Econ - A Irrelevância da Desigualdade (A DIREITA Discutindo Economia no Orkut) I

 

A Irrelevância da Desigualdade (A DIREITA Discutindo Economia no Orkut):

14 - O tópico começa apontando correlação (não causalidade, como ele mesmo diz) entre crescimento e desigualdade. Antes de entrar no mérito da questão teórica, quero lembrar, como fiz em outro tópico, que a pesquisa empírica têm demonstrado uma clara relação entre desigualdade e crescimento. Alguns trabalhos para referência e estudo (cita vários).

15 - A segunda razão para acreditarmos na relação de causalidade é de ordem teórica: desigualdades extremas levam a população a buscar apoio nos políticos que prometem redistribuir pela taxação da riqueza. Taxar a riqueza diminui a poupança, o que diminui o crescimento. (...) Embora a evidência empírica também aponte que nos países ricos a desigualdade tende a ser positivamente correlacionada com o crescimento, isto provavelmente é devido a políticas ativas do Estado para manter a desigualdade dentro de níveis razoáveis, já que o Mercado, por si só, concentra a renda relativa, não a diminui. (...) isto é coerente com a observação de que em toda democracia avançada há uma alternância do voto entre partidos de direita e de esquerda, o que provavelmente reflete a dinâmica crescimento => desigualdade => menos crescimento. (Eu acho que é mais complexo que isso, mas ok, pode acontecer).

16 - … Uma outra razão teórica para a causalidade apontada entre desigualdade e crescimento está no conceito de "capital social": Uma sociedade não pode funcionar com base no puro egoísmo patológico, mas tb na confiança entre os indivíduos. (...) Dois autores, pelo menos, destacaram a importância do fator Confiança para o crescimento econômico: Alain Peyrefitte ("Sociedade de Confiança") e Francis Fukuyama ("Trust: The Social Virtues and the Creation of Prosperity"). (... É o que observamos no cotidiano e é intuitivamente simples de explicar: A desigualdade gera ressentimento. O ressentimento de uns gera o medo de outros. O medo gera o distanciamento e o ódio. E o ódio gera desconfiança. Uma sociedade desigual é uma sociedade do medo e da desconfiança. Não pode ser uma sociedade da prosperidade e do crescimento.

17 - A desigualdade não é apenas um fator "explicativo". Se os indivíduos realmente possuem uma preferência por situações de menor desigualdade, ela é também um fim, além de um "fator explicativo".

18 - O problema é que em sociedades muito desiguais, tb há pouco incentivo para os pobres trabalharem mais e se educarem, já que a competição é desigual demais. Isto reduz a produtividade do trabalho.

19 - Desigualdade gera bens de consumo de luxo, que apela ao desejo de consumo dos mais pobres, mas que estes só podem adquirir deixando de poupar e investir em sua educação, o que leva a baixas taxas de poupança, investimento e produtividade.

20 - A desigualdade extrema incentiva o crime, já que a decisão de cometer um crime depende de considerações morais e benefícios financeiros relativos. Quando o incentivo financeiro relativo é alto, as considerações morais perdem peso na decisão, levando ao aumento da criminalidade, não só de furtos e assaltos, mas de fraudes e estelionatos. A desigualdade é um incentivo à criminalidade e esta é um destruidor de capital humano, físico e social de um país.

21 - Alguns liberais retardados vieram com argumentos de cartilha e slogans teológicos típicos de doutrinados. O autor respondeu: O trabalho de Pagano que já citei confirma a tendência geral do mercado para a concentração. A razão teórica é muito simples e todo mundo conhece: dinheiro gera dinheiro. Quem já tem dinheiro tem mais facilidade para ganhar mais. (...) E não é uma simples questão de diferenças de produtividade. A típica pessoa de classe média só começa a trabalhar mais tarde. Alguns ficam na casa dos pais "só estudando" até o 25, 26 anos ou até mais. O pobre tem de trabalhar desde cedo.

