Econ - Debate de Economistas Brasileiros Sobre Fim do Socialismo (1990) II

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131 - Coloca que a análise não deve almejar a autonomia do indivíduo no processo de trabalho e enfatiza a cooperação social e subordinação dela decorrente segundo ela: A subordinação técnica e hierárquica continua. Aqui como em qualquer sociedade complexa imaginável. A idéia de quem quiser caçar caça é um completo absurdo. Isso de dizer que não vamos abrir mão da autonomia dos indivíduos não leva a nada. (...) vocês não vão imaginar que a gente vá regressar a uma sociedade primitiva em que quem quiser caçar caça, quem quiser pescar pesca. A complexidade da divisão social do trabalho é crescente e será crescente. Daí vai defender inclusive um “mínimo de hierarquia”. Mais à frente: “Eu considero que não há nenhuma sociedade, a partir do desenvolvimento tecnológico, em que a autonomia no processo de trabalho seja viável. Vou dar um exemplo. No Japão, as multinacionais e as grandes corporações organizam o processo de trabalho justamente sem autoritarismo. (...) no processo de trabalho daquelas empresas, a coordenação é feita pelos pares (...) Paradoxalmente, essas empresas representam apenas 40% da população. A outra parte da população está ligada a empresas familiares, onde as relações são de lealdade, de autoritarismo e de submissão. ”.

132 - Enfim, em que pesem minhas discordâncias do dito acima, este trecho é interessante: No processo de trabalho eles descobriram que era mais eficiente fazerem isso. Diga-se de passagem, eles descobriram isso porque, em 50, o Partido Comunista japonês fez uma greve monumental em que a Toyota e a Nissan aceitaram a estabilidade no emprego. Pois bem, a estabilidade no emprego — olha aí o materialismo histórico — forçou a grande empresa japonesa, que é grande empresa mesmo, concentrada, autoritária, centralizada nas decisões, a descentralizar o processo de produção e a permitir que o seu processo de trabalho mudasse de natureza. Porque ou era isso ou era o fim deles — as coisas ficariam burocratizadas, estúpidas e não criativas, como ficaram burocratizadas, estúpidas e não criativas na União Soviética

133 - Tavares chamou o raciocínio de Fábio, mais acima, de reificação do mercado rs.

134 - Flávio Pierucci critica os resultados do “socialismo real” não só pela falta de sofisticação mínima do consumo. O grau de deterioração das cidades da ex-República Democrática Alemã (RDA) é impressionante. Elas são verdadeiras ruínas. E é uma sociedade profundamente pobre. A RDA é um país profundamente poluído e as pessoas são profundamente acomodadas.

135 - Tavares critica o marxismo como bastante limitado: O Marx estava examinando uma sociedade capitalista pura e liberal, onde estava claro que a classe dominante apoiada na propriedade tinha um poder importante. Mas ele não tratou dos outros poderes: das burocracias, dos exércitos, das igrejas. Desqualificou. E não tratou deste outro poder, que vai ver eu tenho, que é o poder psicológico, o carisma etc.

136 - Marco Aurélio Garcia diz que a análise de Pierucci não traz novidades. E a invocação do relatório de 56 não é a melhor de todas, porque o relatório de 56 só tem importância porque foi feito pelo Krushev. O que ele disse é 1% do que o Victor Serge dissera alguns vinte anos antes e do que os trotskistas vinham dizendo desde os anos 30. Não há nenhuma novidade. O importante é que efetivamente, hoje, se articulam fatores políticos e teóricos como nunca se haviam articulado até agora.

137 - Afirma que o SPD imaginava que o proletariado se tornaria a maioria da sociedade e consequentemente o seu partido chegaria ao poder.

138 - Acusa a URSS de pegar o pior do taylorismo. Os poucos estudos que existem sobre o taylorismo stalinista, particularmente durante os anos 30, estabelecem uma singular sincronia entre stakhanovismo e repressão política.

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