Econ - Eleutério Prado - Marx e a Experiência Socialista
Eleutério Prado - Marx e a Experiência Socialista:
266 - “Já na sociedade futura, as necessidades de consumo são determinadas ex-ante em relação à produção; passa-se assim de um sistema baseado na “produção pela produção” para um sistema fundado na “produção para o consumo”.
267 - O tal problema do cálculo econômico: “Mas não seria possível obter os preços matematicamente, a partir dos dados do problema, ou seja, a partir do conhecimento das preferências dos consumidores, das técnicas de produção existentes e dos volumes de recursos primários, trabalho e terra, disponíveis?“
268 - Hayek respondia que, para isso, o sistema de equações seria utopicamente imenso e, pior, sempre em mutação (em tempo real). Oskar Lange aceitou os termos do debate proposto pelos liberais, argumentado que seria possível construir uma réplica algorítmica e centralizada do mercado. Propôs um processo de tatônement, supostamente semelhante ao do mercado. (tateando) … dado um conjunto inicial de preços, estes iriam sendo reajustados para cima ou para baixo conforme fosse observado excesso de demanda ou excesso de oferta nos pontos de distribuição do sistema
269 - Hayek colocou, então, que o socialismo não tinha como reproduzir isto aqui: “O funcionamento do sistema econômico depende da iniciativa, da criatividade e da liberdade desses agentes no emprego dos conhecimentos dispersos e da capacidade deles em descobrir oportunidades locais e em perseguir fins particulares de modo eficiente, com eficácia.”
270 - Eleutério critica falhas da URSS e na sua tentativa de adoção do “taylorismo”: Este tipo de empresa foi reproduzido na União Soviética sob o comando, agora, não de uma gerência profissional pró-mercado, mas dos quadros gerenciais e da burocracia do Partido Comunista da União Soviética.
271 - Coloca que a terceira revolução industrial muda a lógica de acumulação e a URSS não soube se adaptar a isso: passou a se sustentar na apropriação de conhecimentos científicos e tecnológicos que são empregados durante o tempo de trabalho. Não se tratava mais de simplesmente administrar o tempo de trabalho de forma sempre mais eficaz. Faltaria, ao que entendi, capacidade de inovação. Estaria represada.
272 - Marx nos Grundrisse (1857-1858), muito antes da empolgação de Lênin com o taylorismo, já anunciava os passos seguintes da evolução produtiva: “Mas à medida que a grande indústria se desenvolve, a criação de riqueza efetiva torna-se menos dependente do tempo de trabalho e do quantum de trabalho utilizado, do que da força dos agentes que são postos em movimento durante o tempo de trabalho (...) A poderosa efetividade [desses agentes] por sua vez não tem mais nenhuma relação com o tempo de trabalho imediato que custa a sua produção, mas [a criação da riqueza efetiva] depende antes da situação geral da ciência, do progresso da tecnologia, ou da utilização da ciência na produção”.
273 -Eleutério traz as consequências disso: O seu funcionamento requer, como pode notado nas modernas empresas capitalistas, alto grau de cooperação e de envolvimento emocional e intelectual dos trabalhadores. (...) a subsunção dita material (o trabalhador é apêndice da máquina) é substituída pela subsunção intelectual (o trabalhador se torna um servidor inteligente do sistema de produção inteligente). A coerção, então, tem de parecer não coercitiva; a cooperação determinada pelo comando do capital tem de afigurar como voluntária.
274 - Numa leitura não liberal dessas críticas, pode-se dizer que elas mostraram como as relações de produção coercitivas inerentes a essa espécie de socialismo acabaram sufocando o desenvolvimento das forças produtivas à medida que estas últimas foram se tornando cada vez mais sociais.
275 - Acreditamos, ademais, que o desenvolvimento das forças produtivas possa ser sempre associado seja a um aumento do número de unidade de decisão que interagem entre si seja a um aumento da variedade dessas interações.
276 - O novo socialismo seria um planejamento descentralizado - participativo de baixo pra cima - fundado na propriedade da auto-organização. Propriedade social (e não estatal) dos meios de produção. Direção? Conselhos democráticos formados, respectivamente, por trabalhadores e por consumidores. Haverá cooperação e competição e “quota de participação no produto social”. Porém, não haverá mercado e salário. Trabalhadores com funções múltiplas e diversificadas.
277 - Não detalha muito a compatibilização de tudo. A remuneração dependerá do esforço e do sacrifício, seguirá normas estabelecidas democraticamente, mas não deixará de ser questionada por um sistema homeostático que resolve o problema da informação. O que visa esse processo de informação? Obtenção descentralizada da eficiência e da eficácia.
278 - O que entra “no lugar” do mercado? A produção em um socialismo realmente socialista, entretanto, como dissemos, terá de ser orientada pela demanda de consumo. É a demanda final que irá determinar o que, quanto, como e quando produzir.
279 - Vi no google que há até teorias “socialistas” de transição por aí: “Srnicek e Williams argumentam que é necessário aumentar os custos da mão-de-obra para incentivar o investimento em tecnologias que economizem mão-de-obra, prevendo um ciclo de feedback positivo entre uma oferta mais restrita de mão-de-obra e o avanço tecnológico.”
https://pt.qaz.wiki/wiki/Inventing_the_Future:_Postcapitalism_and_a_World_Without_Work
280 - Voltando a Eleutério: Nesse sistema, há também orientações gerais, mas estas nunca poderão determinar o que vai ser consumido.
281 - Afirma que Marx tinha em mente um planejamento mais centralizado e menos anárquico do que ele, Eleutério, propõe.
282 - (Não são pensamentos novos para mim, mas sempre gosto de ler. Passei metade do tempo de leitura refletindo rs)
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