Econ - Sobre a Elevação da Taxa SELIC (CCE)

 

Sobre a Elevação da Taxa SELIC:


240 - O boletim do IPEA de março de 2008 indica que a capacidade ociosa média, apesar de baixa, estabilizou-se em torno de 17%. O documento citado afirma: (...) “… olhando para os últimos cinco meses, o nível de utilização se manteve estável, em torno de 83%, apesar dos sucessivos aumentos da produção, do emprego e das horas trabalhadas. Esse fato pode ser conseqüência da maturação de investimentos que, tendo acelerado a partir de meados de 2006, podem estar se transformando em aumento de capacidade e em ganhos extras de produtividade”.

241 - “…É válido lembrar, entretanto, que em 2006 o maior responsável pelo aumento de massa salarial foi o crescimento do salário real, enquanto em 2007 o fator preponderante foi o aumento do nível de emprego. Em janeiro de 2008, na comparação interanual, essa taxa de crescimento da massa salarial já se elevou para 7,1%, o que indica a continuidade do ritmo de crescimento da demanda interna. Entretanto, apesar desse forte crescimento de massa salarial, a sua parcela como percentual do PIB mantém-se estável ao longo dos últimos anos”. (IPEA 2008a, p 10)

242 - A partir de 2003 houve uma melhora progressiva no saldo de transações correntes que se intensifica até 2007, concomitante a um ciclo de preços favorável aos exportadores de commodities e uma demanda mundial apoiada no déficit estadunidense. Em suma, tanto o saldo de transações correntes, quanto a oferta de crédito para os emergentes eram positivos. A aposta natural era de uma valorização cambial, caso não houvesse saída massiva pela conta capital,. Algo não esperado, dado o aumento de liquidez internacional. (...) Somado ao cenário favorável havia uma rentabilidade extra, que variou entre 07 e 17 % , garantida pelo Banco Central através do diferencial de juros. (...) O preço de equilíbrio do câmbio seria outro, caso não se pagasse aos investidores um prêmio tão alto para um investimento com baixíssimo risco (o risco cambial era tendente à zero, pois a desvalorização não era possibilidade, o risco de default também podia ser considerado nulo naquela conjuntura). (...) Tal valorização cambial foi a responsável pelo atendimento às metas inflacionárias e o principal mecanismo de transmissão dos juros para os preços.

243 - Males da flutuação cambial excessiva (ou mesmo da apreciação segundo os heterodoxos): Por isso devem-se incluir tais perdas tecnológicas e de produtividade de caráter permanente nos custos da excessiva oscilação cambial ou de recessões muito pronunciadas. Quando se retorna às condições de câmbio menos valorizado, o sistema produtivo não mais será capaz de mobilizar os recursos produtivos a partir dos novos preços relativos. Esse é um elevado custo da sobrevalorização cambial, pois desabilita o país a absorver tecnologia nos setores deslocados pelo câmbio.

244 - Meio de 2008 o texto: A estratégia do BCB, ao contrário do discurso oficial, é uma estratégia ótima para o curto prazo. Isso por que um aumento dos juros de alguns pontos percentuais tem baixa probabilidade de afetar vigorosamente a demanda e o crescimento da economia. Ao mesmo tempo, a manutenção da taxa de câmbio ou até sua valorização permitirá o aumento da oferta interna de produtos via importação, não sendo necessário ampliar tanto o investimento, e mantendo a inflação próxima ao centro da meta. Ao mesmo tempo, ocorrerá uma piora do saldo de Transações Correntes que recolocará uma rigidez cada vez maior à queda da taxa de juros. Essa rigidez maior decorrerá do fato de que a piora das contas externas é uma grave ameaça à estabilidade dos preços e ao crescimento.

245 - A estratégia 2008 de Ricardo implicaria perda no curto prazo (juros baixo só para investimento e não para o consumidor, a fim de conter a inflação) e retomada dos esforços pelo investimento público. Poder de compra diminuirá no curto prazo em razão da desvalorização do real.

246 - Ricardo é instado a falar dos porquês da inflação na Argentina e Venezuela. Seriam os perigos da “inflação de demanda” (e lá até talvez faça mais sentido parcial porque os salários podem ter crescido além da produtividade entre 03 e 08). Ele responde: Câmbio: Se no Brasil tivemos desde 2003 um processo de valorização cambial que amorteceu os choques externos e barateou os produtos importados e exportados, na Argentina não houve esse processo pois a taxa nominal de câmbio foi mantida fixa e na Venezuela a taxa de câmbio se desvalorizou e sai de controle no mercado paralelo (da ultima vez que tive notícias, ela estava 3 vezes a taxa oficial no paralelo). Assim, na Argentina os aumentos de preços internacionais foram totalmente repassados internamente e na Venezuela eles foram amplificados.

247 - Logo depois ele confirma o que escrevi: Se no Brasil o salário não responde bem frente a conjuntura mais aquecida (o salário médio real está estagnado há algum tempo), na Argentina tal fato não é verdade. Na Argentina, o conflito distributivo é mais acirrado que no Brasil e os trabalhadores têm mais poder de barganha para negociar salários nominais, assim esse fator de custo também influencia uma inflação em patamar mais elevado e até em aceleração. (...) Produtividade: Ao que me parece, a forte crise vivida na Argentina na década de 90 varreu grande parte da indústria daquele país (que já não era grande coisa) e os ganhos de produtividade lá são pequenos por conta disso

248 - … Foi postado ontem aqui no blog o texto do Fabian Amico, que faz parte do Grupo Lujan de Economia Politica da Argentina, que vai um pouco na linha do que coloquei. Mostra o aumento do salário real desde o fim crise e diz que o NUCI está em 72%.

249 - Brasil: Uma média móvel de 12 meses nos mostra que o salário real caiu da grande desvalorização de 2002 até o início de 2006, quando aí sim tem um salto de 5% até meados de 2007, e desde então até o presente momento fica estagnado no patamar mais alto (e bem abaixo do que estava antes da desvalorização de 2002). Se fizermos uma relação entre valorização da taxa de câmbio e aumento do salário real, podemos ver que é evidente. Valorização do câmbio aumenta o salário real, o que pode ser bom de um ponto de vista, mas que demonstra como os salários estão em situação enfraquecida frente à conjuntura (pois uma desvalorização forte pode impor uma perda real dos salários que dificilmente se recuperará).

250 - … Outro dado interessante de se olhar é o do custo unitário do trabalho. Nele é mostrado a relação entre ganhos de produtividade na industria e salário. No Brasil, o CUT vem apresentando variação negativa, o que quer dizer que os trabalhadores não estão conseguindo barganhar parte da grande produtividade alcançada com o crescimento recente.

 

FIM

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