Econ - Textos Variados XXXIV (CCE)
Isabela Nogueira - Sobre Finlândia:
166 - Passou um período lá. Das manifestações estudantis para que estrangeiros não paguem taxas nas universidades públicas, passando pela importante uniformidade salarial, política de migração digna, auxílio-desemprego e acesso livre aos bens públicos (gratuitos ou quase), a sensação era de forte preocupação com a dignidade humana.
167 - Afirma que o Estado dava ampla proteção social se as pessoas seguissem algumas obrigações (para o próprio bem pessoal e coletivo). Por exemplo, levar recém-nascidos e crianças para acompanhamento e aconselhamento constante nas redes de saúde. Coisa do tipo.
168 - Vida longa ao subdesenvolvimento, prega sarcasticamente, já que na Finlândia...: Esqueça a roupa limpa e a casa cheirosa que a dona Maria deixa semanalmente para você por menos de 1% do seu salário. E o conserto da pia que o Manoel faz por uma cervejinha? (...) Suas unhas então, que depressão… Quando você for ao cinema, quem cuida dos bebês, me diz? Adeus àquela feirinha de domingo onde você faz a compra da semana por R$ 15,00. E o trágico final é, naquele dia de calor, você delirando por um refresco à beira da praia, e nem sinal do ambulante, aos berros, “Skol, mate, biscoito Globoooo”. (...) É bem verdade que você não terá que pagar uma fortuna pelo colégio das crianças, mas sem as instituições de elite para os nossos meninos vencedores, eles podem se envolver em tantas más influências, imagine só.
169 - … Em verdade, você terá que sobreviver em um apartamento minúsculo e assistir à depreciação relativa do salário do seu marido, funcionário do banco, que não vai ganhar mais do que cinco vezes o salário de um motorista de ônibus. (...) E se você já acha que Bolsa Família é o absurdo do absurdo por apoiar a preguiça de quem não trabalha, imagine que aqui na Finlândia, onde passo minhas férias, auxílio-desemprego chega a mais de 600 euros por mês!
170 - No entanto, a Finlândia tornou-se uma sociedade tão igualitária quanto apática. Pouco criativa (da música ao teatro, cinema e artes em geral), reproduz o mundo com extrema facilidade, mas tem limitada capacidade transformadora. A maioria de seus educados cidadãos são seres pouquíssimo críticos. (...) É um país chato, sem movimentos (políticos, sociais, artísticos, de moda), sem ondas, com pouca energia de vida. (...) Homens e mulheres que se parecem, movimentos corporais e faciais robóticos, quase nenhum tesão de vida.
171 - Coloca que mesmo os jovens sonham com famílias margarina.
172 - Sua reflexão é que igualdade e abundância material não necessariamente gerará vida criativa e extasiante: Usaram esse conforto, esse conhecimento e as condições tranqüilas de vida para reproduzir a moral e os princípios de seus antecessores, para atender às expectativas de seus pais e para construir uma carreira profissional com importante reconhecimento social. De onde vem a crítica, a capacidade transformadora, o pensamento e a ação autônoma, a atitude reflexiva e inspiradora? Eles não guardam nenhuma relação com a igualdade e com a educação formal? E, afinal, se finalmente construirmos uma sociedade crítica, transformadora, autônoma e inspiradora, serão seus habitantes mais felizes?
Juros, Câmbio, Inflação e Desenvolvimento:
173 - Pressões inflacionárias diversas, pelo lado dos custos, fizeram com que ficássemos fora das metas de inflação de 2001 a 2004. Na prática, o sistema funciona da seguinte maneira: aumentos da taxa de juros valorizam a taxa de câmbio nominal; as mudanças na taxa de câmbio, por sua vez, com alguma defasagem, têm um forte impacto de custos, diretos e indiretos, sobre todos os preços da economia, inclusive os “livres”.
174 - A maioria dos analistas acredita, seguindo a caracterização consensual descrita acima, que o efeito dos juros altos sobre a demanda agregada é o que impede que os choques de custo se transformem em aumentos da taxa de inflação. No entanto, o fato de que se não observa relação sistemática entre o hiato do produto (ou emprego) e a inflação mostra que não é isso o que ocorre.
175 - Note que, mesmo quando a economia sofreu choques cambiais adversos advindos de problemas nas contas externas, como em 2002, o papel principal dos juros elevados não foi propriamente conter a demanda para evitar o repasse aos preços da desvalorização inicial, mas sim parar e depois reverter a desvalorização cambial nominal. Não é por outro motivo que, como nos lembra Nelson Barbosa, em todos os anos que a inflação ficou dentro da faixa estipulada como meta (fora o ano de 1999 que marca a transição para o sistema) o câmbio nominal se valorizou. Nos anos mais recentes, o grande diferencial de juros e a contínua valorização nominal do Real manteve a inflação dentro da meta, apesar do forte crescimento dos preços internacionais das commodities e do petróleo em dólares.
176 - Juros baixos e câmbio solto na década de 2000, como seria? Como controlar a inflação assim (petróleo e commodities em alta e etc.): … Outros têm sugerido a ampliação adicional dos já elevados superávits primários fiscais, que diminuiriam o crescimento da demanda agregada sem a necessidade de aumentar os juros (novamente evitando a valorização do câmbio).
177 - O texto parece não ver isso como necessário, já que a economia não estaria com demanda agregada alta ou superaquecida.
178 - E as contas externas? De fato, se o câmbio for muito desvalorizado e houver equilíbrio ou superávit em conta corrente, mesmo com um diferencial de juros baixo ou nulo, a tendência do mercado, a princípio, vai ser especular na direção de valorizar o câmbio, o que pode ser controlado tranquilamente comprando reservas (sem custo fiscal se o diferencial de juros for nulo). Esta é basicamente a estratégia seguida por uma série de países em desenvolvimento da crise Asiática no final do século XX.
179 - Se os choques de crédito gerarem movimentos muito bruscos, a solução seria controle de capitais de curto prazo, o que ajudaria a impedir vai-e-vém de juros para estocar sangria.
180 - Réplica: Para os dados brasileiros, o hiato do produto não se apresenta significativo no relatório do BC, mas isso não necessariamente implica que não há relação entre demanda e inflação. Existem quebras estruturais frequentes e transformações institucionais que dificultam a análise, daí a baixa significância desse parâmetro para séries longas, o que NÃO ocorre para séries que usam dados trimestrais recentes e a capacidade ociosa como proxy. (...) Como eu já tinha falado, os boletins de conjuntura da UFRJ mostram porque há essa pressão de demanda, assim como o relatório do BC, o que justificaria uma elevação dos juros.
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