João Bernardo - O Mito da Natureza (PP), a Réplica, a Tréplica e a Quadréplica - Parte IV
(continuação...)
545 - JB critica a luta contra poluição e afins causados por empresas, pois de nada adiantaria. Elas compensariam custos ambientais com intensificação da exploração - que seja da mais valia relativa, para JB não importa - às custas do trabalhador, inclusive com acidentes de trabalho. Ou seja, protege-se o muro pra fora às custas do muro pra dentro. Ele é contra “direitos do consumidor” também. Toda luta de consumidor é simplesmente compensada com exploração do trabalho, afirma JB.
546 - Só vejo uma possibilidade de as lutas do movimento ecológico, lutas de consumidores, não implicarem efeitos negativos no processo de exploração. É que aquelas lutas exteriores às empresas sejam feitas em aliança com os trabalhadores das empresas.
547 - Um comentador pretende argumentar que hoje vive-se mais porém com mais doenças. “Se arrastando mais”, talvez. Desconheço dados sobre isso. Ele também não os apresenta.
548 - JB: Sem dúvida que existem produtos maus e que há práticas fraudulentas, mas as empresas concorrentes aproveitam-se disso, os seus lobbies fazem grande barulho e pagam à imprensa para denunciar os maus produtos, a opinião pública indigna-se, e os concorentes com melhores produtos apoderam-se de mais uma fatia do mercado.
549 - Para o capitalismo seria ótimo substituir a pressão sobre os capitalistas. Até pouco tempo era “concorrência” e a luta dos trabalhadores. Querem substituir a segunda pressão pela luta dos consumidores (e sua ecologia), pois esta ao menos não força laços de solidariedade entre classe potencialmente anticapitalista (a trabalhadora). Leva a aumentar a produtividade sem o grande risco da coisa descambar pra uma nova sociabilidade.
550 - Ivan Illich e Michel Bosquet já se assustavam com a possibilidade de um ecofascimo: «Não está excluído de maneira nenhuma que, assustadas com os perigos que as ameaçam, as pessoas coloquem o seu destino nas mãos de tecnocratas que se encarregariam de manter o crescimento justo aquém do limite de destruição da vida. Este fascismo tecnocrático asseguraria igualmente a subordinação total dos homens aos instrumentos, enquanto produtores e consumidores»
551 - Para JB, os fracassos das previsões do grupo de Roma provam que: “Passa-se hoje com a ecologia o que na primeira metade do século XX se passou com a eugenia e com o estudo das «raças» ou o que se passou na esfera soviética com com as teses de Lyssenko. A estrutura actual do conhecimento explica que, em todos estes casos, a falta de razão no meio científico seja compensada pela vitória propagandística nos meios de divulgação de massas.”
552 - JMS, comentador, afirma que as previsões sobre picos de produção de determinados minérios, descoberta de campos e mesmo cereais se confirmaram sim. JB só citou um livro em resposta, mas sem detalhar.
553 - um comentador levanta a seguinte tese: “...a agropecuária intensiva e voltada exclusivamente para o lucro não “peca” pelo desperdício? Segundo relatório da FAO (2013), 1/3 de todo alimento produzido no mundo é desperdiçado, e o dado mais importante: 54% do desperdício de comida no mundo ocorre na fase inicial da produção –na manipulação, após a colheita e na armazenagem (não se vê essa taxa de desperdício, por exemplo, na indústria de eletrônicos). É isso que me leva a concluir que a miséria, numa de suas formas, a fome, é estrutural.”
554 - Mais dados: “Ainda no mesmo relatório da FAO, quase 2 bilhões de seres humanos no mundo vivem com insuficiência de vitaminais e sais minerais essenciais para uma boa saúde e, por outro lado, quase um bilhão e meio de pessoas sofrem de obesidade.”
555 - JB responde que de fato o desperdício existe no capitalismo, mas a competição e pressão dos trabalhadores fazem com que as próprias empresas queiram evitá-lo. Assim, crê que o capitalismo vem a reduzir o desperdício dos modos de produção anteriores (e dá exemplos), porém, não conseguiu, pelo menos ainda, eliminá-lo. Assim, não seria algo tão estrutural ao sistema quanto se pensa.
556 - Em África, geralmente as grandes fomes são ocasionadas não pela falta de alimentos no país mas pela incapacidade das cadeias de distribuição de fazerem chegar os alimentos das regiões com excedentes às regiões com carência. Este é um exemplo extremo de desperdício, suscitado não pelo desenvolvimento do capitalismo mas pelo seu atraso. Não sei se concordo com isso. O capitalismo não pressupõe desenvolvimentos desiguais e mesmo divisão internacional do trabalho? Logo, não seria acidental esse não desenvolvimento da infraestrutura na África.
557 - Começo por considerar The State of Food Insecurity in the World. The multiple dimensions of food security. Logo no começo (pág. II), este relatório indica que o total de pessoas subalimentadas caiu 17% entre 1990-1992 e 2011-2013.
(continua...)
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