Econ - Textos Variados XXIV

 

Paulo Gala e Outros - Armadilha da renda média e os obstáculos à transformação estrutural:


231 - E por que alguns países, como a Coreia do Sul, Israel, Irlanda e Singapura, conseguiram se desenvolver, enquanto muitos outros ficaram pelo meio do caminho? (...) a especialização em produtos de alto valor agregado e intensivos em conhecimento parece ser a estratégia adequada para a criação de bem estar econômico (Chang e Lin 2009).

232 - Autores: Outros sugeriram que esses países não apenas realizaram seus catching-­up, ou alcance de padrões elevados de desenvolvimento, mas também fizeram o que economistas têm chamado em inglês de leapfrogging, ou seja, conseguiram atingir altos níveis de renda e produtividade ao pular etapas anteriormente cumpridas pelos países líderes (Lee, 2013).

233 - Prebisch, Myrdal, Furtado e afins: Com base na hipótese de que a estrutura produtiva afeta o ritmo e a direção do desenvolvimento econômico, a literatura estruturalista destaca a importância da industrialização enquanto processo de transformação estrutural necessário para o desenvolvimento econômico.

234 - Armadilha da renda média: Por um lado, nesse nível de renda sua mão-­de-­obra já seria relativamente cara, o que reduziria sua competitividade no mercado internacional de bens de baixo valor agregado. Por outro, ainda não teriam atingido um nível de sofisticação estrutural suficiente para competir internacionalmente em setores de bens e serviços de alto valor agregado.

235 - O Índice de Complexidade Econômica (“Economic Complexity Index“ – ECI) mede a intensidade de conhecimento de um país ao considerar a diversidade e a ubiquidade dos produtos que o mesmo exporta (Hidalgo e Hausmann, 2009;; Hausmann et al., 2014). O ECI não considera apenas o nível agregado de produção, como Produto Interno Bruto (PIB) per capita, mas também quantos e quais tipos de produtos os países são capazes de exportar. É, assim, uma versão em alta resolução do PIB. Por exemplo, embora muitos países exportem apenas produtos agrícolas, apenas um número relativamente limitado deles são capazes de produzir e exportar maquinário sofisticado.

236 - A curva S de complexidade econômica (Figura 1) baseia-­se em dados de 116 países entre 1970 e 2010. A curva ilustra como os países se aproximaram da produção de bens complexos durante o processo de desenvolvimento econômico.

237 - Gráficos não muito bem explicados a meu ver, mas que mostram a relação quase intuitiva entre riqueza e complexidade.

238 - Muitos autores têm apresentado o caso de Singapura como sendo um caso de sucesso “puramente” movido pelo mercado: distorções mínimas de preços; abertura para o mercado externo; fluxos tecnológicos e de investimento; prudência fiscal e monetária; elevada poupança e elevado investimento. Contudo, como afirmam muitos outros autores, Singapura é um exemplo perfeito de como o planejamento estatal e a intervenção do governo na economia podem criar vantagens competitivas nacionais por meio de política industrial seletiva.

239 - … Anos 70: A isso se seguiu a adoção de uma estratégia comum entre países asiáticos à época de adotar um modelo de industrialização voltado para exportaçõesPara atrair mais empresas multinacionals (EMNs), a ilha explorou sua localização comercial estratégica, investiu em infraestrutura física e numa força de trabalho cada vez mais qualificada. Assim, ao contrário da maioria dos países da região, como a Coreia do Sul, o país deixou de lado o desenvolvimento de empresas nacionais nas fases iniciais e não criou empresas locais, o que teria consequências profundas em termos do desenvolvimento de tecnologia nativa. (...). À medida, entretanto, que Singapura se desenvolveu economicamente, sua vantagem competitiva em custos diminuiu em termos comparativos e países como China, Indonésia e Tailândia começaram a oferecer custos operacionais mais atraentes. Por isso o país precisou novamente alterar sua estratégia de desenvolvimento na década de 1990, e passou a focar em empreendimentos locais. Para isso o governo introduziu políticas industriais para maximizar o potencial de crescimento econômico por meio do desenvolvimento empreendedor. Investiu em pesquisa pública e incentivou o empreendedorismo das empresas do setor privado na conquista de vantagens competitivas de nicho na economia global, dominada por agentes maiores e oligopolistas (Goh, 2006). Além disso, foram lançados diversos planos nacionais, como o SME Master Plan, de 1998, e o Technopreneurship 21, de 1999 (Yue 2005). Esse esforço de promoção de P&D nativo ainda está em processo e é crucial para compreender o atual êxito econômico do país. (Há um porém gigante nessa história toda. Os índices econômicos de Cingapura já eram de rico desde 1970 ou antes, salvo engano)