22 - A Suécia não é pobre nem está empobrecendo, a única diferença que vc pode observar ao longo dos anos é na desigualdade de distribuição de renda. Também tem uma população racialmente homogênea, tem um welfare state que cuida dos mais pobres e dos desempregados, enfim, condições ideais para investigar os efeitos da desigualdade sobre a criminalidade. (...) Procure no Google um trabalho de Anna Nilsson, de 2004, "Income Inequality and crime: The Case of Sweden". Vc verá que ela estudou as variações na criminalidade e na desigualdade *relativa* e encontrou resultados positivos: (...) * Um aumento de 1% da população com renda de 10% da renda mediana (uma medida de relativa de pobreza, não uma medida de absoluta), aumenta a taxa geral de crimes em 2.9%, a taxa de furtos em 5,9% e a de roubos de automóveis em 22.1%. (...) * Mais interessante ainda: quando aumenta a proporção de ricos, ou melhor de indivíduos com renda de 90% da renda mediana ou maior, tb aumentam as taxas de criminalidade, embora em menor proporção! Incrível, não?

23 - O velho Smith já sabia que não. Na Teoria dos Sentimentos Morais, de 1759, ele reflete que a renda relativa não apenas é um motivador do comportamento econômico, mas é o motivador principal para o enriquecimento: (...) Qual é a finalidade da avareza e da ambição ? Da busca de riqueza, poder e preeminência ? É satisfazer as necessidades da natureza ? A renda do mais humilde trabalhador pode supri-las. ... Por que aqueles que foram criados nos mais altos estratos da sociedade consideram pior que a morte ser reduzido a viver, mesmo sem trabalhar, nas mesmas condições simples que um trabalhador ? ... Ser observado, servido, ser tratado com simpatia, respeito e aprovação, são as vantagens que obtemos delas. É a vaidade, não o conforto, ou o prazer, que nos interessa."

24 - Cita estudos de teoria dos jogos que mostram uma aversão a desigualdade. Jogo do ultimato e jogo do ditador. Não sei bem se provam isso. Pelo exemplo, não achei muito. Deve estar mal explicado.

25 - Inclusive na classe média isso (muito louco): Robert Sapolsky, na Scientific American, Dez de 2005, descreve resultados encontrados para estudos similares feitos na Europa: A renda média dos países praticamente não influencia nas condições de saúde dos países ricos, mas a desigualdade causa mais problemas respiratórios e cardiovasculares, úlceras, reumatismo, problemas psiquiátricos e câncer.

26 - E os benefícios da concentração para o crescimento? Existem? Um possível exemplo é dado por Bresser: "À medida, porém, que avançava o processo de substituição de importações, as indústrias que permaneciam dinâmicas, com possibilidades de grande crescimento, começavam a produzir bens cada vez mais caros e mais sofisticados tecnologicamente, destinados apenas às classes mais elevadas. O automóvel, o gravador de alta fidelidade seriam exemplos de bens desse tipo. Sendo corretas essas premissas, dizia Antonio de Castro que, para superar a crise, o país teria que realizar um processo de concentração e não de distribuição da renda."

27 - Pois é. O sistema de saúde nos EUA é largamente privado, os americanos gastam horrores em planos de saúde, são obcecados por equipamentos e drogas de última geração e… têm uma mortalidade infantil maior que a de Cuba. (...) Bacana, não ? O sistema de saúde europeu tb é centrado no planejamento e atendimento público. Os indicadores de saúde na Europa são em geral melhores que nos EUA.

28 - Sir, a relação entre Desigualdade de Renda e condições de saúde da população são conhecidas pelo menos desde a década de 80, quando o governo Thatcher recebeu o Relatório Black, mostrando como a diferenças de renda afetam as condições de saúde da população mas preferiu ocultá-lo, pois significaria uma mudança radical na política de saúde pública na Grã-Bretanha. O relatório está na rede: sochealth.co.uk/history/black.htm - Trecho do relatório: "As análises citadas anteriormente sugerem que as taxas de mortalidade infantil estão associadas a uma série de características dos sistemas socioeconômicos e de saúde. A baixa taxa de mortalidade infantil parece estar claramente associada ao PIB per capita, e há algumas evidências de uma associação com uma renda igualitária distribuição (em outras palavras, os aspectos distributivos da sociedade - e a extensão das desigualdades de renda - podem estar relacionados ao desempenho nacional nas classificações de mortalidade infantil). No que diz respeito à política de saúde, parece que a extensão da provisão de enfermeiras e parteiras, e de leitos hospitalares, são mais importantes do que provisão de médicos. Não sem relação, parece que uma ênfase relativa nos serviços de saúde pré-natal e infantil é necessária dentro da política de saúde. A comparação internacional aqui pode, portanto, ter implicações para a política."


 

(continua ...)

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