Filosofia - Textos Diversos LIII (Chauí)

 

Marilena Chaui - A Etica de Kant:

254 - Já li este texto na coletânea de textos sobre Kant (fichado mais acima).

 

Marilena Chauí - Maquiavel:

255 - Nos burgos, existiam as corporações de ofício. Era possível ascender internamente nas hierarquias. Dessas corporações surgiria a burguesia. As cidades desejam independência diante dos barões, reis, papas e imperadores. (...) Na Itália, a redescoberta das obras de pensadores, artistas e técnicos da cultura greco-romana, particularmente das antigas teorias políticas, suscita um ideal político novo: o da liberdade republicana contra o poder teológico-político de papas e imperadores.

256 - Entre 1513 e 1514 surge, então, “O Príncipe”.

257 - É verdade que as teorias medievais são teocráticas, enquanto as renascentistas procuram evitar a idéia de que o poder seria uma graça ou um favor divino; no entanto, embora recusem a teocracia, não podem recusar uma outra idéia qual seja, a de que o poder político só é legítimo se for justo e só será justo se estiver de acordo com a vontade de Deus e a Providência divina. Assim, elementos de teologia continuam presentes nas formulações teóricas da política.

258 - Na época pré-Maquiavel, a política era considerada advinda de Deus, razão ou naturza para atrair harmonia entre os homens. Lutas, conflitos e divisões são vistos como perigos, frutos de homens perversos e sediciosos, que devem a qualquer preço, ser afastados da comunidade e do poder. A tirania viria da usurpação e seria sempre obra de um governante vicioso e perverso.

259 - Maquiavel partia da experiência real de seu tempo.

260 - A política real de Maquiavel não parte de uma homogeneidade de interesses na política. Toda Cidade, diz ele em O príncipe, está originariamente dividida por dois desejos opostos: o desejo dos grandes de oprimir e comandar e o desejo do povo de não ser oprimido nem comandado.

261 - Política nasce das lutas sociais. Não de algo anterior. Essa imagem da unidade e da indivisão, diz Maquiavel, é uma máscara com que os grandes recobrem a realidade social para enganar, oprimir e comandar o povo, como se os interesses dos grandes e dos populares fossem os mesmos e todos fossem irmãos e iguais numa bela comunidade. (...) A finalidade da política não é, como diziam os pensadores gregos, romanos e cristãos, a justiça e o bem comum, mas, como sempre souberam os políticos, a tomada e manutenção do poder. 

262 - O Príncipe teria que se aliar ao povo, usando a lei, pois os grandes querem seu poder.

263 - Maquiavel recusa a figura do bom governo encarnada no príncipe virtuoso, portador das virtudes cristãs, das virtudes morais e das virtudes principescas.  O príncipe precisa ter virtú, mas esta é propriamente política, referindo-se às qualidades do dirigente para tomar e manter o poder, mesmo que para isso deva usar a violência, a mentira, a astúcia e a força.  

264 - Maquiavel não acreditava numa forma natural de governo (monarquia ou aristocracia, por exemplo). Defendia a que trouxesse liberdade. O poder do príncipe deve ser superior ao dos grandes e estar a serviço do povo. O que importa, portanto, é ser uma república… Ainda que com um príncipe.

265 - Em Maquiavel, não há princípios atemporais, que independem das circunstâncias. Um príncipe que agir sempre da mesma maneira e de acordo com os mesmos princípios em todas as circunstâncias fracassará e não terá virtú alguma. Cruel.. Generoso.. Flexível ou não… Tudo depende.

266 - O que poderia ser imoral do ponto de vista da ética privada pode ser virtú política.  Em outras palavras, Maquiavel inaugura a idéia de valores políticos medidos pela eficácia prática e pela utilidade social, afastados dos padrões que regulam a moralidade privada dos indivíduos. 

267 - A política como ela é. Sem as máscaras da religião, da moral, da razão e da Natureza.

 

Marilena Chauí - O Ideal Científico e a Razão Instrumental:

268 - Ideal de ciência: A teoria científica vale por trazer conhecimentos novos sobre fatos desconhecidos, por ampliar o saber humano sobre a realidade e não por ser aplicável praticamente. Em outras palavras, é por ser verdadeira que a ciência pode ser aplicada na prática, mas o uso da ciência é conseqüência e não causa do conhecimento científico.

269 - Já o utilitarismo vincula a ciência às aplicações práticas.

270 - Chauí diz que as duas concepções são verdadeiras, mas parciais. Se uma teoria científica fosse elaborada apenas por suas finalidades práticas imediatas, inúmeras pesquisas jamais teriam sido feitas e inúmeros fenômenos jamais teriam sido conhecidos, pois, com freqüência, os conhecimentos teóricos estão mais avançados do que as capacidades técnicas de uma época e, em geral, sua aplicação só é percebida e só é possível muito tempo depois de haver sido elaborada.

271 - Quanto à verdade, é sempre uma questão de aproximação, não de total certeza. Ela não diz, mas eu estou dizendo :)

272 - O cientificismo é a crença infundada de que a ciência pode e deve conhecer tudo, que, de fato, conhece tudo e é a explicação causal das leis da realidade tal como esta é em si mesma.

273 - Seria uma criadora de verdades intemporais, absolutas e inquestionáveis, segundo o povo. A sociedade, então, poderia ser comandada pelos que sabem.

274 - Quando o cientista escolhe uma certa definição de seu objeto, decide usar um determinado método e espera obter certos resultados, sua atividade não é neutra nem imparcial, mas feita por escolhas precisas.

275 - O racismo não é apenas uma ideologia social e política. É também uma teoria que se pretende científica, apoiada em observações, dados e leis conseguidas com a biologia, a psicologia, a sociologia.

276 - A Igreja defendia a hierarquia dos corpos celestes, um determinado modelo científico. Dos seres perfeitos aos imperfeitos. A física e a astronomia pré-copernicanas (elaboradas por Ptolomeu e Aristóteles) serviam – independentemente da vontade de Ptolomeu e de Aristóteles, é verdade – a uma sociedade e a uma concepção do poder que se viram ameaçadas por uma nova concepção científica.

277 - Tudo sem falar (falando) da conexão que há hoje entre cientistas e complexo industrial-militar.

278 - Na medida em que a razão se torna instrumental, a ciência vai deixando de ser uma forma de acesso aos conhecimentos verdadeiros para tornar-se um instrumento de dominação, poder e exploração. ara que não seja percebida como tal, passa a ser sustentada pela ideologia cientificista, que, através da escola e dos meios de comunicação de massa, desemboca na mitologia cientificista.

279 - Capitalismo e ideologização da ciência: Um filósofo, Spencer, aplicou, então, a teoria darwiniana à sociedade: nesta, os mais “aptos” (isto é, os mais capazes de competir e concorrer) tornam-se naturalmente superiores aos outros, vencendo-os em riqueza, privilégios e poder. (...) Spencer transformou a teoria científica da evolução em ideologia evolucionista.

280 - Razão instrumental: Eis porque, entre outros efeitos de nossa confusão entre ciência e tecnologia, aceitamos, no Brasil, políticas educacionais que profissionalizam os jovens no segundo grau – portanto, antes que tenham podido ter acesso às ciências propriamente ditas – e que destinam poucos recursos públicos às áreas de pesquisa nas universidades – portanto, mantendo os cientistas na mera condição de reprodutores de ciências produzidas em outros países e sociedades.

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