240 - Coréia: Segundo Lee (2013), as empresas coreanas passaram por um longo período de aprendizagem, no qual assimilaram e adaptaram tecnologia estrangeira nas décadas de 1960 e 1970 antes de terem começado a internalizar a realização de P&D, em meados dos anos 1980. No começo de sua industrialização, a Coreia do Sul desenvolvera setores tecnológicos de ciclo longo e produção de baixo valor agregado, como têxteis e perucas. Para isso, fiou-­se principalmente em fabricantes originais de equipamento (OEMs, em inglês) do tipo montadora, e adotou tarifas e sucessivas desvalorizações de sua moeda. Mais tarde, fez gradualmente a transição para setores de tecnologia de ciclo mais breve, produzindo produtos de ponta e alto valor agregado. No entanto, a partir de um determinado ponto desse processo, empresas locais passaram a adotar uma estratégia de “pular etapas” realizadas por empresas de outros países. Isso significou produzir produtos de design próprio efetivamente inovadores, que renderam direitos de propriedade intelectual (IPRs, em inglês), de modo a evitar a importação de produtos caros. Na década de 1980, a LG, por exemplo, tomou um “atalho” e ao invés de replicar a tecnologia japonesa de TVs analógicas de alta definição, passou a produzir diretamente TVs digitais de alta definição. O sucesso desses produtos no mercado global exigiu forte intervenção do banco central sul coreano no mercado cambial do país para manter a competitividade do Won e promover suas exportações industriais.

241 - Irlanda: O governo irlandês decidiu desenvolver e adotar uma política industrial focada na atração de investidores estrangeiros dos setores mais dinâmicos da economia mundial na época, como computação, química e petroquímica. A estratégia foi implantada pela Autoridade de Desenvolvimento Industrial (Industrial Development Authority – IDA). A IDA foi eficiente, atraindo diversas grandes empresas, como Intel, IBM, Motorola e Microsoft (Godoi, 2007). Em poucas décadas a economia irlandesa passou de predominantemente agrícola e de manufaturas tradicionais para uma economia baseada na produção de alta tecnologia e na oferta de serviços internacionais sofisticados. Com isso, o país se tornou um dos maiores exportadores de software do mundo e é, atualmente, altamente competitivo e setores como o de produtos químicos, e de tecnologia da informação e comunicação (TIC), que representaram 35% das exportações nacionais em 2014.

242 - Algumas partes sobre Irlanda e Israel são bastante mal explicadas. Aliás… Em geral… Explicações de uma página sobre sucesso econômico de décadas de um país - e os cem fatores que seriam passíveis de análise nesse sentido - tende a ser algo pretensioso.

243 - Todos esses países implantaram políticas industriais com eficiência.

 

 

Pedro Herculano G Ferreira de Souza - Há subsídio do Estado para a saúde dos mais ricos no Brasil:

244 - Pesquisador do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (IPEA), Souza se debruça nos dados de Imposto de Renda, em contraste com as pesquisas clássicas que levavam em conta a renda declarada em pesquisas domiciliares, e traça um perfil de um país no qual o 1% mais rico concentra 25% de toda a riqueza nacional. É esse arsenal de informação sobre a desigualdade brasileira nos séculos XX e XXI, incluindo a era PT, que ele agora compartilha e estuda conjuntamente com Marc Morgan, da equipe de Thomas Piketty, que mantém uma base de dados global sobre o tema (ainda que nossa Receita seja muito mais fechada do que em outros lugares do mundo).

