Maurício Tragtenberg - Textos Diversos VI - 'Identidade e Alteridade' e 'Menachem Begin Visto por Einstein, Arendt e Goldman'

 

Maurício Tragtenberg - Identidade e Alteridade:

373 - Mais um registro biográfico, agora por Antonio Ozaí da Silva.

374 - Estigmatização: O termo estigma indica um atributo depreciativo, que pode ser visível ou imputado ao outro pelos que se consideram ‘normais’. Em casos como raça, religião, postura política-ideológica, classe social etc, o estigma expressa uma postura não apenas de animosidade, mas também percepção ideológica valorativa de quem se considera superior ou normal. O outro é categorizado como não natural, fora do comum.

375 - CHIAVENATO (1985: p. 230), analisa como os judeus, cristãos-novos e judaizantes, por seu fazer e o saber, conseguem ter uma certa proeminência no Brasil colônia: “Os cristãos, herdeiros da tradição medieval, consideravam indigno o trabalho manual. Por isso, no Brasil-Colônia, os judeus tiveram grande importância: eram os carpinteiros, alfaiates, mecânicos, etc. Além de ser a minoria que sabia ler e escrever foram médicos, escrivães, financistas, geógrafos, boticários...”.

376 - Com a idéia de um projeto que ajudasse os judeus a se transferirem para terras mais pacíficas, imunes à intolerância religiosa ou étnica, o Barão de Hirsch criou, em 1891, uma organização para a instalação de colônias agrícolas em diversos países: a Jewish Colonization Association (conhecida como JCA). (...) Para estabelecer as colônias agrícolas, a JCA adquiriu, em 1903, uma área de 5.767 hectares em Santa Maria, que foi a primeira colônia judaica no Brasil. (...) Na nova terra, os imigrantes receberam lotes de 25 a 30 hectares, com uma residência, instrumentos agrícolas, duas juntas de bois, duas vacas, carroça, cavalo e sementes, a um preço de cerca de cinco contos de réis, a serem pagos em prazos de 10 a 15 anos.

377 - Coloca que, antes de Hitler, as idéias preconceituosas contra os judeus não tinham chegado ao Brasil.

378 - Os avós de Tragtenberg: Este elemento aparece em sua descrição sobre os primeiros desafios dos colonos que, diante da natureza virgem, “começaram uma experiência fundada no apoio mútuo e na solidariedade, fundados na experiência da revolução maknovista na Ucrânia, destruída pelo bolchevismo, em 1918.” (...) Tragtenberg frisa que estes colonos liam vários autores anarquistas e os clássicos da literatura russa. Esta influência seria concretizada na conquista de “auto-suficiência em alimentos” e na elevação e aperfeiçoamento educacional e “auto-aplicação dos princípios anarquistas no quotidiano de suas vidas.

379 - A visita de Plínio Salgado era sentida no bairro judeu como a visita de um anti-semita que preparara futuros progroms, iguais aos vividos na Rússia, daí o temor e os comentários terem se espalhado pelo bairro.

380 - Os judeus não eram homogêneos. MT diz que todos tinham algum capital cultural (uma biblioteca), mas isso era bem desigual: Tragtenberg faz uma diferenciação entre os judeus oriundos da Alemanha (que “têm, em geral, muito capital cultural”, é “mais ocidentalizado” e seus filhos geralmente haviam feito universidade); os judeus italianos e franceses, chamados Sefaradi (“o mais culto, o mais erudito de todos, o de maior capital cultural”); e o judeu que veio da Rússia e Lituânia (camponeses “realmente desprovidos”, cuja linguagem, o iídiche, tinha uma “pronúncia meio carregada”). O iídiche se tornou, segundo Tragtenberg, um “mecanismo de identificação do grupo.” No grupo judaico, “quando uma pessoa abria a boca, o sujeito já identificava de onde era, de que região vinha.” (Id., pp. 18-19).

381 - Isaac Deutscher: “Se não é a raça, que é então que faz um judeu? Religião? Eu sou ateu. Nacionalismo judaico? Sou internacionalista. Dessa forma, em nenhum dos dois sentidos sou judeu. Sou judeu, entretanto, pela força da minha incondicional solidariedade aos perseguidos e exterminados. Sou judeu porque sinto a tragédia judaica como a minha própria tragédia; porque sinto o pulsar da história judaica; porque daria tudo que pudesse para assegurar aos judeus auto-respeito e segurança reais e não fictícios.” O autor crê que possivelmente seria a posição de MT também.

