Econ - Alguns Textos Interessantes de João Sobre a Crise e Recuperação II

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293 - O facto de as companhias transnacionais investirem mais nos países ricos do que nos pobres explica-se porque, ao contrário do que muitas vezes se supõe, não é com a miséria mas com a produtividade que os capitalistas obtêm lucros.

294 - Na indústria chinesa a produtividade do trabalho progrediu muito mais rapidamente do que o montante dos salários, a tal ponto que, segundo cálculos de The Economist, embora os salários tivessem duplicado entre 2000 e 2006, os custos laborais unitários reduziram-se quase para metade.

295 - Em Novembro de 2008 o Conselho de Estado chinês anunciou um conjunto de medidas de reactivação da economia no montante de 4 biliões de yuans, equivalente a 586 milhares de milhões de dólares e correspondente a 14% do Produto Interno Bruto calculado para 2008. Esta quantia destina-se a ser gasta em 2009 e 2010 em infra-estruturas e construções, na agricultura e na promoção do bem-estar social. Além disso, foram anunciadas reduções de impostos para as empresas e transferências de rendimentos em benefício da população mais pobre e nomeadamente dos camponeses. Mesmo que estas medidas não correspondessem ao montante anunciado porque algumas delas já estivessem previstas anteriormente, trata-se talvez da maior intervenção realizada até hoje por qualquer governo num período de dois anos. Igualmente significativo é o facto de em Janeiro de 2009 o governo ter anunciado despesas suplementares de 850 milhares de milhões de yuans num período de três anos, destinadas a melhorar o sistema de saúde, e ter decretado descontos de 13% na compra de electrodomésticos pela população rural, o que indica a disposição de incentivar o mercado de consumo particular.

296 - Coloca que o protecionismo de tarifas aduaneiras tem sido driblado pelos investimentos estrangeiros diretos em um país. Daí chega a falar em irrelevância do conceito de comércio exterior. (O que é um baita salto lógico pra mim). (...) a maior parte do que as estatísticas continuam a considerar como transacções entre economias nacionais ocorre no interior das firmas transnacionais.

297 - Segundo um estudo da economista e gestora DeAnne Julius, no final da década de 1980 o comércio entre sociedades e as suas filiais no estrangeiro foi responsável por mais de metade do comércio total entre os países da OCDE. Na mesma data, 1/3 das exportações norte-americanas dirigiu-se para empresas situadas no estrangeiro que eram propriedade de firmas sediadas nos Estados Unidos e outro 1/3 foi constituído por bens que empresas estrangeiras com filiais nos Estados Unidos enviaram para os países onde tinham a sede. Em sentido inverso, em 1986 cerca de 1/5 das importações dos Estados Unidos proveio de companhias de propriedade norte-americana localizadas no estrangeiro e cerca de 1/3 compôs-se de bens que companhias de propriedade estrangeira situadas nos Estados Unidos adquiriam aos países onde tinham a sede. (...) o que a opinião vulgar considera como exportações da China são na realidade vendas de companhias transnacionais.

298 - No final de 2005 as quarenta maiores companhias transnacionais empregavam em média 55% da sua força de trabalho e obtinham 59% dos seus lucros fora do país onde possuíam a sede.

299 - Algumas firmas, por exemplo a Lenovo, que no final de 2004 comprou à IBM a divisão de computadores portáteis e de secretária e cujo maior accionista é o governo chinês, dispensam até a noção de sede e os principais administradores reunem-se rotativamente nas várias bases implantadas pelo mundo.

300 - Mercado tem o poder de corrigir os excessos do monetarismo: Numa situação em que a economia crescia, em que a emissão monetária central não acompanhava esse crescimento e em que as empresas dispunham de grande liberdade de actuação, era inevitável que o dinheiro bancário e o crédito atingissem níveis sem precedentes.

301 - Interessante: As dificuldades da General Motors datam de há muito e resultam fundamentalmente de não ter sido capaz de se adaptar aos novos sistemas produtivos desenvolvidos pelas firmas japonesas, que ditaram o fim do fordismo. Mas se esta companhia sentiu tão velozmente a crise, isto deve-se talvez ao facto de só o seu departamento de crédito ao consumidor ter sido verdadeiramente rentável. Foi em 1919 que a General Motors começou a oferecer financiamento para a compra dos seus automóveis, e nos meados da década de 1980 os departamentos de crédito ao consumidor da General Motors, da Ford e da Chrysler financiavam mais de 1/3 dos carros vendidos por estes três fabricantes, obtendo tal volume de lucros que adquiriram outras firmas, expandiram a actividade financeira e começaram a proceder a hipotecas. Em 1985, se o departamento de crédito ao consumidor da General Motors estivesse registado como banco, seria o quinto maior dos Estados Unidos. Nos primeiros anos da década de 1990, quando a General Motors sofria um prejuízo de cerca de 1.500 dólares por cada veículo vendido nos Estados Unidos e no Canadá, o departamento financeiro era um dos poucos rentáveis e contribuía para assegurar a sobrevivência da companhia. Esta situação continuava a verificar-se em 2002, sendo todo o rendimento líquido proveniente do ramo financeiro. Tecnicamente, a General Motors já não era um fabricante de automóveis, mas uma instituição bancária que fabricava automóveis para proceder a operações de crédito. Nos dois anos seguintes a produção de veículos voltou a ser rentável, mas sem que por isso os lucros da companhia deixassem de depender sobretudo do departamento financeiro.

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