Filosofia - Textos Diversos LIX - Pierre Clastres - Os Marxistas e Sua Antropologia

 

Pierre Clastres - Os Marxistas e Sua Antropologia:

400 - Para que servem as relações de parentesco nas sociedades primitivas? O estruturalismo pode apenas fornecer uma única resposta, maciça: para codificar a proibição do incesto.

401 - A tradução do texto está tão ruim que fica difícil entender. Diz que Levi-Strauss é o auge do estruturalismo, mas o critica também: Uma constatação se impõe, a constatação de uma ausência: esse discurso elegante, com freqüência muito rico, não fala da sociedade. O estruturalismo é como uma teologia sem deus: é uma sociologia sem sociedade. Não aprofunda muito.

402 - Odeia os marxistas, chama de seita. Critica Godelier e diz que este pretendeu, grosseiramente fazer a síntese entre estruturalismo e marxismo. Faz umas críticas bem engraçadas até: “Deixemos isso de lado. De todo modo, essas idéias são suspeitas a seus olhos porque a burguesia as aplaude, e ele faz o que for preciso "para que a burguesia seja a única a aplaudi-las". Já ele, Godelier, é aplaudido pelo proletariado. Às suas altivas declarações, quantas ovações da periferia!”

403 - Diz que ideologia em Marx é um conceito que só poderia ser usado na modernidade, não para tratar de representações de sociedades primitivas, como quer Godelier.  Também critica outro uso de categorias marxistas empurradas à força na análise das trocas dos incas, como se fossem exploratórias/desiguais. Clastres coloca que não se tratava de uma sociedade de classes, ao que entendi.

404 - Mais competentes e atentos aos fatos do que Godelier (o que não é difícil), especialistas em economia primitiva como Marshall Sahlins, nos Estados Unidos, ou Jacques Lizot, na França, que se ocupam de etnologia e não de catecismo, estabeleceram que a sociedade primitiva funciona precisamente como máquina de antiprodução; que o modo de produção doméstico opera sempre abaixo de suas possibilidades; que não há relação de produção porque não há produção, esta sendo a última preocupação da sociedade primitiva. Naturalmente, Godelier (cujo marxismo é exatamente a mesma piada que o de seu concorrente Meillassoux, são os irmão Marx) não pode renunciar à Sagrada Produção, caso contrário seria a falência, ele ficaria desempregado.

405 -  Mas para que serve um parente? Não, seguramente, para produzir qualquer coisa. Serve, até segunda ordem, para portar justamente o nome de parente. É essa a principal função sociológica do parentesco na sociedade primitiva (e não instituir a proibição do incesto). Eu poderia certamente ser mais claro. ...

406 - … assim como não se pode pensar a sociedade indivisa sem a ausência do Estado, tampouco se pode pensar a sociedade dividida sem a presença do Estado. E refletir sobre a origem da desigualdade, da divisão social, das classes, da dominação, é refletir no campo da política, do poder, do Estado, e não no campo da economia, da produção etc. A economia engendra-se a partir do político, as relações de produção vêm das relações de poder, o Estado engendra as classes.

407 - Afirma que o compromisso do marxista não é com a verdade e que sua ciência é puro cientificismo, estando na verdade a serviço de uma ideologia política. A fim de obedecer a teoria que têm sobre leis da história, ou seja, não admitem exceções à sua história etapista, para não correr o risco de derrubar todo o edifício teórico. Seria tudo pela suposta “teoria marxista da história”. De fato, eles não têm escolha: precisam submeter os fatos sociais às mesmas regras de funcionamento e transformação que regem as outras formações sociais.  Como o “econômico” determina tudo (Clastres faz essa simplificação…), os marxistas crêem que os mais velhos exploram os mais jovens (Meillassoux), que as relações de parentesco são relações de produção (Godelier).

408 - É tudo pré-capitalismo, reclama. Na lógica do discurso marxista, a sociedade primitiva não pode simplesmente existir, não tem o direito a existência autônoma, seu ser só se determina em função do que virá depois dela, do que é seu futuro obrigatório.

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