Econ - Textos Variados XXXII (CCE)
Denise Gentil - A Falsa Crise do Sistema de Seguridade Social no Brasil:
135 - Afirma que a América Latina parece querer imitar, parcial ou totalmente a rota dos anglo-saxões: Nos países anglo-saxões ocorreu o que Esping-Andersen (1995) chamou de rota neoliberal, implicando em redução da proteção social, incentivos a expansão de planos privados de capitalização individual, flexibilização do mercado de trabalho e dos salários por meio da redução do peso de encargos sociais e depreciação do salário mínimo legal. O enfoque que predominou foi de liberalização e de ênfase maior na focalização dos benefícios. Para Esping-Andersen (ibid), o aprofundamento da desigualdade e o crescimento dos níveis de pobreza são comuns aos casos dos países de rota liberal. Em contraste, na Escandinávia, onde os welfare states eram mais abrangentes e universalistas na cobertura e ficaram mais preservados depois de ajustes marginais, houve estabilidade ou até mesmo declínio na desigualdade e nenhum dos países dessa região teve crescimento da pobreza.
136 - Texto de 2005, acho. Denúncia já conhecida. O orçamento constitucional para a seguridade social não é deficitário. Longe disso. Ao decidir sobre sua utilização, no entanto, deixou de gastá-los com serviços de saúde, previdência e assistência social, para aplicá-los no orçamento fiscal, contribuindo para os superávits primários elevados dos últimos tempos.
137 - Por que há diversidade de fonte de financiamento para a seguridade social? O crescimento do desemprego, a queda do rendimento médio real dos assalariados e o aumento do número de trabalhadores sem vínculo formal de trabalho mostraram a vulnerabilidade de um sistema de proteção social financiado exclusivamente por contribuições sobre a folha de salários.
138 - A DRU foi criada para puxar esse orçamento da seguridade para outras áreas. Ademais…: A Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Previdência Social (ANFIP) já vinha alertando que recursos são subtraídos da seguridade social para além dos 20% permitidos legalmente através da DRU.
139 - Faz outra crítica: Recursos vinculados à saúde pública, à assistência social e à aposentadoria dos trabalhadores do setor privado vêm financiando a aposentadoria de servidores públicos, incluindo os do Legislativo e Judiciário, cujas aposentadorias têm valores elevados, se comparados ao salário mínimo, piso e nível da maioria das aposentadorias do RGPS.
Fernanda - A Relação Entre Poupança e Investimento:
140 - Keynes e Kalecki. Em especial, como será demonstrado, a concepção de tais autores – bem como de seus estudiosos – contrasta radicalmente com a definição de cunho (neo)clássico sob a égide da Lei de Say, a partir da qual “toda oferta cria sua própria demanda” ou, nos termos desse artigo, “toda a poupança – oferta de recursos financeiros - se converte automaticamente em investimento – demanda por recursos financeiros”.
141 - Faz uma série de relações “ovo-galinha” entre “poupança e investimento” que me parecem tremendamente arbitrárias. Não sei bem o que ela está debatendo na prática.
142 - A poupança é sempre igual – ex post – ao investimento: não se faz necessário “esperar”, portanto, o funcionamento do mecanismo multiplicador para que tal igualdade se verifique.
143 - Réplica: economias são abertas e, portanto, nem toda poupança é investimento no próprio país (entendi isso). Teorias macroeconômicas que “assumem” um consumo autônomo ou uma propensão marginal a consumir fixa, são, portanto, extremamente pobres e irrelevantes para o debate macroeconômico hoje em dia.
144 - … Investimento pode ser maior ou menor que a poupança: Por exemplo, em alguns países do mundo, a diferença entre investimento e poupança nacional pode ser maior que 10 ou 20% do PIB (exemplo: China, Arabia Saudita).
145 - Ficou um debate meio impreciso para mim. Não entendi os pontos de Fernanda.
Fernanda - Breves Considerações Sobre a Crise Recente, Momento Minsky:
146 - Alguns analistas vêm se referindo aos acontecimentos recentes no mercado financeiro norte-americano, particularmente aqueles associados à crise imobiliária, como característicos de um ‘momento Minsky’ - ou seja, como resultado de um prolongado período de rápida aceleração da dívida no qual empréstimos do tipo hedge são substituídos por empréstimos do tipo especulativo e Ponzi, o “momento” ocorre quando os empréstimos se tornam mais restritivos, aumentando os riscos de contração econômica sistêmica e de depreciação de ativos de capital.
147 - Tese resumida de Minsky para economias sofisticadas: a estabilidade econômica pode gerar comportamentos que produzem fragilidade financeira, tornando o sistema mais vulnerável.
148 - Tipos de tomadores de empréstimo (Brasil tem sido um Ponzi mal sucedido): (i) hedge, que com base em seu fluxo monetário podem pagar tanto os juros da dívida contraída quanto o principal; (ii) especulativo, que podem fazer frente apenas aos juros com base em seu fluxo monetário, e por isso precisam de mercados de capitais dotados de liquidez, de forma que possam rolar sua dívida; e (iii) Ponzi, que, com base em seu fluxo monetário, não podem fazer frente nem aos juros da dívida contraída e por isso precisam que os preços dos ativos em que investiram sempre cresçam de maneira a lhes permitir a manutenção do refinanciamento de sua dívida.
149 - Ponzismo na crise de 2008: A securitização dos empréstimos de hipoteca subprime teria sido construída com base em três hipóteses: a de que as taxas de juros se manteriam baixas, de que as rendas dos devedores seriam suficientes para cobrir eventuais aumentos de juros e que o preço dos imóveis não sofreriam quedas.
150 - Com o processo de securitização, os empréstimos transformados em ativos securitizados são vendidos, o que faz com que a pressão para uma análise mais cautelosa dos empréstimos nas últimas fases da expansão do crédito se perca, tendência ampliada pela desregulamentação do setor financeiro americano. Os lucros dos bancos vinham muito daí, afirma.
151 - O papel de avaliação de risco antes desempenhado pelos bancos passa a ser realizado pelas agências avaliadoras de crédito, responsáveis por certificar ou não o investment grade destes ativos. Em outras palavras, quem está exposto ao risco não é mais responsável por avaliar o perfil dos tomadores.
152 - Quando subiram as taxas de juros e a taxa de inadimplência, o mercado de imóveis desacelerou, bem como seus preços, revertendo o boom imobiliário, instaurando um processo de deflação de dívida no mercado de hipotecas subprime.
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