Anton Pannekoek - As Tarefas dos Conselhos Operários (Livro) IV
(continuação...)
50 - Capítulo
7: A Organização dos Conselhos. Tragicômico: O sistema social aqui tratado poderia ser designado por comunismo não
fosse o caso de esta palavra ser utilizada na propaganda mundial do «Partido
comunista» para denominar o seu sistema de socialismo de Estado, sob uma
ditadura do partido.
51 - Os
conselhos operários constituem a forma de auto-governação que substituirá, no
futuro, as formas de governo do velho mundo.
52 - Não para sempre, pois nenhuma forma
é eterna: Os conselhos operários constituem
a forma de organização desse período de transição durante o qual a classe
operária luta pelo poder, destrói o capitalismo e organiza a produção social.
53 - Parece com o parlamentar, mas não é.
Os conselhos operários ocupam-se do
trabalho e têm que regular a produção, ao passo que os parlamentos são corpos
políticos que discutem e decidem as leis e os assuntos do Estado. Parlamento
no capitalismo: O papel da política
consiste em criar as condições sociais e legais nas quais o trabalho produtivo possa
realizar-se regularmente. É auxiliar. (...)
De tempos a tempos, a intervalos
regulares, na altura das eleições legislativas, os cidadãos terão que voltar a
sua atenção para as regulamentações gerais. Somente em épocas de crise social,
de decisões importantes e de controvérsia severa, de guerra civil e de
revolução, é que a massa dos cidadãos terá que consagrar todo o seu tempo e
forças a estas regulamentações gerais. Uma vez resolvidas as questões
fundamentais, os cidadãos poderão regressar às suas ocupações específicas, e
abandonar uma vez mais essas tarefas gerais a um número reduzido de
especialistas, aos juristas e aos políticos, ao parlamento e ao governo.
54 - Nos conselhos, acaba a separação
entre economia e política e os especialistas.
55 - Conselhos como órgãos de discussão e
comunicação, havendo, porém, vinculação dos conselheiros às opiniões do grupo
de trabalho. Os conselhos não governam,
transmitem as opiniões, as intenções, a vontade dos grupos de trabalho. (...) A
prática parlamentar situa-se exatamente no oposto. Os delegados terão que tomar
decisões sem consultar os seus eleitores, sem estarem amarrados a um mandato. Diz
que os sindicatos aderiram a essa degenerescência. Não no início.
56 - A divisão de tarefas, base do
domínio citado acima, deixará de existir.
57 - Defende que a “política” (não é bem
política) seja exercida em grupos naturais: Nos
primeiros tempos do capitalismo, era possível a existência de uma certa
comunidade de interesses entre vizinhos duma mesma cidade ou duma mesma aldeia,
coisa que se foi tornando cada vez mais, à medida que o capitalismo se
desenvolvia, em ficção desprovida de sentido. Os artesãos, os comerciantes, os
capitalistas, os operários que habitam o mesmo bairro têm interesses diferentes
e opostos; votam em geral em partidos diferentes, e é uma maioria de acaso que
vem a sair vencedora. Se bem que a teoria parlamentar considere o eleito como o
representante duma circunscrição, é evidente que estes eleitores não constituem
um grupo que o delegou para representar os seus desejos.
58 - E quem não participa do trabalho não
participará das decisões. Diz que o próprio Marx dizia que a burguesia não
sumiria de imediato com a revolução. Designava
ele este estado de coisas por ditadura do proletariado. Na sua época, esta
palavra não possuía ainda a ressonância sinistra que Ihe conferiram os sistemas
modernos de despotismo, e era impossível usá-la abusivamente para significar a
ditadura de um partido no poder, como aconteceu mais tarde na Rússia. (...) A
concepção de Marx da ditadura do proletariado surge como idêntica a democracia
operária da organização dos conselhos. (Creio que os ortodoxos divergem
muito disso)
59 - Descentralização da força: Onde quer que o exercício do poder se venha
a impôr - contra perturbações ou ataques a ordem existente - emanará das
colectividades operárias nas próprias oficinas e permanecerá sob o seu
controle.
