Maurício Tragtenberg - Textos Diversos V

 

Franz Kafka:

363 - Único texto que não lerei de todo meu planejamento, pois já vi que é spoiler. Deixa pra depois de Kafka.

 

Introdução ao Leitor Brasileiro:

364 - Universidade e Ditadura. A avaliação dos currículos dependia de parecer de Assessorias de Segurança e Informação que não constavam dos processos de contratação. Foi quando a delação se constituiu para muitos em estratégias de ascensão universitária.

365 - Trata-se de uma introdução a um texto de Weber sobre universidade.

366 - O texto de Weber é atual, pois, com a Nova República, Assembléia Nacional Constituinte e tudo o mais, a Unicamp teve seu campus invadido por tropas militares à procura de um professor para detê-lo. Nem nos piores tempos da ditadura militar o campus da Unicamp sofreu invasão.

367 - Weber denunciando os limites “internos” da universidade à livre-ciência no caso da perseguição a Michels: Weber pensou que isso se devia à incontida sinceridade com que Michels havia criticado a situação do fossilizado Partido Social Democrata, o que teria irritado o Partido. Mas não era nada disso. O fato de Michels proclamar publicamente suas convicções socialistas era menos importante do que sua atitude impedindo que seus filhos fossem batizados (p. 62).

368 - Narra um caso em que um delegado de polícia local, para exibir sua autoridade numa aposta de mesa de bar, mandou deter um professor respeitado por onze horas e depois soltar sem explicação. Fonte é um tal “livro negro da USP”. Cita os nomes. O texto cita vários exemplos, no seu decorrer, desse livro, que traz outras fontes, por sua vez.

369 - É didático o ocorrido na Faculdade de Filosofia de São José do Rio Preto, em 1964: “Da mesma forma em Rio Preto passaram-se fatos tristíssimos na Faculdade de Filosofia ali existente, porque houve a denúncia de que na biblioteca da Faculdade havia obras de Karl Marx. Professores comunistas foram recolhidos à cadeia, escolhidos ao que parece por sorteio, pois quatro deles foram detidos e dois mais precavidos tiveram que desaparecer” (O livro negro da USP, p. 14). Professores foram cassados, suas cadeiras “loteadas” na Câmara Municipal da cidade, o inquérito a respeito jaz arquivado por insuficiência de provas!

370 - Florestan se defendendo de um tenente-coronel: Não somos um bando de malfeitores. Nem a ética universitária nos permitiria converter o ensino em fonte de pregação político-partidária.

371 - Weber se manifesta em seu texto no sentido de que todo ponto polêmico deve ser objeto de discussão universitária, mesmo visões extremadas, que talvez sejam mais necessárias ainda. Cita o exemplo hipotético do professor de direito que é anarquista. Se é um grande conhecedor de Direito, pode e deve ser admitido.

372 - Weber referia-se ao anti-semitismo na universidade alemã de sua época citando o caso de Georg Simmel, que jamais fora indicado para uma cátedra em Berlim, apesar de ser um sociólogo reconhecido. O mesmo ocorreu com Robert Michels, nascido em Colônia e filho de uma família germano-franco-belga. Judeu e socialista, só conseguira ser admitido como livre docente na Universidade de Turim sob o patrocínio do economista marxista Achille Loria.


(...)


Maurício Tragtenberg e a Guerra no Oriente Médio:

387 - Tragtenberg foi um dos signatários do Manifesto contra a violência no Líbano, assinado por vários intelectuais brasileiros de origem judaica. Isto lhe valeu uma polêmica com o Embaixador de Israel no Brasil. (...) Tragtenberg considerou "melancólico que um povo que conheceu o genocídio, os campos de concentração, seja utilizado como arma pela minoria governante em Israel, que serve a interesses espúrios".

388 - O ponto é que tantos judeus quanto palestinos teriam direito à segurança.

 

Maurício Tragtenberg e a Pedagogia Libertária - Anotações Sobre a Experiência do Fazer a Tese:

389 - Mais um texto de Antonio Ozaí inspirado em MT.

390 - Se encararmos a tese apenas como uma obrigação burocrática, exigência de titulação e de promoção na carreira acadêmica, então, estamos definitivamente perdidos. Se fazer a tese nos perturba tão dolorosamente e só nos causa efeitos colaterais prejudiciais à nossa saúde, as seqüelas serão terríveis. Ora, se fazer a tese é um sacrifício que está além das nossas forças, por que insistir? Será que um título acadêmico é mais importante do que a família e a nossa vida? Se insistimos, abandonemos de vez flagelação. O trabalho intelectual não necessita ser mortificante e dará melhores resultados se realizado com prazer e paixão.

391 - Apoiou e fez resenha do livro do autor do texto, o qual não tinha, na época, qualquer trajetória acadêmica. Tragtenberg confiou e acreditou em mim nos momentos em que até caçoavam por me aventurar a escrever um livro. Ele valorizou o meu trabalho, me estimulou a estudar e, quando fiz o mestrado, se dispôs a ser o meu orientador; sempre esteve presente e solidário nos momentos que mais necessitei.

 

Memorial:

392 - Compunham a biblioteca dos colonos obras de Bakunin, Kropotkine, Malatesta, historiadores do anarquismo como James Guillaume, Rudolf Rocker, além de obras de Emma Goldman, Nestor Makno, recebidos do Canadá e Argentina. Segundo meus pais, toda essa problemática era discutida pelos meus avós, com a audiência respeitosa destes.

393 - Contribuía para a mesma tendência um sapateiro espanhol, meu vizinho, que entre um prego e outro na sola do sapato discorria sobre reforma agrária, o que fora a guerra civil espanhola e a importância do PCB.

394 - Foi levar ao PCB as dúvidas sobre as quais ouviu falar com outros socialistas. Kronstadt, críticas de Rosa e tal. Fui chamado à ordem pela "direção" e impedido de ler Marx ou Lênin; literalmente fora obrigado a limitar-me à leitura do jornal Hoje e Imprensa Popular para ficar a par do noticiário nacional e internacional, segundo a voz dos "dirigentes.

395 - Consegui o "milagre" de alunos do ciclo ginasial lerem Anísio Teixeira, para discutirem problemas pedagógicos com seus professores.

396 - Até quando “surta” o maluco consegue tirar proveito positivo: Porém, isso me fora útil, pois, se eu fora demitido dos cargos docentes, através do AI de 1964, a 09.10.64, pude observar e analisar o poder médico num hospital psiquiátrico tradicional e a burocratização da prática médica. Isso ampliou minha visão de poder e burocracia nas instituições, que se iniciara quando escriturário no Departamento das Águas.

397 - Mais do que isso, solicitei livros à minha mulher, pude lê-los com aquiescência médica e durante esses 90 dias estruturei as linhas gerais da minha tese de doutorado, que defenderia na área de Política da USP, Burocracia e Ideologia.

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