Econ - Debate de Economistas Brasileiros Sobre Fim do Socialismo (1990) III
(continuação...)
139 - Ozéas Duarte: Nessa concepção de sociedade, só se pode pensar o mercado tal como Lênin o concebeu, como recuo, mercado como sinônimo de capitalismo e como um recuo necessário numa situação histórica determinada. (Ao que parece, ele está defendendo o mesmo agora).
140 - Maria Hermínia: Eu obviamente penso que nós temos que abandonar a aposta na revolução. (...) Quando eu e a Lenina estivemos na União Soviética, os reformistas mais ardorosos, os reformistas mais empenhados diziam que queriam social-democracia.
141 - Vilmar Faria também é explícito: Resumindo: seja por razões de natureza pragmática, seja por razões de natureza mais teórica, a minha conclusão pessoal é que o socialismo científico acabou. E a meu ver o ataque ao socialismo real não pode ser uma defesa acrítica do socialismo teórico, porque às vezes tenho a impressão de que é isso o que fazemos. Diante disso, quais as alternativas que se abrem, no meu modo de entender? A primeira alternativa é reintroduzir a idéia ou de socialismo utópico, nas suas múltiplas variantes, ou algo ainda mais geral que isso, que é a idéia da boa sociedade, ou seja, deixando um pouco de lado a expressão "socialismo", e provavelmente, pelo menos em termos de desiderato, é difícil que nós discordemos a respeito de sermos a favor da boa sociedade.
142 - Luiz Felipe de Alencastro: Marx pensava — quando ele estava vendo a luta de classes na França, quando escreveu o Dezoito Brumário — que aquela transparência das classes, do enfrentamento entre as classes que estava ocorrendo na França, seria o quadro dominante dali por diante na democracia parlamentar, na república etc. Ele subestimou a capacidade do próprio regime republicano de criar uma ideologia que embaralhasse de novo a noção de classe, e esse é um dado fundamental na historiografia. (...) Também em relação à questão do definhamento do Estado é interessante retomar a polêmica — a polêmica que não houve, mas que estava subjacente — de Marx com Tocqueville, e aí Tocqueville realmente tinha razão, o Estado estava aumentando, estava se fortalecendo, ao invés de definhar, como Marx previu. (...) E ainda: A essa questão liga-se um outro paradoxo histórico, as grandes revoluções socialistas camponesas. E são um paradoxo porque não há nada mais aberrante para Marx do que a idéia do camponês revolucionário. (...) Esses paradoxos devem ser contrastados com outros dois, num outro oposto, até já meio rebarbativos: o fato de a revolução não ter se dado na Alemanha e o fato de não existir movimento socialista organizado nos Estados Unidos, esse é o grande paradoxo também, curioso.
143 - Se derrete em elogios a Miterrand, o continuador da revolução francesa, por estender a previdência social a todos.
144 - Roberto Schwarz: Faz muito tempo que li A Ideologia Alemã, posso não lembrar bem, mas eu tenho a idéia de que as passagens sobre o pescador e o caçador, sobre o homem não-especializado, são escritas em tom semi-humorístico. Repetem um lugar-comum da reflexão alemã do período anterior, de oposição aos efeitos mutiladores da nova divisão do trabalho. Não penso que esse tipo de idéia se encontre em O Capital, e acho que é facilitar um pouco as coisas amarrar a utopia socialista a um escrito que é de juventude e nem se destinava à publicação.
145 - Paul Singer diz que foi o socialismo que obrigou ao capitalismo ser democrático. Afirma também que o socialismo do movimento operário nunca morre… Afirma que criou-se um Estado meio hostil ao capitalismo...
146 - Chico de Oliveira diz que continua socialista. Sobre a URSS diz que, a partir da leitura de Alec Nove, viu motivos para a ruína: Porque até mais ou menos os anos 60, quando eles são obrigados a mudar para uma produção de massa, a coisa vai. Foi nessa passagem que eles se deram mal. Entre outras razões porque a indústria armamentista suga enormes recursos e não tem condições de transferir tecnologia para a produção de bens de consumo. (O buraco é mais embaixo, mas ok, é um fator).
147 - Fábio relaciona socialismo com liberalismo e até cristianismo. Diz que o primeiro vai além, mas incorpora um “humanismo” dos outros.
148 - Tavares explica a Fabio o porquê de certas expressões darem calafrios: A palavra boa sociedade me dá arrepios, porque boa sociedade é o que a elite de poder ou de prestígio numa sociedade disseram que é a boa sociedade, foi essa que foi a inglesa. Os ingleses tinham todos uma idéia de boa sociedade, inclusive os socialistas fabianos, que, diga-se de passagem, jogaram sujo com os trabalhistas.
149 - Tavares afirma que a URSS talvez corra o perigo agora de perder os bens públicos, como sua impressionante escolaridade e a seguridade.
150 - Mais críticas de Tavares ao marxismo: Não é só no Japão, que tem 60%, isto é a tradição deles, mas nos Estados Unidos, onde não é, está todo mundo reivindicando uma volta à família. Porque se não vai haver adolescentes drogados, os avós vão parar na Califórnia e vão morrer doidos. A análise materialista da democracia, da família e da sociabilidade é um equívoco. A leviandade do Engels sobre a família é uma brincadeira, é uma grosseria. Claro, há coisas que não são.
151 - Diz que o conceito de Marx de totalidade se vai ao totalitarismo. Não vejo essa necessidade, mas enfim…
152 - Democracia para ela: Começou com os políticos, o de voto, avançou com os sociais e vai ter que avançar nos econômicos. Qual é a limitação à propriedade? Não sei, mas vai ter que haver uma limitação à propriedade.
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