Maurício Tragtenberg - Textos Diversos XI - Rosa Luxemburgo e a Crítica aos Fenômenos Burocráticos (e outro) II
(continuação...)
471 - Isso foi a social-democracia de 1918; foi a revolução austríaca de 1934, enterrada pelos austro-marxistas; foi a revolução chinesa dos anos vinte, quando o partido se dissolve no Kuomintang, e Chiang Kai-shek organiza uma das maiores repressões da história moderna contra esse mesmo partido; as frentes populares de 1934, que eram mais frentes e pouco populares; as frentes populares da guerra civil da Espanha, em que o trabalhador se viu como uma espécie de massa de manobra da burguesia liberal, e isso não evitou o fascismo e tampouco a Segunda Guerra Mundial.
472 - Leninismo: Essa é uma linha de pensamento respeitável, mas é possível ser marxista sem ser leninista. Como a própria Rosa o foi. Isso quer dizer que o próprio movimento de auto-organização pode começar espontâneo, mas, no processo da luta, a classe se organiza: greves que começam com reivindicações econômicas passam a questionar a divisão de trabalho, passam a questionar a hierarquia na fábrica, greves contra a cronometragem, contra o ritmo de trabalho, não só por reivindicações econômicas. Nesse processo, a organização das categorias operárias é em forma de associação, uma forma de organização horizontal que supera a divisão dirigentes-dirigidos.
473 - Em 1968, quando os estudantes invadiram a universidade, quebraram a hierarquia acadêmica aqui dentro. Eu me lembro, estava em São Paulo, e dei curso na universidade ocupada pelos estudantes; foi um dos melhores cursos que dei na minha vida. E o que ocorreu? Veio o Ato Institucional nº 5. Porque o status quo não admita quebra de hierarquia na Universidade, porque isso significava um ponto de partida perigoso para a quebra de toda a estrutura social de dominação.
474 - Rosa Luxemburgo: Então ela acompanha a revolução russa e escreve um livro clássico, A Revolução Russa. Nele situa os grandes dilemas da revolução. E mais do que isso. Embora festeje o surgimento da revolução e o apoio que deve ser dado a um processo revolucionário, ela enuncia um cuidado que se deve ter entre um apoio e um processo revolucionário e uma visão acrítica, beata, de sacristia, desse processo revolucionário.
475 - É uma coisa que me remói a alma há muito tempo: toda vez que se reprimem os radicais num processo revolucionário, abre-se caminho para a restauração conservadora. Na Revolução Francesa, Robespierre reprimiu os enragés, que representavam as camadas mais populares, artesanais, e queriam levar adiante a revolução. Ao fazer isso, Robespierre cria as condições para cair na guilhotina, para o Termidor. Será guilhotinado e haverá uma restauração termidoriana no processo da revolução. Eu me pergunto sobre o processo da revolução russa. Felizmente ela ainda é uma grande desconhecida. Mesmo Trotsky, na sua História da Revolução Russa, muito erudita e interessante, omite dois episódios centrais: a revolução camponesa na Ucrânia, que coletivizou as terras diretamente, com Makhno; e as reivindicações dos marinheiros de Kronstadt contra a ditadura de partido único e por sovietes independentes do Estado e do partido.
476 - Kronstadt desejava o quê? Desejava sovietes independentes do partido e do Estado, no sentido original da idéia de soviet: uma autoridade suprema que não se subordina a ninguém.
477 - Explica que aí começaram as calúnias contra os radicais de esquerda, e não contra Trotsky, como alguns acham: Na época, Makno fora acusado de anti-semita, perseguidor de judeus; os marinheiros de Kronstadt, de agentes do capitalismo ocidental. Mentira. Basta conhecer os Izvestia de Kronstadt, jornais publicados no Ocidente, para constatar que as reivindicações eram pró-socialismo – com liberdade política – e contra a ditadura do partido único e seu fetichismo.
Universidade e Hegemonia:
478 - Achei esse pequeno texto meio que um resumo de alguns anteriores aqui. Li, mas não vi itens essenciais a serem fichados.
FIM
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