60 - O Estado ampliado não é bem um
Estado ampliado. No decurso de toda a era
civilizada e até aos nossos dias, os governos revelaram-se necessários como
instrumentos que permitem à classe dirigente conservar as massas exploradas sob
a sua alçada. Foram assumindo igualmente funções administrativas cada vez mais
importantes; mas o seu carácter principal, de forma orgânica do poder, era
determinado pela necessidade de manter um domínio de classe.
61 - O substituto do governo: O que impõe o cumprimento das decisões dos
conselhos é a autoridade moral destes. E numa sociedade deste tipo a autoridade
moral possui uma força bem mais rigorosa que as ordens ou a coacção dum
governo.
62 - No
campo da própria produção, cada empresa deverá não só organizar cuidadosamente
o seu sector de actividade, como terá também que criar ligações horizontais com
as empresas similares, verticais com as que Ihe fornecem as matérias-primas e
com as que utilizam os seus produtos.
63 - A auto-organização também valerá
para os serviços de saúde e os educacionais.
64 - Enfatiza a superioridade da forma
que propõe: Duma maneira geral, existe,
tanto no tocante as actividades culturais como a qualquer outra actividade não
produtiva ou produtiva, uma disparidade fundamental entre uma organização
imposta de cima por um corpo dirigente, e uma organização obtida na livre
colaboração de colegas e de camaradas.
65 - Capitulo
8: Crescimento. Como transformar tudo numa organização consciente e
destinada a eliminar a pobreza: Inúmeras dificuldades se porão; resistências
de toda a ordem terão que ser ultrapassadas, nascidas da hostilidade, da
incompreensão, da ignorância. Mas novas forças insuspeitadas acabarão por
surgir: as do entusiasmo, do devotamento, da clarividência. A hostilidade terá
de ser derrotada por meio duma acção resoluta. A incompreensão terá que ser
dissipada por uma persuasão paciente, a ignorância, ultrapassada por uma
propaganda e um trabalho de ensino constantes. Através de relações cada vez
mais estreitas entre as oficinas, por inclusão de sectores de produção cada vez
mais vastos, através de estimativas e de contas cada vez mais precisas na
planificação, o processo de produção irá sendo dia a dia melhor controlado.
66 - Aquilo
que afirmava William Morris acerca das profissões do passado, com as suas
ferramentas simples - que a beleza dos produtos provinha do facto do trabalho
ser uma alegria para o homem - esta a razão porque desapareceu com a fealdade
do capitalismo - voltará a verificar-se, mas tratar-se-á então dum maior grau
de controle das técnicas mais aperfeiçoadas.
67 - A
técnica transforma o homem em livre senhor da sua vida e do seu destino.
68 - A educação deve ter contato orgânico
com o trabalho: As crianças iam crescendo
e aprendendo os métodos de trabalho, participando gradualmente nesse trabalho.
Mais tarde, em regime capitalista, a família perdeu a sua base económica, uma
vez que o trabalho produtivo foi sendo progressivamente transferido para as
fábricas.
69 - Diz que, no capitalismo, a alta
ciência fica restrita aos filhos da burguesia. Alguns teóricos autores de manuais de pedagogia, ignorando as bases
capitalistas deste estado caduco que julgam duradouro, tentam em vão explicar e
aplanar os conflitos originados nesta separação entre o trabalho produtivo e a
educação, na contradição entre o isolamento familiar e o carácter social da
produção. Defende a democratização das ciências.
70 - A família perde importância para a
comunidade. O ser social supera o mito do homem atomizado e seu suposto
“espírito”.
71 - Além da união entre trabalho manual
e intelectual, acabará a separação “criança estuda e adulto trabalha”. Por outro, dado o incremento da
produtividade e a ausência de exploração, os adultos terão cada vez mais tempo
disponível para actividades intelectuais.
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