Direitistas - Textos Diversos V - A Ética e a Economia da Propriedade Privada (Hoppe)

 (continuação...)

Do fato da propriedade privada e da apropriação original serem elementos objetivos não implica uma lei ou princípio objetivo universal. É interessante porque o marxismo incorre no mesmo erro, tentando utilizar categorias consideradas "objetivas" como trabalho, classe social, exploração, trabalho abstrato, etc. Também incorre no mesmo erro a filósofa Ayn Rand, com seu conceito de "objetivismo ético".

O princípio da universalidade da propriedade privada e da apropriação original proposto pela escola austríaca resulta da própria vontade racional, que tem a característica de ser capaz de representar leis. Isso não diminui este princípio da escola austríaca, apenas o engrandece.

O critério da contradição lógica proposto por Mises (espelhado em Kant) é bastante pragmático e contratualista, e leva em conta o fato de que determinadas instituições seriam impensáveis, como a instituição da propriedade privada, caso fosse violada. Mas uma instituição pode funcionar relativamente bem mesmo que alguns indivíduos a burlem de vez em quanto.

Não existe nenhuma necessidade lógica que faça com que eu queira que meus fins sejam também o de outros. O contratualismo não implica deveres para consigo mesmo. Não há nenhuma necessidade lógica que implique que meus fins (o respeito pela propriedade privada) sejam também os fins de todos os outros seres humanos (que todos respeitem a propriedade privada).

Não existem deveres para consigo mesmo. Eu não posso impor para mim mesmo deveres, como por exemplo "devo respeitar a propriedade privada". Isso sim é um absurdo lógico.

"Mas aí vc cai em contradição porque na sua cabeça vc tem direito à propriedade privada e seu vizinho não, mas na cabeça dele ele tem direito e vc não.AFIK, se um princípio é verdade ele não depende de quem o afirma."

Oras, em nossa sociedade existem vários princípios que entram em choque quando comparados com outros. Isso implica que são ilógicos ou entram em contradição? Não. Implica apenas que aqueles que os defendem não entraram em acordo quanto àquilo que julgam correto. Se eu julgo que devo escravizar outro ser humano, mas eu próprio tenho direito à propriedade privada, e outro ser humano julga a mesma coisa, nossos valores estão em choque, mas nem eu nem ele estamos nos contradizendo. Só estaríamos nos contradizendo se tanto eu quanto ele julgássemos que a propriedade fosse um princípio universal, como uma lei natural ou física. Mas tal ideia só existe para aqueles que concordam com isso - como para os teóricos da escola austríaca.

Indico como leitura a obra "Lições Sobre Ética", de Ernst Tugendhat, e também a "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" de Kant, e também a "Crítica da Razão Pura" e a "Crítica da Razão Prática", do mesmo autor, e também "O Valor da Ciência", de Poincaré.

Agradeço as sugestões de leitura. Vou examinar cada uma dessas obras, quando tiver tempo.

               

On Reason  11/01/2016 12:27

"Eu não disse todas as ideias de Kant. Eu disse as ideias baseadas numa fundamentação a priori".

E eu disse, com todas as letras, que você está equivocado em dizer que as ideias de Kant "baseadas numa fundamentação a priori" foram "colocadas abaixo". Você não leu isso?

 

"se espaço e tempo fossem categorias 'a priori', Einstein estaria errado".

Insiste em dizer que a relatividade do tempo e espaço infirmaria o apriorismo das categorias do tempo e espaço?

Kant, em Crítica da Razão Pura: "those affections which we represent to ourselves as changes, in beings with other forms of cognition, would give rise to a perception in which the idea of time, and therefore algo of change, would not occur at all".

Kurt Gödel, sobre o excerto supra: "this formulation agrees so well with the situation subsisting in relativity theory, that one is almost tempted to add: such as, e.g., a perception of the inclination relative to each other of the world lines of matter in Minkowski space". (A remark about the relationship between relativity theory and idealistic philosophy)

De resto, você faz uma salada conceitual entre contradição lógica, contradição performática e disagreement (epistemológico ou moral) entre pessoas, chegando inclusive a confundir racionalidade do ser humano com racionalidade de pensamentos (e ações) sobre determinados temas.

Aquele abraço.

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