245 - Um dos problemas graves é a chamada pejotização, a pessoa que começa a receber como empresa, porque paga menos impostos, e aí depois repassa lucros e dividendos para ele mesmo sem pagar imposto adicional. A renda dos mais ricos é cada vez mais dominada por esses rendimentos que são isentos. Se você pega os dados da Receita, entre os mais ricos as alíquotas efetivas começam a cair bem no topo. Temos que ampliar a base tributável para incluir, no limite, todas as rendas, o que significaria tributar renda e capital do mesmo jeito ou do jeito mais parecido possível.

246 - (...) Em segundo lugar, devemos limitar ou reduzir as deduções, que estão beneficiando só quem declara Imposto de Renda. Por definição, são os 10% ou 20% mais ricos. Em alguns casos, como no caso de deduções de saúde, que não têm limite, acabam sendo muito altas. E acaba sendo uma forma de subsídio do Estado para pagar plano de saúde.

247 - IR: Países muito parecidos ao Brasil têm alíquotas que chegam a 35 ou 40%, um patamar razoável num futuro próximo.

248 - A maior parte dos Estados cobram muito pouco também. Em alguns países chega a 40%, mas no Brasil a alíquota máxima é de 8%. Tem também o IPTU, um tributo potencialmente muito bom, inclusive do ponto de vista econômico, mas a maior parte dos municípios não cobram ou cobram muito mal, com isenções, valores desatualizados, alíquotas baixas... Quando se tenta fazer IPTU progressivo, sempre dá em judicialização.

249 - Em Números de 2015 com valores atualizados pela inflação, um adulto com renda entre 4.000 e 5.000 reais por mês já está entre os 10% mais ricos. (...) Mas para estar entre o 1% mais rico, teria que ganhar a partir de 20.000 a 22.000 reais por mês. No 0,1%, entre 75.000 a 80.000 reais por mês em valores atuais. (...) Esse 1% mais rico é composto por 1,5 milhão de pessoas e possui 25% da renda nacional. Se você faz uma ótima reforma tributária, esses 25% não vão cair para 10%, como é na França. Mas de repente vira 20%, o que não é uma revolução, mas é uma melhora significativa.

250 - Desigualdade de renda extrema: Vai ter mais acesso ao político, ao juiz, vai fazer doação de campanha... Uma série de coisas que sequer estão abertas à classe média privilegiada, muito menos ao cidadão comum.

251 - Lula: Se olhamos a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE, vemos que melhoramos muito. Mas juntando com os dados do Imposto de Renda, vemos um crescimento no topo, um crescimento entre os mais pobres, e quem ficou no meio perdeu em termos relativos. A gente redistribuiu renda, mas não foram os mais ricos que perderam.

252 - "A pessoa com alta renda vai transformar aquele capital econômico e cultural em investimento para seu filho. Um vai aprender grego e o outro vai estar na fila do ônibus".

253 - Afirma que, à exceção do período de guerras, não viu país caminhando fortemente em direção à igualdade: França e Japão eram muito desiguais, mas dez anos depois da guerra eram sociedades muito mais igualitárias.

254 - …Tem a destruição da guerra e também os picos de inflação, então quem investiu perdeu muito dinheiro. Mas além desses dois fatores, em vários lugares a barganha dos Governos foi do tipo "seu filho vai ter que morrer no campo de batalha, eu sei que preciso de legitimidade, então vamos distribuir sacrifícios de modo mais ou menos igualitário". Foi um período que expandiu tributação de rendas e de heranças com a retórica de que os mais ricos estavam dando a contribuição para a guerra. No Japão você teve reforma agrária, conselho de trabalhador nas empresas, regulamentação de salário... Quer dizer, era a ideia de que todos estão no mesmo barco com todos lutando juntos. A social-democracia é uma conquista que ajuda a diminuir a desigualdade, ou é algo conquistado por uma desigualdade mais baixa? Sempre tenho essa dúvida.

255 - Afirma que a desigualdade desde os anos 80 ou 90 tem ficado igual ou piorado nos países desenvolvidos.

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