Econ - Ricardo - Curva de Phillips Aceleracionista, Conflito Distributivo e Inflação (CCE) III
(continua...)
217 - O ortodoxo replica Palley: se uma expansão monetária aumentar preços e reduzir o desemprego no curto prazo, existe um trade-off entre inflação e desemprego, e portanto, uma taxa de desemprego que eh consistente com nao-aceleração da inflação (a NAIRU). (...) Não existe nada no artigo do Krugman que contradiz o mainstream da macroeconomia neokeynesiana.
218 - Tréplica: Para o argumento do Friedman ser válido é necessário ainda que o aumento de preços no curto prazo seja repassado de forma completa para a inflação dos períodos subsequentes. Nesse caso qualquer taxa de desemprego menor do que a NAIRU acelera a inflação, ou seja, não pode ser consistente com qualquer taxa de inflação constante. (...) Por outro lado, se o aumento inicial de preços não for completamente repassado para a inflação dos períodos subseqüentes o conceito de NAIRU perde o sentido e existe trade-off entre inflação e desemprego. Significa que uma taxa de desemprego permanentemente mais baixa gera um aumento inicial de preços que determina uma taxa de inflação a um nível permanentemente mais elevado, porém constante e não em aceleração.
219 - Outro ortodoxo: Parabéns por concluir que mercados de trabalho mais flexíveis diminuem a nairu. Ricardo réplica: Quem concluiu isso? O mercado de trabalhos mais inseguros pro trabalhador (que vc chama de flexível) não diminui a NAIRU, mas sim diminui o conflito distributivo gerando uma dinâmica inflacionária não explosiva às custas dos salários reais mais baixos do trabalhador. Este fato, pelo contrário, como mostrou Krugman e Palley, acaba com a idéia de NAIRU. Fernando complementa Ricardo: O critério para “fincar uma estaca no coração da NAIRU” está concentrado fundamentalmente no parâmetro “a” da equação econométrica que está no artigo do Summa. Ocorre que, se esse parâmetro for estimado menor do que um , não é só o bebê e a mãe que vão para a banheira, mas também o pai, o avô, o tio e a família toda. Mas o Economista 1 tem uma dificuldade enorme de compreender isto, afinal só participa de conversas educadas onde a=1 a priori. Torna a citar os EUA de 1991 a 2002 e conclui: E aí, lamento te informar de novo, com a<1 não tem NAIRU e volta a ser relevante a idéia de um trade-off entre inflação e desemprego, por mais mal-educado que isto lhe possa parecer.
220 - Os ortodoxos insistem na raiz unitária da inflação (a = 1). Ricardo contesta: È cansativo ter que reescrever o que eu escrevi no meu artigo. O texto aí postado do modelo triangular de Gordon pega um período que começa na década de 60, incorpora a década de 70 e vai até 1996. O que está no texto é que o padrão inflacionário mudou. Há evidências de que não há raiz unitária no período recente nos EUA. … o de 1960-1980 (que apresenta raiz unitária), o de 1983-1991 (em alguns testes apresenta raiz unitária e em outros não) e o período 1991-2002 (que não apresenta raiz unitária) (ver Braga, 2006, p. 97-101). (...) Supor que a inflação era aceleracionista fez com que os novos keynesianos errassem grosseiramente as previsões de que a inflação se aceleraria de maneira selvagem quando o desemprego estivesse abaixo da NAIRU, na segunda metade da década de 90, e o que ocorreu foi uma queda da inflação.
221 - Ortodoxo e a quadréplica ou sei lá: Uma política expansionista que deixe o desemprego abaixo do natural período após período continuará a aumentar a inflação. No longo prazo pode haver uma inflação constante, mas, e se for muito alta? As pessoas precisam aceitar ver o seu poder de compra reduzido até quando (dá uma olhada nas notícas dos nossos hermanos)? (...) Nos EUA a curva de Phillips tornou-se mais plana justamente devido ao controle das expectativas pelos avanços na teoria da política monetária, mercado de trabalho mais flexível, principalmente, além de sorte (que parece estar faltando nesses dias – um choque de oferta também aumenta a inflação). Nos anos 90 a queda da NAIRU é muito bem explicada por aumentos na produtividade, como colocado por Ball.
222 - Outra réplica de outro ortodoxo (estranho que o argumento parece estar mudando): A primeira confusão que você está fazendo eh nao entender a crítica de Lucas: as propriedades estocásticas das variáveis macroeconômicas dependem do regime de política monetária e fiscal. (...) Por exemplo, se a política monetária sistematicamente soprar contra o vento estabilizando a demanda (digamos, com um sistema de inflação de metas crível), mesmo com uma curva de Phillips aceleracionista, a inflação vai vagar ao redor da meta inflacionária, isto eh, comportar-se como uma série estacionária… note, MESMO com uma curva de Phillips aceleracionista. (...) quem realmente estava errados no debate dos anos 90 foram os keynesianos tradicionais e pos-keynesianos que diziam entao (e ainda dizem!!) que havia um vies anti-inflacionario nos bancos centrais e na politica fiscal que reduziria o crescimento da economia… afirmacao esta em contradicao com os fatos subsequentes: (1) a politica fiscal conservadora do Clinton gerou crescimento rapido; (2) a politica monetaria e fiscal fortemente expansivas durante o governo Bush nao geraram nem emprego nem crescimento.
223 - Fernando a partir de um longo trecho de Summa comparando métodos de medir a raiz unitária. Parece então que há um paper muito bom na opinião do Economista 1 e do João Vieira que admite rejeitar a hipótese de raiz unitária para o período 1981-83 (começo do governo Reagan, forte redução do poder de barganha dos sindicatos), além de outros mencionados pelo Summa com base em Braga (2006), que também rejeitam para o período mais recente, indicando que não seja a atitude mais prudente tomar a=1 como algo imutável, mesmo que possa ser a mais usual nos modelos teóricos mainstream. O ortodoxo discorda depois mesmo assim. Diz que Fernando está fazendo interpretação extensiva demais.
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