Filosofia - Textos Diversos LXX (Sérgio Lessa)

 (continuação...)


530 - Lessa vai dizer que se a ideologia fosse sempre e necessariamente a falsa consciência, a “verdadeira” consciência apenas poderia ser a ciência. Deste modo, por uma vertente absolutamente inesperada, terminaríamos na tese, claramente burguesa, da ciência como conhecimento neutro, acima das classes e dos valores, com todos os problemas que advêm de tal posição. (Discordo. Uma verdadeira consciência está sim articulada à ciência. Não no capitalismo, claro. Porém, a ciência, como melhor método que conhecemos para conhecer, que entrega, ao que parece, os melhores resultados e avanços, deve ser nossa via para o conhecimento verdadeiro mesmo. Ideologia só atrapalharia, até porque é falsa consciência. Isso não se dar assim, na nossa sociedade, é outra história).

531 - Problemas: toda objetivação põe em ação séries causais cujos desdobramentos futuros não podem ser previstos de modo absoluto, já que ainda não aconteceram. Nessas, a física nuclear vira bomba atômica e o desenvolvimento das forças produtivas em geral traz escravidão, servidão e salário. Ou seja, estranhamento/alienação.  A história não é uma processualidade teleológica, vai dizer.

532 - Definindo estranhamento: Nada mais é que o complexo de relações sociais que, a cada momento histórico, consubstancia os obstáculos socialmente produzidos para o pleno desenvolvimento humano-genérico.

 

Sérgio Lessa - O Problema da Essência Humana:

533 - Retirado do artigo: "Lukács e a ontologia: uma introdução" da revista Outubro nº 1.

534 - Isso seria o fenômeno até Hegel: uma manifestação “corrompida” do ser, (...) a esfera do efêmero, do histórico, do processual.

535 - Tal como os gregos, os homens medievais também concebiam a sua história como a eles imposta por forças que estes jamais poderiam controlar. Diferente dos gregos, contudo, a concepção cristã pressupõe os homens como essencialmente ruins, pecadores e, por isso, merecedores do sofrimento terreno. O pecado original explica a razão e os limites do sofrimento humano: temos um destino de sacrifícios porque pecamos, este sacrifício termina com o Apocalipse e o Juízo Final.

536 - A eternidade da essência e a historicidade do mundo dos homens continuou na Idade Moderna. A essência “divina” vira essência “natural”. A natureza humana, a qual é identificada com a prática do burguês. Agora somos todos proprietários. Ele diz que Locke também é tributário disso, mas não sei bem se é o fundamento que o inglês usa não. Seria compatível com sua ideia de tábula rasa?

537 - Hegel: Direção dada pela essência, a história adquire um caráter teleológico cujo resultado não poderia ser outro senão a plena explicitação da essência já dada desde o início: a sociedade burguesa representa o “fim da história”.

538 - A essência a-histórica não pode possuir na história sua gênese; por isso, toda concepção histórica que se baseia nesta concepção deve pressupor, de alguma forma, uma dimensão transcendente que funda esta mesma essência. Como essa determinação era da transcendência (e não social), o homem não tinha como superar. Por isso que Aristóteles achava que Atenas era a evolução suprema; os cristão achavam que o feudalismo era essa modelo insuperável; e Hegel tinha o Estado burguês como o fim da história. Cada um tinha o seu “fim da história”. Isso é forte.

539 - Assim, o fundamento da história não pode ser ela própria, mas sim, uma instância a ela transcendente. Daqui, o caráter dualista das ontologias até Marx, Hegel incluso. (...) por ser fundada em uma categoria não-histórica, o sentido da história decorre da essência da sua categoria fundante (a ordem cosmológica, o Mundo das Idéias, Deus, a “natureza” do proprietário privado burguês ou o Espírito hegeliano). Eram, no dizer de Lukács, concepções teleológicas da história.

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