João Bernardo - Os Nacionalistas e as Transnacionais I a IV
Os Nacionalistas
e as Transnacionais I a IV
391 - Sobre a
crítica de que o IED sempre busca “salários baixos”, JB observa que “perde o fundamento ao verificarmos que desde
a segunda guerra mundial até à crise iniciada em 2008, entre 4/5 e 2/3 dos
fluxos de investimento externo directo emanados de países desenvolvidos se
dirigiram para outros países desenvolvidos”. Não sei se concordo com ele,
pois pode ser busca por salários mais baixos inclusive entre esses países, mas
o dado é importante e tem que ser considerado em qualquer análise, coisa que a
esquerda está longe de fazer.
392 - Outro dado importante a não ser ignorado: “os salários pagos pelas filiais das companhias
transnacionais são mais elevados do que a remuneração média nos países onde
essas filiais estão instaladas.”. Porém, o comentador Matheus faz uma
crítica importante a ele por não significar necessariamente que os mais baixos
salários sejam maiores que os mais baixos salários do país, afinal é uma média,
a qual pode ter sido muito puxada pra cima devido à remuneração dos executivos
enquanto as camadas mais baixas continuam ganhando o pouquinho de sempre.
393 - Filiais
brasileiras de companhias transnacionais e que recorrem a outras firmas
estrangeiras como fonte de informação para inovação tecnológica tendem a dispor
3% do faturamento para treinamento e capacitação de pessoal. Já a média da
indústria nacional é de apenas 0,52%. Também investem o dobro em aquisição de
conhecimento.
394 - Para JB, “As companhias transnacionais situam em
países ou regiões menos desenvolvidos as fases da cadeia produtiva para as
quais basta uma mão-de-obra sem qualificações especiais. Mas, em todos os
estudos de caso que conheço, verifica-se que essa mão-de-obra é mais bem
remunerada nas filiais das transnacionais do que nas empresas locais.”
395 - Matheus
observa, porém, que “não é incomum que as
poderosas empresas multinacionais se utilizem de terceirizações e contratos de trabalho
informais (sem carteira assinada), o que significa que apenas uma parte, e
geralmente a mais privilegiada, da força de trabalho explorada pelas empresas
multinacionais é contabilizada na sua folha de pagamento.”
396 - O segundo
artigo quer mostrar que a remessa de lucros não é tão grande quanto se pensa:
"Conclui-se da tabela 2 que durante
aquela década e meia a remessa de lucros correspondeu, em média, a 32,1% dos
fluxos de investimentos directos recebidos pelo Brasil, o que é uma taxa muito
aquém do que pretendem as críticas nacionalistas.".
397 - “Mesmo que admitíssemos sem reservas que as
filiais das companhias transnacionais enviassem a esmagadora maioria dos lucros
para as sedes, ficaria por demonstrar que empobrecem as economias onde estão instaladas.
Aquela crítica ignora o efeito de multiplicador exercido pelas filiais das
companhias transnacionais devido aos salários pagos, às encomendas feitas às
subcontratantes e às compras no mercado, e devido também à formação
disponibilizada à força de trabalho local, a qual pode aliás transitar para
outras empresas, ampliando as consequências da sua qualificação. De acordo com
uma informação do Banco Central do Brasil relativa a 2007, 70% dos
investimentos externos directos recebidos pelo Brasil destinavam-se a projectos
novos e não à ampliação de instalações já existentes nem a fusões e aquisições,
enquanto que a média mundial era apenas de 33%. Neste caso as repercussões dos
investimentos oriundos do exterior são especialmente acentuadas porque expandem
a capacidade de produção instalada.”
398 -
Multinacionais influenciando a produtividade local: «Como a maioria contava (em alguns casos, foram obrigadas a contar por
meio de políticas governamentais) com empresas fornecedoras locais para receber
muitos de seus insumos [inputs], transmitiam tecnologia para essas firmas.
Nesse processo, muitos fornecedores brasileiros tornaram-se organizacionalmente
mais eficientes e melhoraram a qualidade de sua produção por terem de se
adaptar aos padrões de seu cliente — a empresa multinacional»
399 - A
produtividade da microempresa brasileira chega a ser 10% menor que a da grande
empresa. Na França esse índice é de 71%!!! Argentina é 24%. Mesmo as médias brasileiras fazem feio - 40%.
Dados de 2010 da CEPAL. Em 2009, o BNDES dedicou 17% de seus desembolsos às
micro, pequenas e médias empresas.
400 - Ou seja, JB
conclui que não é a apenas o reinvestimento dos lucros que torna positiva
economicamente a entrada dessas companhias aqui, mas os efeitos indiretos.
401 - O terceiro
texto menciona que a JBS Friboi possui 64% de seus funcionários no exterior.
402 -
Internacionalização das empresas cortam empregos no país? Exportam empregos?
Para JB, os estudos mostram que não. Pelo contrário, o progresso faz com que cresçam.
A Fundação Dom Cabral colocou a questão
do modo devido ao afirmar que, entre 2007 e 2009, as companhias transnacionais
de origem brasileira aumentaram o número dos seus funcionários tanto no
estrangeiro como no Brasil, embora a taxa de crescimento dos primeiros tivesse
sido maior do que a dos últimos. E aquela Fundação acrescentou que «o mito de
que a internacionalização diminuiria a geração de empregos nacionais é falso»
403 - Quadro
interessante. A escolaridade das empresas transnacionais é de 9,83 em média. Já
a das brasileiras é de 7,10.
404 - Então só
sobra para os não-qualificados? Nem sempre. “A dispersão das cadeias produtivas e a subcontratação fazem com que
dadas fases da actividade de uma companhia transnacional necessitem
acessoriamente de mão-de-obra não qualificada. Os problemas surgem quando o
país de acolhimento dos investimentos directos não tem uma estrutura económica
capaz de desenvolver uma rede de subcontratantes, não podendo então ocorrer uma
verdadeira relação entre as filiais das transnacionais e a economia local, como
sucede por exemplo na maior parte dos países africanos, com excepção da África
do Sul e de alguns países do Maghreb.”
405 - A ideia
central é: ou as empresas brasileiras se transnacionalizam ou serão devoradas
por transnacionais. Enfim, é meramente entender o capitalismo.
406 - Deparo igualmente com a acusação de que a
transnacionalização prejudica a balança de pagamentos do país porque implica a
saída de divisas. Mas esta acusação esquece que regressam das filiais lucros e
dividendos em moeda estrangeira.
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