Libertários - Textos Diversos XIII
Helmut Wagner - Teses Sobre o Bolchevismo:
231 - Texto de 1933. (Obs: Eram dois na pasta. Fiquei com o mais recente e de melhor formatação. Não vou ler as duas traduções). Autor influenciado por Otto Ruhle, pretendeu responder às acusações de “esquerdismo”.
232 - As teses marcaram o acirramento das diferenças entre bolcheviques e “conselhistas”, digamos. Já não era mera diferença tática advinda de contextos diferentes - Oriente atrasado e Europa ocidental industrial e avançada. Tratava-se, agora, de diferenças radicais.
233 - … Os partidos - qualquer um - passam a ser vistos como “obstáculo ao livre desenvolvimento da atividade proletária de massas”.
234 - Ruhle, em 1921, já denunciava os conselhos de fachada: “Os Sovietes são eleitos de acordo com listas de candidatos propostos pelo Partido” (por exemplo). “A ditadura do partido é um despotismo dos comissários, é capitalismo de estado”.
235 - Rússia pré-revolucionária: “A servidão, sob diversas formas sobrevivia, para a imensa maioria dos camponeses russos, obstruindo o desenvolvimento de uma agricultura capitalista que mal começava a se esboçar.” Vale lembrar que a agricultura era 80% do povo russo, digamos.
236 - A indústria russa era quase nada: “Em muitos ramos da indústria, a força de trabalho estava formada principalmente por trabalhadores camponeses temporários, que não tinham nenhuma conexão permanente com a cidade”.
237 - O sistema político? O mesmo atraso. A nobreza feudal, ainda poderosa, impedia uma democracia liberal típica.
238 - A nobreza russa queria aumentar sua influência sobre o estado absolutista, mas conservando-o. A burguesia era vacilante e medrosa, pois temia o povo mais que qualquer coisa. Tentava, na maioria das vezes, reformar o czarismo, tendo apoiado o czar quando percebeu que os bolcheviques poderiam tomar o poder (setembro).
239 - O campesinato, que apoiou as forças conservadoras em 1905, também se revoltou em 1917. (guerra e tal). Os pequenos camponeses famintos e escravizados, numericamente predominantes, estavam forçados a realizar expropriações violentas das grandes fazendas. Incapazes de perseguir uma política de classe própria, os elementos camponeses russos tiveram que seguir a direção de outras classes.
240 - Como cada um de seus enfrentamentos com o czarismo se tornava uma ação revolucionária, o proletariado desenvolveu uma consciência de classe primitiva que, nas lutas de 1917, especialmente na ocupação espontânea das principais empresas, elevou-se à altura da vontade subjetiva do comunismo.
241 - A revolução: “As massas camponesas eram seu alicerce passivo; as massas proletárias, numericamente débeis ainda que revolucionariamente fortes, representavam sua arma de combate; a pequena fração de intelectuais revolucionários era seu cérebro.”
242 - Afirma que os proletários tiveram que se subordinar aos intelectuais para que fosse possível vencer alguma desconfiança ou mesmo hostilidade advinda do campesinato, afinal, este lutava especialmente pela propriedade privada. (Se foi exatamente assim mesmo, já não sei…)
243 - Afirma inclusive que “toda agitação ideológica entre as massas, ainda que fundamentalmente em contradição com o programa do partido, foi utilizada. Isso tinha de ser feito, pois o objetivo era a captação incondicional das massas para a sua política. E porque essas massas, operárias e camponesas, tinham interesses e consciência de classe completamente diferentes. Precisamente por essa razão, o método táctico do bolchevismo se aproxima da política revolucionária burguesa.” Assumiu a direção das lutas dos dois campos diferentes.
244 - Explorando os erros do campo inimigo: “Assim, Lênin falou dos burgueses liberais como «nossos aliados de amanhã» e, noutra ocasião, defendeu os sacerdotes que se opunham ao governo que não os satisfazia, do ponto de vista material, declarando-se disposto a apoiar as seitas religiosas perseguidas pelo czarismo”. Porém, as alianças limitavam-se à pequena burguesia. Capital dominante ficava de fora.
245 - Os bolcheviques, já em 1905, forjaram a consigna da «expropriação radical dos latifundiários pelos camponeses». Embora demagógica - os bolcheviques não sabiam o que fazer com essas terras -, a consigna correspondia aos interesses dos camponeses.
246 - A vanguarda do proletariado significa a encarnação da classe no partido, critica Helmut Wagner.
247 - Afirma que era um partido jacobino que se dizia proletário e que “proletariado” era sempre, na verdade, o partido. Seu conteúdo de classe foi, ademais, completamente suprimido pela definição bolchevique da ditadura do proletariado como a «aliança de classes entre o proletariado e o campesinato sob a hegemonia do proletariado» (Stálin e o programa da III Internacional.)
248 - Os bolcheviques consideraram os sovietes um órgão insurreicional e não um de “autogoverno” da classe operária. ´”Todo poder aos sovietes” era só quando era conveniente. Diz que Kronstadt foi uma das provas: No final dessa insurreição, as reivindicações capitalistas apresentadas pelos camponeses foram atendidas, pela política da NEP. As reivindicações democráticas do proletariado, contudo, foram afogadas no sangue proletário.
249 - A “oposição operária” foi perseguida e demolida, afirma.
250 - Contra Rosa. Os bolcheviques combateram sem tréguas a idéia da autodeterminação da classe operária e exigiram a subordinação do proletariado à organização burocrática
251 - Coloca, por tudo isso e mais, que a revolução russa foi sim burguesa.
252 - Assim como o aparelho estatal do czarismo dominava as duas classes proprietárias, também o novo aparelho estatal bolchevique começou a tornar-se independente das duas classes que lhe serviam de base. A Rússia saiu do absolutismo czarista e caiu no absolutismo bolchevique.
253 - Mesmo as consignas usadas para tomar o poder não expressavam qualquer socialismo. A tomada das fábricas foi logo controlada pela burocracia governamental num típico capitalismo de Estado que, depois, Stálin quis mudar o nome para “socialismo”, acusa.
254 - Critica o internacionalismo limitado dos bolcheviques: “Portanto, a política internacional do bolchevismo era apenas uma repetição em escala mundial da revolução russa (combinando a revolução proletária e a revolução camponesa), política que situava o partido bolchevique russo no comando dum sistema mundial que combinava os interesses comunistas do proletariado com os interesses capitalistas dos camponeses”. Serviu só pra defender a Rússia, mas não avançou em outros países.
255 - Tratados comerciais, concessões e transações para obter créditos volumosos restabeleceram os laços da economia estatal russa com a produção capitalista mundial e o seu mercado, no qual Rússia entrou.
256 - Outra tese: O perpétuo grito de alarma, diante de uma guerra iminente das potências imperialistas aliadas contra a U.R.S.S., serviu na política interior para justificar a militarização intensiva do trabalho e o aumento da pressão sobre o proletariado russo.
257 - Por fim, propõe como uma das primeiras tarefas do revolucionário a luta contra a ideologia e prática bolchevique em qualquer organização que seja.
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