Libertários - Textos Diversos VIII

 

Daniel Aarão Reis Filho - Comuna de Paris:

125 - Texto de 1996.

126 - Paris em 1872: “2/3 de sua população ativa ganham a vida como assalariados, metade vive do trabalho manufatureiro”. (...) Em 1848, 346 mil assalariados e 58.500 patrões. Em 1872, 454 mil assalariados, cerca de 80 mil patrões. Mantida, portanto, uma proporção entre patrões e empregados oscilando de 1 para 5 a 1 para 6. (...) jornadas de trabalho extensas, alcançando, às vezes, 15 a 16 horas por dia, recurso indiscriminado ao trabalho feminino e infantil, quase nenhuma proteção institucionalizada, insalubridade na habitação e no lugar de trabalho, surtos de desemprego, fome e miséria, apartheid social e geográfico.

127 - Afirma que o resto da França era relativamente conservadora. Inclusive a maioria esmagadora da população era rural.

128 - Em 1864, Napoleão III aprovou uma lei de greve, ainda que cheia de condicionantes. Também foi o ano da fundação da AIT.

129 - Ainda sobre a Paris da época: “Um autor conseguiu relacionar cerca de quatrocentas sociedades cooperativas de consumo, mais de cem sociedades cooperativas de produção, duzentas sociedades de poupança e crédito mútuo, cerca de sessenta sociedades de resistência e solidariedade, outras sessenta câmaras sindicais operárias e muitos outros grupamentos, bibliotecas populares, círculos educativos, etc....

130 - Contexto da guerra franco-prussiana. Ao que entendi, o povo da França não queria se render à Prússia. “É interessante notar que J. Gaillard enfatiza um fato não tão conhecido: as cidades de Marselha e de Lyon proclamaram a república antes de Paris.”

131 - A elite é quem não queria resistir, com medo das consequencias. “Do lado das elites, amparadas nas eleições legislativas de 08 de fevereiro de 1871, das quais resultaram uma Assembléia terrivelmente conservadora, e mesmo inclinada à restauração da monarquia, há o medo, a perspectiva da fuga (transferência da sede da Assembléia para Bordeaux), o capitulacionismo”.

132 - O governo tomou os 227 canhões de Paris. O povo da cidade entendia como afronta e se amotinou, inclusive matando os que tentaram tornar efetiva medida do governo. Era o início da Comuna de Paris. 26 a 28 de março de 1871. Portanto, como uma resposta à tentativa do governo de desarmar a população.

133 - Traz a seguinte nota de rodapé: Karl Marx, em seu ensaio sobre a Comuna, A Guerra Civil na França, apontaria o fato de os communards não terem perseguido imediatamente o governo provisório em seu reduto de Versalhes como um erro fatal, na medida em que permitiu aos inimigos da Comuna recuperarem o fôlego, reagruparem forças e passarem ao ataque. Entretanto, a decisão de explorar a vitória pressupunha um projeto revolucionário que, na verdade, não havia. Foi mais uma insuficiência do que um erro. Em qualquer caso, fatal, e aí Marx teve razão. Lenin e os bolcheviks não esqueceriam a lição...

134 - As tímidas medidas imediatas: suspensão das cobranças das dívidas e dos aluguéis, a abolição do trabalho noturno e a das agências de emprego (eram detestáveis intermediários), a suspensão da venda de objetos penhorados.

135 - Assumir as empresas dos patrões fujões? Não rolou. Apenas uma.

136 - Surgiu legislação favorável à proteção do trabalho feminino e infantil.

137 - Outras medidas: o fim dos subsídios às religiões (leia-se: à religião católica), o ensino laico e a separação radical entre o Estado e a religião. Entretanto, quase todas as igrejas de Paris permaneceram abertas e em funcionamento. Ou seja, não se sustenta a ladainha/propaganda de que a comuna perseguiu os cristãos.

138 - No campo político, ocorreram as tentativas mais avançadas: “elegibilidade de todos os cargos (administrativos, judiciais e educacionais), através do sufrágio universal; revocabilidade imediata de todos os eleitos pelos eleitores; remuneração dos mesmos, segundo referências comuns aos trabalhadores; mandatos imperativos; supressão do serviço militar obrigatório e do exército permanente”. Não havia representantes e sim mandatários.

139 - Não há exército ou polícia, mas sim o povo em armas.

140 - As comunas de outras cidades não foram vitoriosas, logo, ficou impossível o sonho da federação de comunas. Havia essa esperança. Talvez por isso e pelo cansaço, não perseguiram o governo fujão. De toda forma, com as derrotas, começava o cerco a Paris.

141 - Na medida das concessões do governo versalhês, os prussianos autorizaram a libertação de soldados e chefes prisioneiros. Graças a eles, pode o cerco reforçar-se, de 30 mil para 80 mil, depois, para 130 mil soldados. Assim, os derrotados na guerra nacional contra o estrangeiro poderiam dedicar-se à guerra social contra seus próprios compatriotas.

142 - Interessante: Hanna Arendt chegou à idéia de que o Holocausto e a banalização do Mal tinham precedentes no extermínio dos povos colonizados. Com efeito, desde que fosse possível considerar o outro como sub-raça ou/e não-pessoa, tornar-se-ia possível e viável racionalizar a matança indiscriminada. Por isso, foram mais de 20 mil (de 20 a 35, diz) fuzilamentos que já nem eram consequencias de enfrentamentos. Tratava-se de matar os desordeiros, bandidos, a canalha que desafiou a ordem.

143 - … Morreram dez vezes mais pessoas do que em 1848, cinco vezes mais do que no Terror da Grande Revolução. Morreram à moda colonial, sobretudo no curso da última semana de resistência, a semana sangrenta, entre 21 e 28 de maio. Depois cairiam mais cerca de 7 mil, à moda jurídica, depois de presos, executados pelos conselhos de guerra, em nome da Lei. A comuna, durante sua vigência, executou bem menos presos. Uma centena.

144 - Em agosto de 1871, quase três meses após o fim da revolução, ainda havia, segundo os relatórios oficiais, 36.309 presos, entre os quais 1.054 mulheres e 615 crianças menores de 16 anos. A Comuna, enquanto durou, prendeu 3.632 pessoas.

145 - O incêndio dos últimos resistentes foi como um grito de dor desesperado. Como se nada mais importasse.

146 - Daniel critica a pouca disciplina do “povo em armas”. Faltou uma dose de militarismo, crê. Tinha que perseguir os inimigos, com exército (vermelho?) e direção central (não uma constelação de tendências e “partidos”). Faltaram essas três coisas, para o autor (que segue Marx nesse sentido).

147 - Afirma, ainda, que foi a última revolução plebeia e não a primeira proletária. (Não sei se isso está provado).

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