Anarquistas - Textos Diversos XLVI

 

Rudolf Rocker - Marx e o Anarquismo:

942 - Rocker sobre Bernstein: “Homem prudente, Bernstein reservou para si seus descobrimentos até quando morresse o velho Engels, e só então os tornou públicos ante o espanto dos sacerdotes marxistas”. Diz que Kautsky escreveu um livro contra “Eduardo”. Este teve que se curvar à decisão da maioria no Congresso de Hannover.

943 - Rocker diz que as críticas de Bernstein já vinham sendo feitas bem antes por vários “não-marxistas”.

944 - Depois das revoluções da 1848, iniciou-se na Europa uma reação terrível; a Santa Aliança voltou a estender suas redes em todos os países com o propósito de afogar o pensamento socialista, que tão riquíssima literatura produziu na França, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Espanha e Itália. Tal literatura foi quase totalmente relegada ao esquecimento durante essa época de obscurantismo que começou depois de 1848. Rocker coloca isso tudo para defender que as ideias de Marx e Engels eram pouquíssimas ou nada originais. Ademais, diz que o manifesto comunista era praticamente uma cópia do “Manifesto da Democracia de Victor Considérant”, autor já citado por Marx em artigo de 1842. O mesmo Marx que acusava Proudhon de plagiar o economista inglês Bray.

945 - Diz que a “mais-valia” nasce com Proudhon.

946 - Antes da briga, Marx chegou a dizer que Proudhon era “o mais conseqüente e sagaz dos escritores socialistas”. Depois, passou a dizer que o francês não tinha, no fundo, importância alguma para o movimento.

947 - Em “A Sagrada Família”, Marx coloca “O que é propriedade” como a obra que revolucionou a economia. Disse ainda “Proudhon não somente escreve em favor dos proletários, como ele mesmo é também um proletário, um operário; sua obra é um manifesto científico do proletariado francês”.

948 - No número 63 desse periódico (7 de agosto de 1844), Marx publicou um trabalho de polêmica “Anotações críticas ao artigo ‘O rei da Prússia e a reforma agrária’”. Nele estuda a natureza do Estado e demonstra a incapacidade absoluta de um organismo para minorar a miséria social e para suprimir o pauperismo. As idéias que o autor desenvolve nesse artigo são idéias puramente anarquistas e estão em perfeita concordância com os conceitos que Proudhon, Bakunine e outros teóricos do anarquismo estabeleceram a esse respeito. (Após, Rocker coloca longo extrato onde podemos comprovar isso claramente. Marx anarquistão mesmo… Atacando a propriedade, a sociedade burguesa, mas, sobretudo, o Estado)

949 - … Seria a prova cabal de que Proudhon foi como um mestre para o jovem Marx, levando-o ao socialismo.

 

Salvo Vaccaro - Foucault e o Anarquismo:

950 - Nos dois primeiros anos de vida em Clermont (60-62), Michel Foucault tomou-se amigo de Jules Vuillemin. Faziam longas caminhadas pelas ruas do centro histórico, almoçavam juntos com freqüência, por vezes na companhia de colegas da faculdade de filosofia. (...) Vuillemin aproximou-se gradualmente da direita (...). Discutiam muito entre si e Foucault concluía em geral com o comentário: “No fundo, você é uma anarquista de direita e eu um anarquista de esquerda”.

951 - Tradicionalmente, Foucault mal citava anarquistas em suas obras. Inclusive disse não se identificar com a filosofia libertária, pois esta prevê necessidades fundamentais do homem… Talvez essa crítica tenha a ver com este outro trecho: Não é verdade que Foucault não indica caminhos de forma positiva. Quando enuncia a famosa frase sobre a “ morte do homem”, entende referir-se à dimensão histórico-moderna do sujeito soberano que superinstitucionalizou corpos e desejos de cada indivíduo, dissociado de vínculos de gênero, identidade, grupo étnico.

952 - Habermas o considera como “o herdeiro anárquico” de Nietzsche, assim como Heidegger representaria o herdeiro conservador.

953 - Sempre se esvaiu de todas as tentativas de rotulá-lo. Mesmo quando lhe pediam expressamente que se declarasse politicamente.

954 - A próximidade com Nietzsche seria de método filosófico: a “genealogia” e consequente recusa de qualquer método dialético.

955 - Foram várias as tentativas de classificá-lo. Anarconiilista? Anarcoexistencialista? Muitos o aproximam dos libertários do século XIX, que criticavam e desafiavam tudo e a todos.

956 - Um dos estudiosos em Foucault traça a seguinte linha separativa entre o francês e os anarquistas: “em Foucault não existe uma ordem natural, nem uma harmonia possível”.

957 - Outro estudioso coloca: “a culpa e a inocência são criadas pelo código jurídico, a normalidade e a anormalidade pelas disciplinas científicas. Abolir os sistemas de poder significa abolir de uma só vez as categorias jurídicas, morais e também científicas. Mas o que sobra, então? Foucault não acredita, como faziam os primeiros anarquistas, que o ser humano livre sei a um sujeito de um certo tipo, bom por natureza e sinceramente sociável -, pelo contrário, está convencido que não existe algo que possa ser definido como um ser humano livre, que não existam homens ou mulheres naturais. Homens e mulheres são sempre criações sociais, produtos de códigos e disciplinas. E assim o radical abolicionismo de Foucault, se é sério, possui menos um caráter anarquista que niilista”. José Gulherme Merquior parece concordar.

958 - Foucault era cético inclusive com as “instituições revolucionárias” (partidos…). Era entusiasta da descentralização, mas um “antiutopista”.

959 - Quem considera Foucault “neoanarquista” assim coloca as coisas: O neo-anarquismo de hoje, parece ser absolutamente negativo. Parece não ter nenhuma pars construens, as suas crenças consistem naquilo que recusa, e não em idéias positivas.

960 - A mudança, em Foucault, se dá “do particular para o geral”, daí a microfísica do poder e o antiutopismo...

961 - A proposta de Foucault é de uma reconstrução individual, promovendo novas formas de subjetividade e imaginando “aquilo que poderíamos ser”. Trata-se de libertar o indivíduo tanto do Estado quanto do tipo de individualização a ele vinculada.

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