João Bernardo - Sobre a Esquerda e as Esquerdas (PP) - Parte III

(continuação...)

665 - JB também não vê o fim da escassez na sociedade comunista. Pelo contrário, novas necessidades são sempre produzidas historicamente. A procura, portanto, não é fixa. A produtividade não ficará paralisada.

666 - Derrubar o capitalismo dá trabalho: “Se organizar uma greve implica um esforço maior do que limitar-se a obedecer às ordens da administração, derrubar o capitalismo implica ainda maior esforço. Podemos imaginar o esforço que representará participar na organização de uma sociedade sem classes, em que todos sejam não só trabalhadores mas gestores do trabalho colectivo”.

667 - Um comentador defende que uma coisa é mercado e a outra é um sistema descentralizado de busca e oferta. Não compreendi muito bem.

668 - JB abre um parêntese sobre família, relações amorosas, etc., devido a um comentário alheio: a determinação das relações amorosas pelas unidades conjugais não é antiga, nasceu na transição do século XVIII para o século XIX, com o aparecimento da chamada família burguesa. Antes disso, na aristocracia do ancien régime, reinava uma libertinagem semelhante à que você evocou. Basta ler Casanova e Choderlos de Laclos. E na Idade Média as coisas eram mais divertidas ainda, a crer no Amadis de Gaula. Mesmo no século XIX o quadro conjugal não prevalecia entre os proletariado e as classes populares, por isso Balzac, para quem todo o drama provinha da inclusão de um terceiro elemento no matrimónio, afirmou que era impossível construir um romance com pessoas desse meio social, que se juntavam e separavam à vontade.

669 - JB narra um a greve na portugal salazarista em que os trabalhadores ofereceram transporte gratuito sob todas as ilegalidades possíveis desta ação. Houve tortura e prisões, mas o próprio governo pressionou a empresa a conceder o aumento.

670 - Eduardo Tomazine crê que a tática da esquerda quase sempre é equivocada. “Será que algum rodoviário, ou (o que é ainda mais grave), algum militante do Passe Livre vislumbra, ou tem a coragem de sustentar a transformação dos serviços de transportes públicos em cooperativas autogeridas de trabalhadores reguladas por conselhos de cidadãos?”.

671 - Manolo faz duas observações interessantes ao comentário de Tomazine, o qual inclusive defendeu a necessidade de qualquer pessoa fazer parte de algum grupo autogestionário.

672 - … O primeiro comentário diz respeito a ter descoberto que os primeiros exemplos de organização autônoma dos escravos tinham pautas, aos olhos de hoje, recuadíssimas, como escolha de feitores menos cruéis e trabalhos mais pesados para os escravos recém-chegados. Sem contar o fato de quilombos de grande porte terem escravos. Disso concluiu: “Pode-se falar o quanto se quiser, pode-se pautar a autogestão junto às categorias, pode-se fazer o diabo, mas a construção das condições sociais para a mudança é um trabalho muito mais lento e perseverante que a escrita, acadêmica ou propagandística, da autogestão. E passa, também e exatamente, por estas greves, radicais ou não, onde se tenta conquistar não apenas ganhos reais, como também ganhos reais que sejam reconhecidos como tal pela categoria inteira, e não apenas pela burocracia sindical e sua assessoria de economistas, advogados e contadores.”

673 - .... O segundo comentário é consequencia do primeiro: “é nos paradoxos da vida prática, e no seu questionamento prático a partir de lutas que podem ser recuadas na pauta, mas radicais nos meios, que se encontram, a meu ver, as chaves da construção da autonomia, pensada não enquanto deleite grupuscular ou gestão empresarial disfarçada, mas enquanto projeto de sociedade construído nas contradições da prática.”

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