Econ - Daniel Keller - Críticas Ao Sistema de Metas (CCE)

 

Daniel Keller - Críticas Ao Sistema de Metas:

120 - Afirma que os juros altos para conter demanda não fazem tanto sentido por a inflação brasileira é mais de custo (aumento dos custos pela desvalorização cambial) que pelo aumento de demanda propriamente dito. (Texto de 2004, pegou o câmbio saindo de 1 real pra 4 ou 3).

121 - A inflação de salários também é uma possibilidade, segundo Weintraub (1978) e Davidson (1994). Esta ocorre com um aumento do salário nominal sem contrapartida de uma elevação da produtividade. (É mais uma inflação de aumento de custo).

122 - Tipos de inflação de custo. Uma situação de estagnação seguida de uma retomada do crescimento econômico pode levar a pressões que desenvolvam esses três tipos de inflação citados. O mecanismo funciona da seguinte forma: com o aumento da capacidade utilizada haverá algum aumento de preços por causa de retornos decrescentes (o repasse para preços provavelmente ocorrerá por causa das condições favoráveis de demanda), fazendo com que trabalhadores pressionem por aumentos de salários. Por causa das boas condições de demanda, os empresários aceitam a concessão do aumento de salários. Se o empresário considerar a mesma condição de mercado pode também tentar elevar a margem de lucro ou recompô-la, caso a situação prévia fosse de recessão.

123 - Outras duas formas de elevação de custos que podem levar a um processo inflacionário seriam, segundo Davidson (1994), a inflação spot e a inflação por impostos. O primeiro caso é uma conseqüência de um choque doméstico inesperado de custos, que pode ser repassado para preços, como quebras de safras agrícolas, por exemplo. Já o segundo é proveniente de qualquer forma de elevação da carga tributária que aumente os custos de produção, e que seja em algum grau repassado para preços.

124- Por fim deve-se considerar a inflação importada que possui grande importância para explicar o caso brasileiro mais recente, a partir de 1994. Este último tipo pode ser subdividido em três categorias: i) aumento do nível geral de preços internacionais de produtos importados, ii) desvalorização cambial, iii) aumento do preço de commodities exportadas no mercado internacional pelo país. Essas coisas dependem do grau de abertura de uma economia.

125 - É preciso ressaltar que a concretização do repasse do aumento de custos para preços depende de dois fatores principais: o grau de monopólio do mercado e o hiato do emprego. Em relação ao primeiro fator, existe uma relação direta, isto é, quanto maior seu valor maior pode ser o repasse; já para o segundo, como o hiato do emprego indica o nível de atividade da economia, quanto maior o nível de atividade maior a possibilidade de repasse. Como demonstraram Arestis e Milberg (1993, 1994), para os Estados Unidos e o Reino Unido no período entre 1972-1989, o grau de repasse para preços de um aumento de custos causado por uma desvalorização cambial pode ser limitado.

126 - A luta entre setores da sociedade pela redistribuição de renda: Tal mecanismo se configura como um processo inflacionário de inflação inercial.

127 - Entre 1998 e 2004, a utilização da capacidade industrial instalada subiu de 78 para 82%. Os dados mostram uma média do grau de utilização da capacidade instalada ao longo dos anos na indústria que ainda não pode ser considerada como representativa de uma inflação de demanda, isto é, existe a possibilidade de ampliação da produção sem que haja a realização de investimentos que elevariam a capacidade instalada no setor.

128 - … Isto porque o teto para que não haja inflação de demanda é em torno de 90% de utilização da capacidade instalada. Cita que setores que cheguem a tal grau precisam de políticas setoriais para impedir inflação de demanda.

129 - O impacto da inflação importada e da inercial são potencializadas no caso dos preços administrados, levando a uma grande disparidade entre a inflação observada nestes últimos e nos preços livres, tal como sugerem os gráficos 3 e 4. É possível observar que a variação dos preços administrados está sempre acima da variação do IPCA e das categorias comercializáveis e não comercializáveis ambos referentes a preços livres. (...) Este estímulo tem início geralmente com uma desvalorização cambial que influencia a elevação do IGP que, por sua vez, se perpetua pelo mecanismo inercial. Um exemplo seria a inflação dos administrados de 2003, que foi em grande medida decorrente da desvalorização ocorrida em 2002.

130 - Sistema de metas: No caso brasileiro é a taxa de curto prazo paga pelos títulos públicos. Geralmente não se manipula a taxa de redesconto ou a de compulsório. No modelo de Friedman (ver Friedman 1968) existiam regras para a oferta de moeda e não para a taxa de juros, como mecanismo de controle inflacionário.

131 - Seguindo as abordagens Pós Keynesianas de Davidson e Minsky, a inflação é pensada como um fenômeno monetário e pode ser vista como “sendo a luta social relativa à estrutura existente de distribuição de renda” (Davidson 1994 pag. 132). Pode atrapalhar o investimento e o crescimento.

132 - Ortodoxia monetarista: É preciso entender que é justamente por via desses dois últimos fatores citados que a inflação é combatida, já que o aumento do hiato do emprego e a estagnação da renda dificultam o repasse da elevação de custos para preços, restringindo pressões que venham pelo lado dos custos ou por realimentação, além de combaterem uma possível inflação de demanda. (...) Ademais, a política de elevação da taxa de juros atua não só restringindo a demanda, mas também atraindo capitais para o país. Cria-se, com isso, uma tendência de valorização do câmbio no curto prazo, e reduzem-se as chances de inflação importada pela via da desvalorização.

133 - O aumento de preços originário de elevações de impostos deve ser marginalmente considerado por causa das recentes elevações de tarifas.

134 - Juros altos combatem sintomas e não causas. Como conseqüência, a elevação de custos ou a indexação de preços por contratos não se dissipam, apenas é contido o repasse para preços. Cria-se então uma inflação reprimida, que a qualquer sinal de recuperação econômica pode ser engatilhada. (...) Em segundo lugar, o resultado, em termos de estagnação da renda, aumento do déficit público e aumento do hiato do emprego é muito negativo, já que com a constante elevação das taxas de juros para conter o ímpeto inflacionário mantém-se a economia em um estado permanente de stop and go ou semi deprimida (Sicsú 2002 pg. 118).

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