Econ - Moisés Wagner Franciscon - Mercado e Iniciativa Privada na URSS
Moisés Wagner Franciscon - Mercado e Iniciativa Privada na URSS:
151 - O comunismo de guerra não conseguiu fazer o mercado desaparecer. Bens, como relógios, poderiam ser trocados por comida; as feiras livres não desapareceram. O mercado negro sobreviveu e prosperou nas sombras.
152 - Em 1930-33, buscou-se o incentivo moral, destacando a importância do trabalho dos técnicos. Criaram-se honrarias e uma profusão de medalhas e prêmios. Em seguida, optou-se por estímulo material. Os salários foram diferenciados mais profundamente que antes, de acordo com a função. Surgiu o stakanovismo, uma política de bônus extras em dinheiro, e tão ou mais importante, o primeiro lugar na fila, o que garantia a obtenção de produtos, que poderia não ocorrer com aqueles do fim da fila. Para se tornar um stakanovista, os trabalhadores precisavam se inscrever e tentar superar as cotas de produção. Durante a Segunda Guerra, medidas liberalizantes foram tomadas no campo, com o aumento do tamanho dos lotes privados, cuja produção era livremente vendida nas feiras pelos camponeses. Assim que a guerra terminou, no entanto, essa política de maior iniciativa no uso da terra foi abolida.
153 - Objetivos de Kruschev: Transferir o foco do investimento produtivo soviético dos bens de capital para os bens de consumo, de hidrelétricas para apartamentos.
154 - Para tanto, apostou na descentralização: O plano quinquenal de 1955-60 foi elaborado não apenas pela junta específica e restrita dos economistas do Gosplan, mas sim com a participação de diretores de indústrias, das lideranças republicanas e locais do PCUS, de chefes de sindicatos. Houve “ abolição dos ministérios centrais, que eram os condutores da economia até então, e sua substituição por 105 conselhos econômicos regionais.” Reduzidos a 43 em 1962.
155 - A reestruturação teria ainda finalidades políticas. As autoridades locais do partido e do Estado, ao contrário dos ministros em Moscou, seriam pressionadas pela opinião pública, que estariam sempre informados do que acontecia sob seus olhos, na própria região. A opinião pública seria fator de lisura e eficiência.
156 - Os ministérios nunca voltaram a recuperar todo o seu poder, apesar de serem reempossados em Moscou pelo sucessor de Kruschev, Leonid Brejnev. O gulag foi fechado, sobrevivendo apenas prisões agrícolas ou extrativistas, quase totalmente preenchidas por bêbados e criminosos comuns.
157 - Crítica de Lewin a Kruschev: A intenção de descentralizar e democratizar o gerenciamento da economia era boa, mas os sovnarkhozy mostraram-se incapazes de assegurar a necessária especialização em termos de departamento, onde ocorre o essencial desenvolvimento tecnológico. Priorizaram as relações com as empresas nas suas regiões, negligenciando os problemas transversais peculiares aos departamentos.
158 - Ao mesmo tempo, Kruschev tomou decisões que restringiam o mercado: ao aumentar os incentivos salariais e o preço pago pelo Estado pelos produtos agrícolas, e sem receber o retorno esperado em produção, suprimiu as áreas de cultivo particulares, das quais os kolkozianos retiravam boa parte de sua renda, vendendo essa produção em feiras onde vigorava não a tabela de preços oficiais mas o livre mercado. Se o habitante urbano viu sua liberdade de escolha enquanto consumidor crescer, com o incremento de novos produtos – inclusive a Coca-Cola, por meio de joint-ventures estabelecidas pelos conglomerados ocidentais em conjunto com empresas soviéticas autorizadas e capitalizadas pelo governo – o agricultor viu tolhida a sua autonomia ainda mais.
159 - A liberalização de Kruschev criou novos desequilíbrios que ele não esperava. A meritocracia produtiva que estabeleceu para a promoção dos diretores de empresas e cooperativas fez com que estes construíssem redes de corrupção para fraudar os livros contábeis.
160 - Cita exemplos de decisões desastrosas no planejamento econômico.
161 - Anos sessenta: Ocorreu um aumento das relações mercantis dentro da URSS, entre suas empresas e suas repúblicas, mas não em bases monetárias, e sim pelo escambo. O Comitê Estatal de Preços tentava recriar a função do mercado na fixação dos preços promovendo reuniões com compradores, pesquisas de opinião, etc.
162 - A liberdade econômica passou das lideranças políticas centrais para as locais, no tempo de Kruschev. E agora passavam das lideranças políticas locais para os gerentes empresariais locais. O resultado da reforma de 1965 foi o retorno das boas taxas de crescimento econômico, por algum tempo.
163 - Com a maior liberdade de ação, os dirigentes das empresas começaram a criar o que se chamou de economia subterrânea ou economia cinzenta. Ao poderem negociar trabalhadores, matérias primas, fornecedores, maquinário, estocagem, modernização, etc., começaram a movimentar materiais e produtos entre si de um modo que os ministérios em Moscou não podiam mais acompanhar e fiscalizar.
164 - Nova estagnação e reformas de 1979: Esta se voltava para o estabelecimento de uma vinculação mais direta entre os incentivos materiais e o desempenho econômico; para o aumento da proporção dos bens de consumo produzidos; e para o ‘aperfeiçoamento’ do planejamento centralizado, com base nos ‘conglomerados industriais’ (em vez das empresas) como organismos principais de execução e contabilidade. O movimento, portanto, foi para o reforço dos órgãos econômicos centrais.
(continua...)
Comentários
Postar um comentário