João Bernardo - O Mito da Natureza (PP), a Réplica, a Tréplica e a Quadréplica - Parte II

 (continuação...)

515 - O terceiro artigo trata da agricultura familiar no nazismo.

516 - A ascensão eleitoral dos nazis não se deveu à ala racista de Hitler mas à ala populista de Gregor Strasser, predominante no grupo parlamentar, que formulava as propostas de política económica. Isto significa que os votos de um número crescente de alemães foram mais atraídos pelo populismo do que pelo racismo. Até o anti-semitismo comum na extrema-direita germânica foi revisto e atenuado pela ala populista do nacional-socialismo. Gregor Strasser não revelou nenhum tipo de racismo que o distinguisse da generalidade dos membros das classes dominantes europeias daquela época. Em 1934 essa galera foi morta ou posta pra correr.

517 - O que eram as SS - que ao final da guerra já chegavam aos 900.000 membros? Criados primeiro como uma milícia pessoal de Hitler, os SS resumiam-se a 100 ou 200 homens em 1926 e a pouco menos de 300 em 1929, mas eram já 2.000 em 1930, 10.000 em 1931 e ultrapassavam os 50.000 por ocasião da tomada do poder, em Janeiro de 1933. Esta milícia foi convertida no principal instrumento de selecção biológica do nacional-socialismo. Recrutando os membros consoante critérios raciais e condicionando-lhes os casamentos também segundo critérios raciais, os SS pretenderam constituir uma elite biológica no interior de uma raça nórdica mais ampla, que desse lugar a uma verdadeira raça de senhores.

518 - Walter Darré era o “Fuhrer dos camponeses do Reich”, digamos. Amigo íntimo de Rosenberg, doutrinador oficial do nazismo. Defendam, junto a Himmler, o caráter sagrado do solo germânico. O camponês era o sustentáculo da raça. isso até 1942, quando Himmler rachou com Darré. Os camponeses passaram a ser secundarizados enquanto base de recrutamento da nova elite racial, agora mais urbana. A defesa da agricultura familiar, porém, continuou.

519 - Na prática não houve uma generalização do modelo e mesmo o desmembramento de grandes propriedades ocorreu em pequena escala, entretanto… “O regime nacional-socialista sustentou uma classe de pequenos agricultores com custos tão pesados que entre 1934 e 1939, enquanto os orçamentos ministeriais aumentaram em média cerca de 170%, o Ministério da Agricultura viu o seu orçamento crescer cerca de 620%, ultrapassado apenas pelos ministérios dedicados à preparação militar e à repressão.“

520 - Era uma grande encenação a “ideologia do camponês”, sempre presente nos quadros nazistas sobre trabalho (e nunca a indústria). Porém, a ecologia realmente influenciou as obras do governo nazista, que se esforçava pela preservação da natureza. «Na Alemanha, o objectivo final da construção de auto-estradas não é o mero serviço de transporte», proclamou ele. «A auto-estrada alemã deve exprimir a paisagem que a rodeia e exprimir a essência alemã».

521 - Os nazistas criaram as primeiras reservas naturais da Europa, segundo JB, por exemplo. Além das diversas leis ambientais.

522 - «O artificial está por todo o lado», queixou-se Heinrich Himmler, Reichsführer SS; «por todo o lado os alimentos são adulterados com ingredientes que supostamente os fazem durar mais tempo ou ter melhor apresentação ou que os fazem passar por “enriquecidos” ou por qualquer outra coisa em que a publicidade da indústria queira que acreditemos […] estamos nas mãos da indústria alimentar, cujo poderio económico e cuja publicidade lhes permitem ditar o que podemos e não podemos comer». E este indómito defensor dos alimentos orgânicos anunciou um futuro brilhante para quando o Terceiro Reich triunfasse na guerra. «Depois da guerra tomaremos medidas enérgicas para evitar a ruína do nosso povo pelas indústrias alimentares».

523 - Os judeus eram povos sem raízes, pois não tinham solos. Diziam os nazistas.

524 - Himmler: “«É-me completamente indiferente o que possa suceder a um russo ou um checo. […] É evidente que nunca devemos ser brutais ou cruéis sem necessidade. Nós, os alemães, que somos o único povo no mundo a ter uma atitude decente para com os animais, também assumiremos uma atitude decente para com estes animais humanos. Mas é um crime contra o nosso próprio sangue preocuparmo-nos com eles e darmos-lhes ideais […]».

525 - Um comentador critica o que seriam exageros do antieurocentrismo: “Por último, sobre a visão “anti-eurocêntrica” que gosta de disseminar que nossos males começaram com a chegada do colonizador europeu, pergunte aos Diaguitas (etnia do centro-norte do Chile, extinta pelo Império Incaico antes da chegada dos espanhóis) se a lança espanhola mata mais ou menos que a lança inca. Ah desculpe a gafe… graças aos bons selvagens Incas não existem diaguitas vivos para serem etnografados por antropólogos americanocêntricos”.

526 - O quarto texto do documento é uma resposta de um mix de autores a JB.  A resposta ataca, a meu ver, alguns pontos não defendidos (o de que o camponês não poderia ter papel revolucionário) e traz teses contrárias, mas sem os estudos que deveriam acompanhá-las. Ou ao menos eu os desconheço.

527 - Um comentador coloca algo interessante, que o problema não é levar uma vida rural, o problema é que esta se dê por falta de opção, num falso “eu nem queria mesmo”. A sociedade ideal é uma que algumas pessoas pratiquem uma agricultura familiar de subsistência porque queiram e não por não poderem fazer mais nada.

528 - “Não podemos pensar em qualquer transformação social se não levarmos em conta os outros muitos aspectos dos quais depende tal transformação. A mudança de relação entre as pessoas, entre nós e a terra, entre nós e os animais.”

Ainda bem que os escravos não seguiram a máxima da MIX e decidiram se revoltar contra a escravidão sem que tivesse mudado “a relação entre nós e a terra, entre nós e os animais”.

529 - Ainda comentadores: “E a coisa vai a um ponto tal que assassinar um cachorro gera mais comoção social do que as chacinas cometidas pela ROTA, a derrubada de uma árvore toca mais do que a remoção de 1.600 famílias e um xingamento feito Rafinha Bastos dá mais revolta do que saber dos milhões de mulheres sem creche.”

530 - E que negócio é este de “exemplo brasileiro” (como se aqui não existisse luta de classes, e nas formas que o capital impõe ao mundo inteiro)? E mais ainda de que a trajetória das lutas de classes no Brasil é “marcada pela negociação”? Onde? Em Canudos? No Quilombo de Palmares? Na onda grevista de 1917-19? Nas insurreições indígenas do século XVI? Na Cabanagem (talvez a maior guerra de guerrilhas da história brasileira)?

(continua....)

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