João Bernardo - Textos diversos - Parte XIII

 

A Comuna de Paris Para Além dos Mitos

381 - Marx e Engels simpatizavam com o papel “progressivo” da Prússia querendo a unificação alemã. Porém, quando a guerra liberou parte da energia do proletariado francês, as simpatias cairam pro lado da França. Porém, em carta a Kugelmann, deixava claro que os trabalhadores franceses deveriam aproveitar as liberdades republicanas para se organizarem em vez de pensarem em derrubar o governo (até porque o inimigo estava às portas). Quando eles tomaram o poder, aí sim, Marx se animou.

382 - Bakunin até admitia e queria insurreições, mas não em Paris, cidade que só poderia pensar a sua defesa e mais nada. Não era tempo de insurreição. Após tentar esta em Lyon, fugiu da França argumentando que a causa lá era perdida porque o povo tinha pelegado, se aburguesado. Gasto de tempo e dinheiro.

383 - Obstáculos às comunas. Napoleão III ordenou a modernização de Paris. “Haussmann mandou destruir os velhos bairros proletários, de ruas estreitas e tortuosas onde facilmente se erguiam barricadas e de cujos telhados se atacava com vantagem a polícia e as tropas a cavalo. (...) Além disso, as avenidas foram concebidas como espaço de passeio e mais ainda o foram os novos parques de grandes dimensões, lugares de lazer onde a elite se exibia perante os olhares pasmados ou cobiçosos da pequena burguesia e dos trabalhadores.”

384 - Isso impossibilitou uma revolução local (apenas de bairros proletários) e levou o proletariado a, pela primeira vez, tentar uma revolução “global”, tomando toda a cidade. Foi a resposta tática.

385 - Varlin era um dos idealizadores e organizadores da Comuna. “Não só as oficinas abandonadas pelos patrões seriam confiscadas pelos sindicatos e entregues aos seus trabalhadores, consoante estipulou o decreto de 16 de Abril de 1871, mas a documentação que hoje se conhece permite saber que, segundo os projectos da Comissão do Trabalho e das Trocas, a partir do começo de Maio estava igualmente prevista a expropriação completa das manufacturas pertencentes aos grandes capitalistas e a generalização da gestão operária, que em todos os casos assumiria a forma cooperativa.

 

Odebrecht e a Luta Social

386 - A “TEO” - Tecnologia Empresarial Odebrecht tem seu próprio fórum de conhecimentos interno. Ademais, instituiu-se prêmio para os melhores projetos. A colaboração nesses fóruns independe de posição hierárquica. Há um departamento que cuida de organizar essa comunidade do conhecimento. E no partido de esquerda? Há isso? Em vez disso, vivem de disciplina e cartilha, diz JB.

387 - JB acha que o caminho passa pela estimulação racional e não ao emotivo ou irracional. Tenho minhas dúvidas. Não haveria uma racionalidade em muitas “emotividades”. Parece-me que há “místicas” e místicas.

388 - JB crê que conversa em boteco pode ter mais mística que certos rituais da esquerda que apelam para o irracionalismo.

389 - Indicação de obra fundamental feita por JB: BOLTANSKI, L. e CHIAPELLO, E. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Ed. WMF Martins Fontes, 2009.

 

A Geopolítica das Companhias Transnacionais

390 - Já fichei. Tava no arquivo mais acima (duas acima).


Intelectuais Orgânicos (Com Manolo) (PP)

451 - E assim, ao mesmo tempo que os trabalhadores fazem recuar, dispersam ou aniquilam os capitalistas já existentes, eles têm repetidamente permitido que as burocracias geradas no movimento operário alimentem a classe dos gestores e inspirem novo fôlego ao capitalismo.

452 - Os autores vêem diferenças claras entre classes e elites. Por exemplo, a formação de uma elite no interior do movimento operário tende a projetá-la para a classe dominante.

453 - E quanto à inevitabilidade das vanguardas? Pessoas do povo, mas já com conhecimentos práticos úteis à organização popular. Os autores propõem o seguinte: “enquanto os leninistas concentram a atenção no aperfeiçoamento dos canais que permitem veicular as ordens das vanguardas, ou seja, no aperfeiçoamento das formas de enquadramento das massas sob a autoridade das vanguardas, é preciso preocupar-se acima de tudo com o reforço da capacidade de ação das massas, que lhes permita exercer o máximo de controle sobre as vanguardas e, tanto quanto possível, suplantá-las ao exercer diretamente o máximo de atividade.” Eleições; remoção a qualquer tempo; rotação de funções; prestação de contas, etc.

454 - O autoritarismo não nasce de uma corrupção do topo e sim da impossibilidade da base, por algum motivo, de tocar autonomamente a luta.

455 - Critica os cursos da esquerda universitária por mais gerarem novas elites, habilitando-as a um discurso acadêmico do que se preocuparem efetivamente com articulações de lutas contra a exploração que denunciam (e que não é novidade para o povo, afirma).

456 - Creio que o problema nem é esse - da esquerda querer trazer ao povo conhecimentos “novos” que não são novos/úteis. O problema é mais de achar que cursos e oficinas - momentos curtos na vida de uma pessoa - têm efeitos perenes e cotidianos. A intervenção política precisa ser cotidiana. Talvez preferencialmente no trabalho.

457 - Os autores não são contra a intervenção - que inclusive é necessária - dos especialistas ou mesmo intelectuais da universidade, apenas criticam uma determinada forma de atuação que resulta na burocratização das lutas, tanto negando o intelectual popular quanto promovendo elites operárias à dirigentes profissionais e futuros burocratas, inclusive do campo político.

458 - JB crê que um intelectual num movimento social deve agir como uma pessoa comum, e não só aparecer para dar palestras com sua auréola de intelectual. Além disso, a utilidade específica de um intelectual para os movimentos sociais reside na capacidade de divulgação que ele tem e nos contactos de que dispõe, que podem contribuir muito para quebrar o isolamento de uma luta, para lhe granjear apoios e para erguer obstáculos à repressão. Esta parece-me ser uma das ajudas mais efectivas que os intelectuais podem prestar aos movimentos.

.

Comentários