João Bernardo - Sobre a Esquerda e as Esquerdas (PP) - Parte I

 

Sobre a Esquerda e as Esquerdas (PP):

633 - Crê que a crítica da esquerda pela esquerda é tão urgente quanto a crítica da direita pela esquerda. isso porque as derrotas da esquerda foram causadas em grande parte pelo inimigo oculto/interno. Pelas contradições do próprio movimento.

634 - A esquerda governamental por não poder fazer nada de diferente da direita, além de paliativos, concentra-se nos costumes - agora, restringindo-os com uma nova moral e não mais como expansora da imoralidade. Acha, por exemplo, que o casamento gay é moldar uma possível subversividade ao tradicionalismo moral.

635 - A produção de bens imateriais desenvolve-se cada vez mais. Ora, apesar de o capitalismo ter sempre incluído serviços e de as relações de exploração se definirem em termos de tempo de trabalho e não de fabrico de objectos palpáveis, divulgou-se a noção de que a diminuição da percentagem dos trabalhadores encarregues de fabricos materiais corresponderia a um declínio da própria classe trabalhadora, o que implica que os produtores de bens imateriais sejam concebidos como exteriores à classe trabalhadora.

636 - Autogestão para JB: “O critério decisivo é a possibilidade de os trabalhadores determinarem o sistema de relações de trabalho e os rumos da produção, nomearem e demitirem os colegas encarregues da administração e os fiscalizarem de muito perto, em resumo, controlarem todo o processo, impedindo que a administração sirva de quadro à formação de uma classe social privilegiada e, portanto, exploradora.”

637 - Revolução de Abril; primeiros anos da Rússia revolucionário e Comuna de Paris teriam presenciado exemplos dessa autogestão. Porém… “em empresas particulares, mas nunca conseguiram estabelecer no mesmo plano de autonomia uma coordenação económica sistemática e durável entre as várias empresas autogeridas.”.

638 - JB: “Eu nunca afirmei que a categoria imperialismo perdera a razão de ser. Mas entendo o imperialismo como expansão do capital e não em termos obrigatoriamente nacionais.”

639 - Afirma, na segunda parte do manifesto que o pós modernismo defende a narrativa - e a disputa pelo discurso - como superior a prática e ação política na transformação da realidade. Esquisito.

640 - Reduz a realidade ao discurso sobre a realidade.

641 - Perón temia a apatia das massas. Disse aos patrões da Bolsa de Comércio, por volta de 1944, que a massa operária organizada é a que melhor pode ser dirigida.

642 - Os multiculturalistas esquecem, ou pretendem fazer esquecer, que as culturas e identidades étnicas foram, todas elas, originariamente exclusivistas e cada uma nasceu da assimilação e liquidação de outras anteriores.

643 - Critica a crítica da razão instrumental (Adorno e Horkheimer): “Do mesmo modo a escrita nasceu em sociedades hierarquizadas, cuja elite dispunha de uma acumulação de bens suficientemente volumosa para exigir registos duráveis. Foi para isso que surgiu a escrita, originariamente uma técnica destinada a consolidar a riqueza e o poder. A partir do momento em que foi criada, no entanto, a escrita pôde ampliar muito o escopo dos registos e converteu-se num instrumento lógico do pensamento, determinando o desenvolvimento de raciocínios sequenciais, com todas as consequências que daí advêm. Ninguém hoje dispensa a escrita, usada mesmo pelas pessoas contrárias à acumulação de poder e de fortunas e até por quem prefere os raciocínios cíclicos aos sequenciais.”

644 - Low-art do pós-modernismo: A fragmentação dos noticiários na televisão e nos jornais destinados ao consumo popular destrói qualquer possibilidade de uma narrativa integrada ou sequer provida de sequência temporal.

645 - JB reclamando da música atual: “E é pior ainda, porque quando ouço aqueles ritmos paupérrimos, repetitivos e enfadonhos que hoje passam por música de protesto e me lembro que Anton Webern compunha obras cuja primeira audição cabia a corais de operários socialistas, apercebo-me do estado de degradação a que se chegou.” Inimaginável mesmo.

646 - Fanon criticando as elites locais africanas: “Esse papel lucrativo, essa função de biscateiro, essa estreiteza de vistas, essa ausência de ambição simbolizam a incapacidade da burguesia nacional para desempenhar seu papel histórico de burguesia. O aspecto dinâmico e pioneiro, o aspecto inventivo e descobridor de mundos, que se nota em toda burguesia nacional está aqui lamentavelmente ausente.” Com essa mentalidade, caberia à burguesia africana, organizar as “parties” da burguesia ocidental. O turismo exótico. Cassinos. caçadas, etc.

647 - Leo Vinícius invoca o pragmatismo (Donald Davidsson)  para se defender do pós-modernismo. Nas suas próprias palavras: Não vemos o mundo através dos nossos olhos, ou da nossa linguagem, mas com os nossos olhos e a nossa linguagem. Cai-se num relativismo por isso? Não se o que se busca não é a verdade ou um real, mas o que é verdadeiro (em determinados contextos e circunstancias), e o que é verdadeiro a partir da utilidade para os objetivos e interesses que se tem. Tal qual os modelos nas ciencias naturais. Modelos não são representações da realidade, são instrumentos para lidar com o mundo a partir de propósitos que temos. A prática é o critério da verdade. Vejo uma cadeira na minha frente, a pessoa do meu lado diz que a cadeira não existe. Ela anda, bate com o joelho na cadeira e se machuca. Isso basta. Para o propósito de não se machucar a afirmação de que há uma cadeira é verdadeira.

648 - Um comentador deixa claro que a linguagem precisa interagir com o mundo objetivo existente independentemente dela (o que já mostra que nem tudo é linguagem). Do contrário, uma linguagem ensimesmada simplesmente se autodestruirá. Necessidades materiais e tal.

(continua...)

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