382 - Tragtenberg aos 16 anos (1945-46): Filiou-se ao PCB, fez trabalhos de base (colou cartazes, pichou muros, distribuiu panfletos) mas na discussão política as ordens eram ouvir e seguir. Maurício discordou e foi expulso com base no artigo 13 do Estatuto do Partido: "É proibido ao militante do partido qualquer contato direto ou indireto com trotskystas ou outros inimigos da classe operária.”

383 - Expulso, aproximou-se do trotskista Hermínio Sachetta. Depois da família Ábramo, onde pôde ler compulsivamente.

384 - Mais uma de suas universidades: “A principio, eu achava o Partido socialista meio babaca, porque o programa era eleitoralista, o voto era tudo. Falava muito de democracia, mas não tinha operário, só intelectual e tinha um chamado grupo de centro. Esse grupo era uma espécie de cabeça socialista. Rogê Ferreira, Oliveiros Ferreira, Aziz Simão, O Febus Gicovate, que era o meu médico.”

385 - Tragtenberg: “Tinha um ódio diluído de todo meio universitário, em função de uma prática pedagógica que acabava com a hierarquia, que acabava com os critérios tradicionais de avaliação e redefinia a relação de poder em sala de aula, redefinia isso no cara a cara. Não era só escrever ou falar sobre, há uma prática colocada nisso. Naquele tempo, a PUC era reaça (...). O pessoal da USP já olhava a gente como uns carbonários. (...) O próprio meio universitário, por mais que se dissesse marxista, tinha muita resistência a esse tipo de prática pedagógica; era muito doutoral, muito professoral.”

386 - Diz que MT era incontrolavelmente heterodoxo. Sequer o rótulo “anarquista” pegava muito bem: Maurício Tragtenberg mostrava que a “estrutura centralizadora, autoritária e jacobina” estava presente na formulação de Bakunin e não naquela formulada por Marx. (...) Autodidata por imposição da situação financeira à época, não chegou a completar o primário. Chegou à Universidade sem passar por ela. Em vez dos bancos das salas de aula, freqüentou bibliotecas e grupos de intelectuais, muitos também autodidatas, com os quais exercitava o aprendizado solitário.

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Menachem Begin Visto por Einstein, Arendt e Goldman:

398 - Esse massacre de palestinos, a escalada militar no Líbano, a expropriação das terras de camponeses palestinos à custa dos quais fundou-se o Estado de Israel, são consequências da hegemonia em Israel do bloco religioso ao fascismo, que tem em Begin sua maior expressão. Compreender o "fenômeno Begin" é condição indispensável para compreensão de um fenômeno que transformou o Estado de Israel na Prússia do Oriente Médio. (...) Já em 1948 Begin era criticado numa carta publicada pelo "New York Times" a 4/12, assinada por Albert Einstein e Hannah Arendt, entre outras personalidades judaicas e não judaicas.

399 - Segundo Hannah Arendt e seus companheiros, hoje em dia ele (Begin) fala em democracia e liberdade, mas até há pouco pregava abertamente a doutrina fascista. Einstein e os demais subscritores da carta criticam como prática fascista o massacre de camponeses árabes da aldeia de Der Yassin.

400 - A 9/4/48 o bando terrorista da "Irgun" massacrou 240 habitantes, levando os poucos sobreviventes para uma parada, exibindo-os como cativos nas ruas de Jerusalém. Enquanto a "Agência Judaica" desculpava-se por esse massacre fora dos planos, os adeptos de Begin convidavam os correspondentes estrangeiros no país para ver os corpos empilhados em Der Yassin. (...) Segundo Einstein, Hannah Arendt e mais 24 intelectuais que assinaram a carta, o partido do sr. Begin prega um ultranacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial. A carta critica "Irgun", por espalhar o medo entre a comunidade judia na Palestina, espancando intelectuais judeus que o criticam, tentando intimidar a população judia com assaltos e depredações. Conclui a carta que Beguin tenta substituir a liberdade sindical por um modelo corporativo "nos moldes do fascismo" e que seu partido traz a marca do Partido Fascista, para quem o terrorismo contra ingleses, árabes e judeus é um meio e a construção do Estado Fascista Autoritário, a finalidade.

401 - O Primeiro Congresso do Movimento Revisionista de Jabotinsky-Beguin se realiza em Milão em 1932, tendo como slogan "Ordem Italiana para o Oriente ". Devido o apoio do Movimento Revisionista à guerra de Mussolini contra a Etiópia, a agência noticiosa fascista "Oriente Moderno" saudava o Congresso Revisionista realizado em 1935. (...) A partir de 1935, quando se tornou público o universo concentracionário criado por Hitler e seu anti-semitismo militante, o Movimento Revisionista prudentemente afasta-se de Mussolini.

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