Econ - Ricardo Summa e Nick Trebat - Respostas a Schwartsman (CCE)

 

Ricardo - Resposta a Schwartsman:

224 - É meio que a mesma discussão acima. Os teóricos ortodoxos não esclarecem, no entanto, que, para que ocorra a NAIRU, é necessário que exista inércia total, ou seja, mecanismos automáticos de realimentação da inflação que façam que a inflação presente seja exatamente igual à inflação passada, além dos choques de oferta e pressões de demanda.

225 - (O fato de a NAIRU, se existe mesmo, ser variável dificulta a vida dos seus defensores e de seus críticos).

226 - Não acreditamos nem que inflação gera aceleração do crescimento e nem que o crescimento da demanda acelera a inflação. Acreditamos que a inflação brasileira depende de fatores de oferta e distributivos e que a inércia não é total. Dessa forma, a política do BC em derrubar a demanda agregada para colocar a inflação dentro da meta não faz nenhum sentido e traz um custo social enorme.



227 - Ortodoxo critica o modelo muito simples usado no texto: Além disto o diagrama de dispersão entre NUCI e inflação não controla para câmbio e expectativas; assim, não há como se surpreender com a falta de resultados (se o modelo é mal especificado, de fato você não encontra a relação, mas isto é falha do modelo).

 

Ricardo Summa e Nick Trebat - Resposta a Schwartsman II:

228 - O desrespeito a NAIRU seria o populismo econômico inflacionário: Ora, os desempregados, que sofrem de “ilusão monetária”, percebem o aumento do salário nominal como um aumento real, e, portanto, decidem que é mais vantajoso trabalhar do que ficar em casa. Embora isso reduza num primeiro momento a taxa de desemprego, a ilusão dura pouco e os ex-desempregados rapidamente percebem que o salário real não aumentou. Estes, portanto, pedem demissão em massa, e, para manter a taxa de desemprego abaixo de 5%, o governo terá que aumentar os gastos públicos (o que aumenta a oferta de moeda) período após período, o que geraria hiperinflacão.

229 - (Não sei se é bem essa a dinâmica da coisa).

230 - Cita o velho exemplo dos EUA dos anos 90, com tudo caindo e economistas fazendo previsão errada de NAIRU de 6%. Salvaram a teoria dizendo que NAIRU varia e variou.

231 - Greenspan citado de novo. Aqui dá pra saber de onde veio: Uma das “melhores” explicações para a inexistência de um “NAIRU” nos EUA veio do ex- presidente do FED, Alan Greenspan, que num discurso diante ao Senado, em 1997, destacou o aumento da “insegurança do trabalhador” norte-americano como o principal fator responsável pela deceleração.

232 - Ademais… mesmo se a redução do desemprego causasse inflação, nós seres humanos seríamos capazes de impedir a sua aceleração (através da compressão das margens de lucro e/ou aumentos na produtividade do trabalho) sem recorrer a medidas que utilizem o bem-estar dos trabalhadores como uma variável de ajuste.

233 - Complemento deste arquivo é um texto de Summa sobre tema parecido: Toda vez que a economia brasileira esboça algum sinal de reação em termos de crescimento, há pressão por parte de economistas ortodoxos para que haja intervenção do governo no sentido de frear a demanda agregada para que não haja inflação. (...) Essa argumentação se baseia em duas hipóteses: a de que o investimento é insensível (ou muito pouco sensível) à Demanda Agregada; e de que a inflação tem inércia total e, portanto, pressões de demanda teriam não de aumentar o nível, mas sim de acelerar a inflação.

234 - Ricardo Summa cita uma dissertação de mestrado: Marcos Tadeu Lelis demonstra que o investimento (Formação Bruta de Máquinas e Equipamentos) é o último componente da demanda agregada a reagir no ciclo. Em outras palavras, ele só se expande após a expansão do Consumo e das Exportações. Essa expansão da demanda agregada por algum período tem efeito nas expectativas de vendas dos empresários, que reagem expandindo a FBME. Assim, quando o grau de utilização se eleva, o investimento acelera, desde que não haja reversão de expectativas sobre a demanda agregada e as possibilidades de vendas no futuro. Assim: a demanda interna é o componente principal para o nível de atividade da economia nacional. … Nos comentários diz: Eu aprendi isso na própria FEA-USP, em um curso do Prof. Eleutério Prado. Essa teoria foi desenvolvida, por ex., pelo Sir John Hicks, Harrod, etc.

235 - Portanto, no que diz respeito ao governo: Deve-se cobrar justamente que ele mantenha ou aumente o ritmo de crescimento dos gastos, para que o investimento em máquinas e equipamentos ocorra de maneira persistente. (Imagino que se refere aos gastos produtivos).

236 - O segundo possível mecanismo de transmissão – o da demanda para a aceleração da inflação – também não se verifica. Afinal, há indícios de inércia inflacionária (apenas) parcial em um país que tem uma massa trabalhadora totalmente “insegura” para reivindicar aumentos reais de salário.

237 - Ricardo também não acha que a SELIC trava o investimento no país: Ainda sobre a taxa de juros, eu acho que ela é baixa para o grande capital. Vc tem o BNDES emprestando a taxas baixíssimas, com carência. Vc tem ainda a possibilidade de tomar empréstimo “lá fora”. Sem contar subsídios e incentivo fiscal. E isso não faz o investimento decolar.

238 - O levemente ortodoxo continua criticando que a SELIC emperre o vôo: Em suma, o que eu quis dizer é que, no monopólio, a gestão vai fazer seus investimentos, os investimentos que a conduzam para o planejado, para o estoque de capital que estou chamando de longo prazo, talvez indevidamente, com uma velocidade que, em função dos investimentos dos monopólio concorrente, da taxa de juros, das desvalorizações cambias prevista da estratégia internacional da matriz, poderá ser maior ou menor. Só um economista com muita religiosidade, com muita fé na teoria econômica, pode imaginar que a política econômica (variação da taxa de juros, por exemplo) é que vai determinar essa velocidade de ajuste do estoque atual para o estoque desejado (de longo prazo).

239 - … Réplica a ele: O que Keynes dizia é que a política fiscal é mais eficiente para gerar demanda agregada que a política monetária. O que é completamente diferente de dizer que a política monetária não pode gerar demanda.

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