João Bernardo - O Mito da Natureza (PP), a Réplica, a Tréplica e a Quadréplica - Parte III

(continuação...)

531 - JB, em seu artigo-resposta, crê que a existência de instrumentos pecuniários (dinheiro) não tem nenhuma relação obrigatória com exploração. É cético quanto a possibilidade de sociedade sem o mesmo, por exemplo.

532 - Os desbravamentos na Idade Média eram recursos dos camponeses! Tentando fugir do controle dos senhores feudais. “Enquanto duraram, e mesmo sob a alçada dos senhores, os desbravamentos foram uma das mais importantes válvulas de escape das tensões sociais, até se chegar em muitas regiões a uma crise drástica de escassez da madeira. O que ocorreu foi uma crise ambiental provocada pelas contradições inerentes ao modo de produção senhorial e pelas lutas sociais nesse modo de produção. Foi a partir de então que se recorreu ao carvão mineral.”

533 - JB afirma que o rendimento pessoal e o nível alimentar das camadas mais pobres - inclusive africanas - cresceu durante o último século. Crê que a mecanização da agricultura teve um papel nisso. Adverte que isso não signfica diminuição da desigualdade (óbvio).

534 - O problema aqui é que Mix confunde a divisão do trabalho com o controlo exercido sobre o trabalho alheio. Mix não parece conceber a possibilidade de uma divisão cooperativa do trabalho e parece admitir que a divisão do trabalho levará sempre ao controlo sobre o trabalho alheio.

535 - É significativo que, apesar de sistematicamente desmentidas pelos factos, as teses ecológicas do esgotamento da natureza pela indústria continuem a ser repetidas. Seria bom que os ecologistas lessem as previsões catastróficas do Clube de Roma feitas na década de 1970 e as comparassem com o que realmente sucedeu.

536 - JB afirma que vários povos antigos foram extintos por mero esgotamento dos recursos naturais que utilizavam. Grandes migrações também se davam justamente por isso.

537 - Ora, Mix critica-me por eu considerar que o socialismo moderno — eu especifiquei «moderno», palavra que Mix omitiu — nasceu da constatação de que a humanidade chegara a um nível tecnológico que permitia a superação do reino das necessidades e o acesso à abundância. Mix argumenta que o socialismo nasceu apenas da constatação das grandes desigualdades. Se isto fosse exacto, então o socialismo moderno não se teria distinguido de uma grande parte das heterodoxias religiosas surgidas no âmbito do cristianismo, que se insurgiram contra a desigualdade e pretenderam ultrapassá-la não no Reino dos Céus, mas já neste mundo. Foi o surto tecnológico operado a partir dos finais do século XVIII que permitiu converter aquele comunitarismo arcaico num socialismo de novo tipo, começado a formular no segundo quartel do século XIX.

538 - Um comentador levante a seguinte objeção a JB: “De fato, plantação agroecológica é mais produtiva por área do que a monocultura sob o controle do agronegócio, com todos seus insumos¹. É certo que o agronegócio requer menos pessoas para cultivar diretamente uma porção de terra, mas parte do trabalho necessário foi realizado por diversos outros trabalhadores na produção das máquinas, na preparação dos insumos, no transporte dos materiais.

539 - Há uma polêmica sobre agrotóxico que, pra mim, JB defende baseado num argumento duvidoso, o de que a taxa de mortalidade deveria necessariamente ter aumentado com a generalização desse tipo de agricultura. Ora, os efeitos nocivos podem ter sido simplesmente contra-balanceados por as inúmeras evoluções sanitárias e medicinais recentes.

540 - … Aliás, JB afirma, ainda, o contrário, que os agrotóxicos, por aumentarem o consumo alimentar de inúmeras populações (já que tornaram mais fácil e abundante o plantio e, assim sendo, diminuindo os preços) ajudaram a reduzir a mortalidade, o que já é outra coisa ainda mais difícil de provar.

541 - Outro comentador coloca “Sobre a questão da agroecologia, acho que ela é válida dentro de algumas iniciativas de luta como elemento agregador, eventualmente como gerador de renda que atenue as dificuldades materiais, mas dificilmente pode ser colocada como meta estratégica e nem ser generalizada para toda a sociedade”.

542 - JB responde a crítica do primeiro comentador colocando que também os “inputs” são produzidos com alta produtividade (poucas pessoas). Vejo uma certa razão no comentador quanto à questão da superfície, no sentido de que o “extermínio pela fome” é, então, uma viagem de JB. Até pela questão da produção pro superfície. Apenas teríamos mais gente no campo que hoje em dia.

543 - (Agora… De fato… abdicar de tecnologias de alta produtividade para uma de baixa é manter desnecessariamente, talvez, pessoas presas a um trabalho que poderia ser qualquer outro ou até mesmo nenhum. Seria melhor cem pessoas (agroecologia) produzindo 1 tonelada de feijão em oito horas ou cem pessoas (agricultura ultramecanizada) produzindo a mesma quantidade em 2 horas e podendo fazer qualquer coisa nas outras? Não sei se a diferença de produtividade é tão grande assim. É só um exemplo).

543 - Quanto à segurança no trabalho, além de ter seu nível condicionado pelas lutas sociais e correlações de forças que geram estas, possui uma lógica econômica bem flagrante como demonstrou JB: “Com o desenvolvimento económico, o aumento da produtividade do trabalho e o aumento das qualificações dos trabalhadores, passa a ser mais rentável para os patrões arcar com custos de segurança do que deixar morrer a mão-de-obra.”

544 - A autora, através de pesquisa de campo em alguns assentamentos, constata que nestes a preocupação ecológica era mais acentuada não nos assentamentos formados exclusivamente por pessoas que mantiveram laços de relação com a terra, mas ao contrário, nos que eram formados por assentados que tiveram algum tipo de experiência de vida nas cidades.

(continua...)

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