João Bernardo - Crise na Zona Euro (PP)
Crise na Zona
Euro (PP):
482 - JB
considera que a união monetária na zona do Euro impossibilita políticas
macroeconômicas autônomas: “Como os
instrumentos que um governo pode usar para gerir a economia do país são
monetários e fiscais, e como a política monetária e a determinação das taxas de
juros passaram a caber ao BCE, aos governos restou apenas o recurso à política
fiscal e orçamentária. Nestas circunstâncias os défices representaram uma fuga
à trindade impossível. Assim, a crise que agora assola a periferia meridional
da zona euro estava desde o início inscrita no sistema de funcionamento da
moeda única e o problema fora previsto desde há muito tanto no plano teórico
como no plano institucional.”
483 - Tanto é que
os países tinham que manter um déficit máximo de 3% ao ano e dívida pública em
60% do PIB.
484 - Tratado de
2012 que queria “tornar ilegal o protecionismo”, nas palavras de um deputado. “Tornou-se assim urgente retirar aos governos
nacionais o uso discricionário do instrumento fiscal, e na cimeira de Bruxelas,
no final de Janeiro de 2012, vinte e cinco dirigentes europeus aceitaram um
pacto em que os respectivos governos se comprometem a não incorrer em défices
estruturais e a incluir nas constituições normas de equilíbrio orçamental.”
485 - Recentemente, Roberto Perotti, da
Universidade Bocconi, mostrou que os casos de expansão económica ocorridos
durante períodos de austeridade se deveram praticamente todos a um aumento das
exportações associado a uma depreciação cambial, ou seja, a depreciação da
moeda estimulava as exportações. Ora, numa união monetária os países em
dificuldades não podem proceder isoladamente a depreciações, o que os deixa
numa situação similar à dos países em crise no começo da década de 1930,
sujeitos ao padrão-ouro e também sem poderem depreciar a moeda.
486 - O BCE, em
2010, passou a comprar títulos no mercado da dívida de Grécia e Portugal. A
ideia era baixar o custo do crédito para estes e dar liquidez às economias
(injeta-se dinheiro nela). Houve polêmica. “Um
economista do Deutsche Bank esclareceu nessa ocasião que a participação do BCE
no pacote de salvamento da Grécia ultrapassara dois limites que o Bundesbank
julgava que não seriam violados, o de que cada país assumisse a
responsabilidade pelas suas finanças públicas e o de que o BCE nunca fosse um
agente da política fiscal.”
487 - Uma
possível saída estudada seria a UE assumir as atuais dívidas superiores a 60%
do PIB dos países (parece que com a condição de tudo continuar assim).
Entretanto, nem todos os países mais ricos do Euro vão gostar da ideia. De
certa forma, é transferência de rendimento.
488 - No segundo
artigo, trata do monetarismo. Sua fórmula principal é: “Se considerarmos M como a quantidade de meios de pagamento, V como a
velocidade da sua circulação, P como o nível dos preços e Q como o Produto
Interno Bruto, PIB, então M x V = P x Q.” De Fisher. Logo, se V se mantem,
basta baixar M (emissão monetária) pra baixar P (a inflação).
489 - A tese de
JB é que a baixa da inflação, que eles realmente conseguem, se deve menos a
diminuição monetária que uma efetiva restrição no consumo real dos
trabalhadores.
490 - … Voltando
às palavras de JB: “Considero aqui
remuneração no sentido amplo, incluindo tanto o salário nominal como os
serviços públicos de carácter social. Reduzindo M e ao mesmo tempo
reduzindo a porção de Q destinada ao consumo dos trabalhadores, os
monetaristas, não enquanto corrente de pensamento académica mas enquanto
doutrina de acção política, conseguem reduzir P.”
491 - Se dá certo
e o PIB sobe, a inflação tem que cair. Por
outras palavras, a diminuição relativa da massa monetária posta à disposição
dos trabalhadores, numa situação de crescimento do PIB, acompanha uma
diminuição da taxa de aumento dos preços. Menos procura para mais oferta,
baixam os preços.
492 - Tornar
alguns serviços públicos pagos ou ao menos com menos subsídios é uma forma de
possibilitar que eles apenas sejam usados pelos trabalhadores mais
qualificados. Deixa-se de gastar com trabalhadores “pouco eficientes”.
