Filosofia - Textos Diversos XLVIII

 

Maestri - A Linguagem Escravizada:

178 - A língua não é neutra. Por além das aparências, os signos lingüísticos, profundamente determinados pelos conteúdos sociais que os engendraram, ao perseverarem através da história, assumem inevitavelmente novos conteúdos e determinações, permanecendo, entretanto, mais ou menos prenhes dos sentidos ensejados pelas realidades sociais que os produziram, mesmo quando estas últimas foram definitivamente superadas.  Cita o exemplo do machismo na língua. Dá até mais exemplos do que eu imaginava.

179 - O mundo feudal cristão de então retomara as visões platônicas e aristotélicas apologéticas de que as pretensas qualidades sub-humanas de povos incivis – viver como animas; não ter governo; não ter razão; praticar a antropofagia, etc. – justificavam sua escravização, devido suas pretensas essências sub-humanas. Para Gândovo, o feitoramento do americano era questão que não merecia discussão ou explicação. Como lembrava Marx, naturalização ideológica produzida pela fortaleza das relações sociais de produção dominantes “São formas de pensamento socialmente válidas, portanto objetivas, para as relações de produção  deste modo de produção social historicamente determinado.

180 - Outro exemplo que cita é como o termo “homem” só era usado para o colonizador.

181 - Matava-se a diversidade indígena. Caçadores ou não, dava no mesmo. A categoria “índio” surgiu de equívoco geográfico e homogeneizou a pluralidade e diversidade das comunidades americanas. Ela é igualmente imprópria como designação de comunidades domésticas aldeãs – como as tupis – nas quais a horticultura possuía caráter dominante. [MEILLASSOUX, 1977: 64.]

182 - Em Aristótles, a escravidão era o “bom” pra todo mundo. Ideologia pura. Escravidão era coisa da natureza humana e dos instintos e não da lei e do aprendizado, como queria Platão.

183 - Na Europa, após a crise do Mundo Antigo, foi tão lenta a metamorfose do trabalhador escravizado em trabalhador feudal que não se plasmou nova categoria para descrever a nova forma de subordinação.

184 - Elogia Manuel Querino. Manuel Querino designa correta e repetidamente o habitante da África como “africano”, e não se refere a ele anacrônica e ideologicamente como “negro”, conceito que utiliza apenas cinco vezes em toda a sua obra.

185 - Criativamente, Manuel Querino serve-se do particípio passado para descrever o homem e a mulher submetidos à escravidão – “africano escravizado” [3] ou “escravizado” [7]. Assim fazendo, dilui a natureza servil sugerida pela substantização ou adjetivação, como ocorre, parcialmente, nas formas aristotélicas “negro escravo” e “africano escravo” e, plenamente, no palavra “escravo”.

186 - “Escravizador” é a denominação que explicita em forma mais perfeita a essência do explorador de trabalhador escravizado na produção escravista.

187 - Trabalhador escravizado era o melhor termo, segundo o texto.

(...)

Márcio Barros - O Medo como origem da razão em Adorno e Horkheimer:

207 - Ressalta a identificação entre razão e dominação na Dialética do Esclarecimento.

208 - Em tese a razão formal nasceu para sistematizar saberes. É o impulso. Entretanto, em última instância, acaba sendo razão instrumental porque o esclarecimento nasce do medo, da angústia quanto ao desconhecido. O homem quer controlar e dominar tudo, não deixar nada de fora do esclarecimento. As forças da natureza são uma ameaça a serem domadas pela razão.

209 - O medo surge, portanto, como origem do pensar racional. E isso é nietzscheano, para Márcio Barros.

210 - Haveria também o medo de identificação com a própria natureza, regresso ao primitivismo, perdendo assim a individualidade.

211 - Em Nietzsche, a filosofia grega (Platão... Aristóteles…) é vista como uma arma para impor limites entre o indivíduo e a natureza. 

212 - De fato, se o conteúdo essencial da mimesis é a identificação com a natureza, o processo pelo qual ela é substituída pela ratio, que é o seu outro, pode ser descrito como o processo de distanciamento do sujeito em relação à natureza.

213 -     Este distanciamento é descrito por Adorno e Horkheimer como o processo no qual simultaneamente a natureza é liberada de toda antropomorfização mítica e o sujeito de tudo o que ele tem de natureza.

214 - Adorno  Horkheimer falam da necessidade então de trazer as leis da natureza e submetê-la às categorias fixas do entendimento humano: De antemão o esclarecimento só reconhece como ser e acontecer o que se deixa captar pela unidade. Seu ideal é o sistema do qual se pode deduzir toda e qualquer coisa.

215 - É por esse medo da perda do controle e do retorno à identificação com a natureza (nesse ponto é influência de Nietzsche) que o positivismo, por exemplo, quer transformar logo tudo em matemática. Dizer que tudo é ela.

216 - Nietzsche vê um problema. O impulso da razão é bom porque quer eliminar riscos e preservar a vida, mas ficou desequilibrado e sufocante (ele coloca em termos de “Apolo vs. Dionísio”). ... “a hipostasiação inexorável deste impulso resulta na atrofia da vida através da anulação paulatina do elemento instintivo dionisíaco, que é o substrato vital dos sujeitos cujas vidas deviam ser preservadas”.

217 - Por fim, ressalta que o pessoal de Frankfurt não aderiu, porém, ao grosso da filosofia de Nietzsche. 


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