Econ - Melhor Artigo Sobre Crescimento Econômico - Fabrício de Assis C. Vieira e Márcio Holland II
(continua...)
98 - A perspectiva que este texto segue: Thirlwall (1991) considera que países que produzem e exportam bens primários (e/ou menos elaborados tecnologicamente) terão uma restrição em seu crescimento (em relação aos países mais industrializados) devido ao desequilíbrio no balanço de pagamentos, caso os termos reais de troca entre bens primários e industriais não mudem. Assim, o autor considera que, para vários países, o crescimento é restringido pelo balanço de pagamentos antes que as restrições advindas da oferta venham à tona, o que difere da abordagem de Krugman (1989), para o qual diferenças nas taxas de crescimento dos países se devem principalmente às diferenças na taxa de crescimento da produtividade total dos fatores. (As hipóteses me parecem associadas. Creio que a questão é qual causa qual, não?)
99 - Correlações: (...) pode-se dizer que a tendência ascendente ao crescimento econômico esteve muito fortemente associada à melhoria nos termos de troca. Ao mesmo tempo, o colapso nas taxas de crescimento econômico do país pode ser expresso também na extraordinária deterioração dos preços relativos. Porém, o próprio texto se pergunta qual a causalidade que há nessa associação “crescimento <-> termos de troca favoráveis”.
100 - Solow estaria errado ou incompleto para Thirlwall, o qual, como representante da literatura do crescimento endógeno, enfatiza a importância, para o crescimento, dos retornos crescentes de escala e a produção de novos conhecimentos (tecnologias).
101 - Coloca Romer como um dos grandes contribuidores dessa literatura também.
102 - A longa discussão econométrica eu boiei obviamente. Estudos para o ano que vem. Quando um teste não confirmou a equação… : Thirlwall (2005) argumenta que tal teste só seria legítimo com a inclusão de todos os países do mundo, em que os déficits se igualariam aos superávits e as divergências existentes entre b y e y se anulariam, o que não ocorre em uma amostra pequena.
103 - Dados de Moreno-Brid e Pérez (1999) mostram que, no período 1950-1996, a Costa Rica apresentou uma maior taxa de crescimento econômico dentre os países pesquisados, com alta taxa de crescimento das exportações e pequena deterioração nos termos de troca. Por sua vez, a Nicarágua apresentou a menor taxa de crescimento do PIB e uma maior deterioração em seus termos de troca, sendo que a contribuição desta última variável para o crescimento da renda compatível com o equilíbrio do BP foi de 20%, enquanto a contribuição do crescimento das exportações foi de 80%.
104 - Tem duas formas de aplicar o modelo de Thirlwall. Usaram ambos para a análise 1900-2005, com dois subperíodos. As taxas de crescimento da renda serão estimadas considerando dois modelos: a “regra simples”, sem a inclusão dos termos de troca e fluxos de capitais; e o modelo dito estendido, ou seja, com a inclusão dos termos de troca.
105 - “...não foi encontrada nenhuma relação de longo prazo entre as variáveis PIB e importações, e entre PIB, importações e termos de troca…”
106 - Não sei exatamente o significado disso: Esse período (1900-1970) também foi o único em que os termos de troca apresentaram uma variação média positiva, apesar de pequena (0,22%). Já no subperíodo 1971-2005 e no período 1900-2005, os termos de troca tiveram variação média negativa de -2,71% e -0,79%, respectivamente. Nem isso: Tal resultado indica a importância de incluir os termos de troca na função de demanda por importações, e vai contra a evidência empírica para a economia americana apresentada por Atesoglu (1993), em que a elasticidade-renda estimada não foi afetada consideravelmente pelos termos de troca.
107 - Interessante que o Brasil “se abriu” num momento que, ao que entendi, não foi o mais favorável: Em comparação com os outros períodos, 1971-2005 foi o período de maior crescimento das exportações (média de 10,9% a.a.), das importações (média de 9,2% a.a.), e o período de maior queda nos termos de troca (-2,79% a.a.).
108 - Modelo Thirlwall: Tal modelo se difere dos modelos neoclássicos de crescimento econômico, bem como dos modelos de crescimento endógeno, ao atribuir como causas para as diferentes taxas de crescimento da renda dos países as diferenças nas taxas de crescimento da demanda.
109 - Veja, por exemplo, a pesquisa mais recente de Prasad, Raghuram e Subramanian (2006), que apontam para o fato de economias em desenvolvimento mais dependentes dos fluxos de capitais cresceram menos. De outro lado, não se pode negar que períodos de maior liquidez internacionais estão associados com um pouco mais de crescimento econômico nas economias latino-americanas (Holland; Vieira, 2005).
110 - Os preços relativos (termos de troca) foram significantes na função de demanda por importações. (...) Ou seja, os termos de troca devem mesmo afetar o crescimento econômico de longo prazo no Brasil, mas muito provavelmente através da estrutura de especialização das importações e exportações, mais do que diretamente sobre as taxas de crescimento. A estrutura de especialização das importações e exportações, por sua vez, têm papel essencial no crescimento econômico brasileiro.
111 - O aumento da elasticidade-renda da demanda por importações do subperíodo 1900-1970 para o subperíodo 1971-2005, de 1,51 para 2,62, nos diz algo sobre a importância de se dividir a amostra em subperíodos. Evidências apontadas por Hieke (1997), para a economia americana, também mostram mudanças nos valores da elasticidade-renda de um subperíodo para outro. (…) Por fim, dado que a taxa de crescimento da renda tem relação inversa com a elasticidade-renda da demanda e dado que os termos de troca possuem algum impacto nessa elasticidade e na taxa de crescimento estimada da renda, pode-se dizer que se o Brasil quiser aumentar sua taxa de crescimento de longo prazo, é necessária a adoção de políticas que aumentem sua competitividade internacional. Assim, políticas que permitam que haja um aumento na taxa de crescimento das exportações de bens mais elaborados tecnologicamente, bem como políticas que favoreçam uma queda na elasticidade-renda da demanda por importações seriam bastante benéficas para o crescimento econômico brasileiro.
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