'Florestan Fernandes - Luta de Raças e de Classes' e 'Francisco C. P. Fonseca - Mídia e Democracia'

 

Florestan Fernandes - Luta de Raças e de Classes:

151 - Os proprietários de escravos pleiteavam a indenização: obtiveram a imigração em larga escala, financiada pelo poder público. (...) Despreparados para competir com os imigrantes ou para se deslocarem para outras ocupações, foram condenados ao ostracismo e à exclusão.

152 - Os abolicionistas estavam preocupados mais com o fim da escravidão e o advento do progresso com a pessoa dos negros escravizados. Antônio Bento ainda fez tímidas defesas pós-abolição, mas meio que sozinho.

153 - Para alguns, a Lei Áurea era uma vitória dos de baixo. Cita contratos que se tornaram comum em 1885 e foram desobedecidos. Os escravos rebelaram-se nas senzalas e deixaram de obedecer os contratos maquinados pelos senhores, que lhes conferiam a liberdade em troca de um período predeterminado de prestação gratuita de trabalho (cinco, quatro, três ou dois anos). Ao abandonarem as fazendas e aceitarem tarefas a pagamento de fazendeiros vizinhos (o que era proibido pelo código de honra dos fazendeiros) eles desorganizavam a produção e, o que foi mais decisivo no fim, suspendiam a colheita.

154 - Por outro lado, como assinala Antônio Bento, o verdadeiro apoio de massa à libertação dos escravos provinha de baixo, dos trabalhadores urbanos e dos artesãos, donos e empregados de alfaiatarias, sapatarias, padarias, oficinas, etc., que rompiam na prática com a ordem estabelecida. O tope sancionou o que se impunha pelo clamor do Povo. A ingenuidade da princesa serviu à causa popular, o que não impedia que o Brasil fosse um dos últimos países a proclamar oficialmente o término da "instituição odiosa".

155 - Pós-abolição: Os que não recorreram à migração para as regiões de origem, repudiavam o trabalho "livre", que lhes era oferecido, porque enxergavam nele a continuidade da escravidão sob outras formas. Para serem livres, eles tiveram de arcar com a opção de se tornarem "vagabundos", "boêmios", "parasitas de suas companheiras", "bêbados", "desordeiros", "ladrões", etc. A estigmatização do negro, associada à condição escrava, ganhou nova densidade negativa.

156 - Narra o crescimento do movimento negro coletivo como segunda abolição, ao contrário da primeira, que foi uma farsa, afirma.

157 - Cobra posição do PT pois luta de classes e luta de raças estão conectadas. A resistência negra nas décadas de 1930, 1940 e parte de 1950 suscitou o reacionarismo das classes dominantes, que logo denunciaram o "racismo negro"! Além disso, mesmo onde negros e brancos conviviam fraternalmente, nem por isso os brancos sentiram-se obrigados a dar solidariedade ativa aos porta-vozes e às manifestações da rebelião negra.

158 - Um exemplo pode ilustrar o raciocínio. Os operários podem interromper um movimento porque conquistaram o aumento do salário, a introdução de comissões no local de trabalho, a readmissão de colegas demitidos, liberdade de greves e de organização sindical, etc. Não obstante, os trabalhadores negros poderão ter reivindicações adicionais: eliminação de barreiras raciais na seleção e promoção dentro da fábrica, convivência igualitária com os colegas, supressão da condição de bode expiatório na repressão dentro da fábrica e fora dela, acesso livre às oportunidades educacionais para os filhos, etc.

159 - Mais do que denunciar a primeira abolição, trata-se de realizar a segunda. (Parece a tese onze).

 

Francisco C. P. Fonseca - Mídia e Democracia:

160 - Vê a ambiguidade que há na questão de um ente privado - a mídia - cuidar de uma finalidade pública - a comunicação. Quais são os controles democráticos da mídia?, pergunta.

161 - A notícia, no capitalismo, é uma mercadoria especial, pois é capaz de moldar o mundo em volta. Necessitaria, por isso, de tratamento diferenciado. Influencia tudo. Paparazzi é um exemplo.

162 - Acusa a mídia de pretender formar um consenso neoliberal que trata como jurássico qualquer desvio.

163 - Por outro lado, não podemos nos esquecer de que, no século XX, possuir um meio de comunicação, sobretudo com abrangência razoável, requer imensos recursos econômicos, tornando-se proibitivo à maioria absoluta dos grupos sociais.

164 - A “opinião pública” para a imprensa seria a opinião de seus leitores. No máximo, uns 10% da população. Ou seja, são as classes médias e proprietárias, tratando-se, portanto, de uma expressão absolutamente restritiva. A audiência qualificada dos formadores de opinião, disse Frias em entrevista ao pesquisador.

165 - Por isso é que podemos compreender a famosa sentença de Madison acerca da natureza humana, que certamente pode, e deve, estender-se à mídia: “Se os homens fossem anjos, não seria necessário haver governo. Se os homens fossem governados por anjos, dispensar-se-iam os controles internos e externos do governo. Ao constituir-se um governo [...], a grande dificuldade está em que se deve, primeiro, habilitar o governante a controlar o governado e, depois, obrigá-lo a controlar-se a si mesmo. [...] Essa política de jogar com interesses opostos e rivais [...] pode ser identificada ao longo de todo o sistema das relações humanas, tanto públicas como privadas”.

166 - Medidas: a concessão e mesmo o estímulo governamental em termos de crédito, que poderia ocorrer, às emissoras de rádio e televisão livres (comunitárias), que, no Brasil, foram abarcadas por grupos evangélicos em larga medida descompromissados com os valores democráticos; o rigoroso impedimento da concentração acionária dos veículos de comunicação e a proibição de que um mesmo proprietário possua diversas modalidades de meios de comunicação, como existem em determinados países europeus, entre inúmeras outras medidas.

167 - O quarto poder hoje é quase um primeiro poder, afirma. O texto é de 2002.

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