 - A teoria de paridade do poder de compra diz que, a partir de uma situação de equilíbrio, a variação da taxa cambial será igual à diferença entre a inflação interna e externa. Se essa diferença vai subindo de forma relevante (inflação maior aqui) e o câmbio vai se mantendo fixo… As exportações vão sendo brutalmente desincentivadas. Eis que os custos de produção sobem nominalmente em ritmo maior que o preço externo do bem vendido. Podendo comprimir a taxa de lucro mesmo em caso de leve aumento da produtividade nacional (em comparação ao aumento de produtividade internacional), outro fator que influencia o câmbio.
215 - Outra questão importante, que impacta a evolução da taxa cambial, refere-se ao índice de relação de trocas de um país. O índice de relação de trocas é a relação entre o índice de preços de exportação (Px) e o índice de preços dos produtos importados ( Pm). Se essa relação é desfavorável ao país (isto é, os preços de importação sobem mais qu e os de exportação), a diferença deve ser “compensada” com a desvalorização do câmbio. Desvalorizar para evitar déficits.
216 - Observação importante: nem tudo é dólar. O procedimento mais correto seria levar em conta uma cesta de moedas, com a participação ponderada dos países com os quais o Brasil mantém comércio.
(continua...)
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