Luis Felipe Miguel - Elementos Para Uma Teoria Ampliada da Representação Política II e outro
(continuação...)
245 - A crítica que se faz ao conceito de ideologia é o de supor o “observador privilegiado”, o que pode conduzir a políticas nefastas e autoritárias, como mostra a experiência da URSS. O partido sabia o que era melhor para os atingidos. A “consciência correta”.
246 - Convém notar que, na prática cotidiana, o preceito da inexistência do observador privilegiado é, com certa freqüência, deixado de lado. Julgamos legítimo intervir, por exemplo, para impedir um ato de automutilação ou um suicídio, da mesma forma como obrigamos as crianças a comer verduras ou ir à escola.
247 - Alguns entendem que a representação seria mais adequada se pretendesse repetir os diversos critérios de classificação (classe, gênero, raça, renda) do macrocosmo no microcosmo que numa eleição “livre”. Cotas e até sorteio de representantes baseadas nelas poderiam entrar aqui.
248 - Mídia e controle da agenda pública: Há um forte incentivo para que as intervenções e os projetos dos parlamentares sejam ligados aos temas veiculados na mídia, por dois motivos: (i) são os temas de maior visibilidade efetiva, isto é, o parlamentar que age a respeito deles mostra-se como mais atuante; e (ii) são os temas de maior visibilidade pessoal potencial, isto é, a intervenção a respeito deles tem mais chance de receber destaque na mídia.
249 - Formas de ação direta, com recurso à violência ou à desobediência civil, por exemplo, podem ser eficazes para despertar a atenção para um problema, mas os grupos que recorrem a ela perdem legitimidade para serem aceitos como interlocutores públicos, sendo substituídos por outros, mais moderados (Gamson e Meyer, 1996, pp. 287-289).
250 - Tarefa do pluralismo político da mídia na democracia: Hoje, via de regra, a mídia desempenha mal esta tarefa, por diversas razões, que incluem os interesses dos proprietários das empresas de comunicação, a influência dos grandes anunciantes, a posição social comum dos profissionais do setor e a pressão uniformizadora da disputa pelo público.
251 - Menciona a sugestão corrente de que se incentive formas de mídia de grupos desprivilegiados.
252 - Debate público real: Apontar a necessidade de espaços autônomos de produção das preferências significa que não basta a existência de uma “esfera pública” em que diferentes posições entram em debate, conforme a formulação canônica de Habermas. Se isso ocorre, os grupos sociais que têm menor capacidade de constituição autônoma de seus próprios interesses – os grupos dominados, possuidores de menor capital, tanto econômico como cultural – estarão em posição desvantajosa. Na verdade, estarão quase que fadados a abraçar “preferências adaptativas”, isto é, a escolher apenas uma das alternativas em foco, sem a possibilidade de gerar novas opções (Sustein, 1991, pp. 19-24; Knight e Johnson, 1997, p. 298).
253 - Propõe, ainda, o reconhecimento do valor da autonomia, no sentido de produção das regras sociais por aqueles que estarão submetidos a elas. É algo que exige não apenas a liberdade de escolha, mas também “decisões alcançadas com uma consciência completa e vívida das oportunidades disponíveis, com referência a toda a informação relevante e sem constrangimentos ilegítimos ou excessivos no processo de formação de preferências” (Sustein, 1991, p. 11).
Max Weber - Sociologia da Imprensa:
254 - O texto é de 1910. Destaca a importância crescente da imprensa: Se há 150 anos o Parlamento inglês obrigava os jornalistas a pedir perdão de joelhos diante dele pelo breach of privilege, quando informavam sobre as sessões, e se hoje em dia a imprensa, com a mera ameaça de não imprimir os discursos dos deputados põe de joelhos o Parlamento.
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