493 - Disso
conclui, a meu ver com acerto, “A
política de austeridade (...) adequa-se à flexibilização da força de trabalho,
quando os trabalhadores muito qualificados de um dia podem ser deitados fora no
dia seguinte se as suas habilitações se tiverem tornado obsoletas; quando o
assalariamento regular abrange apenas aqueles trabalhadores com quem a empresa
procedeu a grandes despesas de formação técnica; quando se gera uma multidão de
trabalhadores precários, contratados a curto prazo, que laboram hoje numa
empresa e amanhã noutra ou em lugar nenhum, e cuja alta rotatividade os torna
impróprios para receber qualquer qualificação que ultrapasse o nível básico;
quando as fronteiras entre o emprego precário e o desemprego se diluíram.”
494 - Quanto a
“V”, JB percebeu uma coisa certa. Sua suposta rigidez tem mais a ver com as
pessoas comuns - o cartão de crédito aumenta a velocidade, mas, ainda assim,
não se compara com...: “Os substitutos
monetários aumentaram numa dimensão nunca vista, graças aos derivativos e a
toda a restante variedade de instrumentos bancários. Quanto mais os bancos
centrais impõem restrições monetaristas à emissão de M, tanto mais os banqueiros
e as suas equipas de economistas se dedicam a prodígios de imaginação para
multiplicar os substitutos monetários.”
495 - Mais uma
coisa que faz sentido. O mercado que pode mudar de um país para o outro seus
recursos parece ser bem sensível ao curto prazo. Afinal, o sonho é ter lucro
sempre. Se o espaço/país não está servindo, muda-se de espaço/país em vez de
esperar a recuperação...
496 - ...Por
isso: é importante saber que, segundo um
estudo recente de Carlo Cottarelli e Laura Jaramillo, dois economistas do FMI,
uma política de austeridade fiscal que comprometa as perspectivas de
crescimento a curto prazo pode ampliar o custo do serviço da dívida em vez de o
reduzir, porque os mercados parecem preocupar-se mais com o curto do que com o
longo prazo. E assim uma austeridade fiscal demasiado agressiva, com um impacto
negativo no crescimento económico, em vez de diminuir a taxa dívida / PIB,
poderia aumentá-la. Reduzir a dívida tem que ser uma maratona; e não um
sprint, afirmam.
497 - No terceiro
artigo da série, deixa claro que o Estado de Bem-Estar Social, advindo do Plano
Marshall para frear o comunismo na França e Itália especialmente, serviu, na verdade, à burocratização do
movimento operário: “Nesta modalidade de
neocorporativismo informal, os sindicatos e os administradores de empresa
firmavam acordos colectivos que definiam a taxa de aumento salarial e o
crescimento da produtividade, e os ministérios económicos ajustavam a esses
acordos a emissão monetária e as taxas de juro.” Isso me lembra o Brasil
atual.
498 - Entre 1995 e 2000 a taxa anual de
crescimento do Produto Interno Bruto, PIB, português oscilou entre um máximo de
5,1% em 1998 e um mínimo de 3,7% em 1996. Ora, esta considerável expansão foi
acompanhada por dois estímulos: o incentivo ao consumo e os défices. E a
FBCF foi de 23 para 27%. O desemprego foi de 7 para 4%. Os juros reais foram de
6 para praticamente zero.
499 - Nos anos
seguintes os déficits continuaram, o crescimento da dívida também, porém, o
crescimento foi minguando (e todos os demais índices piorando… FBCF…
Desemprego… Poupança das famílias...) até chegar a recessão. Agora sequer são
possíveis o “rekeynesianismo”, afinal, não dá mais para se endividar.
500 - Outra consequência dos estímulos no caso
português, que me interessa aqui de maneira muito especial, foi terem levado a
um crescimento dos salários sistematicamente superior ao crescimento da
produtividade e, por conseguinte, terem como resultado a perda de
competitividade.
501 - Um dos
motivos disso, para JB, seria a baixa instrução dos patrões. Segundo o Instituto Nacional de Estatística,
em 2010, 9% dos patrões possuíam curso universitário, contra 19% dos
empregados. Além da discrepância entre o nível de instrução da população activa
portuguesa e a média europeia, regista-se o facto anómalo de os empresários
portugueses terem um grau de instrução inferior ao dos seus empregados,
tendendo a diferença a aumentar. Estas percentagens esclarecem muita coisa
acerca da travagem dos mecanismos da produtividade em Portugal.
.
Comentários
Postar um comentário