Esquerdistas - Textos Diversos III - Ler Karl Marx, Resenha do Livro de José Paulo Netto

 

Celso Barros - Ler Karl Marx, Resenha do Livro de José Paulo Netto:

24 - José Paulo Netto fez um apanhado de textos representativos dos principais pensamentos de Marx neste livro. O Leitor de João Paulo Netto é organizado cronologicamente, e me parece especialmente adequado para acompanhar um curso sobre Marx. 

25 - O que diferencia Marx dos jovens hegelianos (Bauer e afins) é que a crítica à religião não basta, devendo ser atacado o próprio mecanismo que gera tal alienação. Por parte dos homens. Também não irá confundir, Marx, a liberdade com mera emancipação política, criação de um Estado judaico ou algo do tipo. A liberdade não pode deixar de ser uma projeção nos deuses para ser uma projeção no Estado.

26 - Resumo da filosofia da história ou materialismo histórico de Marx e Engels, presente pela primeira vez no “Ideologia Alemã”: Na produção, que é um fato ao mesmo tempo social e natural, o homem, para produzir materialmente as condições de sua vida, desenvolve os instrumentos de trabalho, as técnicas, etc. A cada estágio de desenvolvimento desse arsenal produtivo, corresponde uma forma específica de cooperação entre os homens, incluída aí, a partir de certo ponto do desenvolvimento, sua divisão em classes (como é essa passagem? quem estava certo, o Clastres ou o Engels? divirtam-se com isso). Eventualmente, um tipo de cooperação pode deixar de favorecer o desenvolvimento contínuo do progresso da produção, caso em que uma nova forma de cooperação, com novas instituições, etc., emerge. A cada um desses estágios correspondem formas ideológicas específicas – em cada época histórica, as ideias dominantes são as ideias da classe dominante, que, no momento de sua ascensão, consegue, efetivamente, apresentar seu interesse específico como interesse universal: nesses momentos, seu interesse realmente coincide com vários interesses das classes dominadas (pensem no proletariado e a igualdade perante a lei, que foi, sem dúvida, um progresso).

                27 - Celso crê que isso tudo vale mais como caixa de ferramentas para interpretar a história que propriamente um esquema dogmático.

                28 - Sobre “O Manifesto”: Começa (depois da história do fantasminha) dando uma virada no esquema da Ideologia Alemã, declarando que a história “até hoje” é a história da luta de classes. Divirtam-se conciliando essa versão, que sugere um papel importante para a ação política, com a versão do Prefácio, que parece mais determinista.

                29 - Sobre “O Capital” ter sido terminado ou não: ... Para citar duas coisas que causam um certo desconforto para os que tentam tratar a obra do Marx como um sistema fechado: no terceiro volume do Capital, as sociedades por ações são descritas como eliminação da propriedade privada dentro do capitalismo, uma citação que outro dia foi ressucitada pelo partido de governo do país mais “Manchester XIX” do mundo atual, a China; e, nos Grundrisse, temos o célebre “fragmento sobre as máquinas”, em que se discute a possibilidade de algum negócio esquisito (suspensão, abolição, transformação? divirtam-se) acontecer com a lei do valor dentro do capitalismo, conforme avança a mecanização. Ou O Capital não está terminado, ou terminou de um jeito bem esquisito.

                30 - Afirma que a revolução da liberdade mesmo seria quando a redução da jornada de trabalho se tornasse o principal objetivo.

                31 - Planificação socialista: Problema Um: … como seria o processo de planificação. Isso Marx não sabe. Justamente porque não se diz como o “socialmente necessário” do trabalho (que é a fonte de todo valor) seria calculado se, como normalmente se supõe, o mercado for abolido. Procurem aí no Google “debate sobre o cálculo socialista”. E divirtam-se. Há inclusive uma literatura sobre “socialismo de mercado” que tenta resolver a questão admitindo que, sem mercado, fica difícil.

                32 - O Estado operário é a Comuna de Paris: todos os funcionários públicos são eleitos e sujeitos a recall, ganham o salário de um operário, e têm pouquíssima autonomia (bem fiscalista, Marx diz mesmo que o proletariado realiza o objetivo burguês do “governo barato”). Esse Estado, organizando o planejamento das cooperativas dos trabalhadores livremente associadas, vai produzindo o comunismo. Tendo isso em mente você entende porque, quando apareceram os conselhos de trabalhadores (os soviets) na Rússia revolucionária, os marxistas se entusiasmaram tanto: os soviets eram bem parecidos com o esquema da Comuna.

33 - Celso Barros comentando a “Crítica ao Programa de Gotha”: Na transição para o socialismo, há um período em que o proletariado toma o poder e o utiliza para suprimir o capitalismo, a “ditadura do proletariado”. Me parece claro que ele se referia ao Estado da Comuna: a crítica era, no fundo, à estratégia de utilizar a democracia representativa (e não aquele esquema democracia direta bem anarquistona da Comuna) como instrumento da construção socialista. Agora, visto que um dia, décadas depois, uma ditadura totalitária buscaria legitimação em Marx, não há como não lamentar que ele tenha usado “ditadura” para descrever sua versão da Comuna — e, reconhecido seja o mérito, Bakunin, que quase só falou besteira na vida, dessa vez bem que avisou que ia dar merda.

34 - Sobre violência, Marx claramente torcia até para que não houvesse e citava países onde talvez isso fosse até evitável. Porém, jamais parece ter imaginado quão sanguinária seriam algumas das ditaduras legitimadas no marxismo. Pensava mais na violência a la Revolução Francesa.

35 - Para Celso, o Estado e certo keynesianismo são necessários em razão da incapacidade de um planejamento descentralizado levado a cabo por conselhos operários ou algo do tipo.

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